quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AI JOYCE, JOYCE!...

«Engolido o vinho irradiante lhe cruzava o céu-da-boca. Espremido nos lagares de uva da Borgonha. E o calor do sol. Parece um toque secreto contando-me recordações. Tocados seus sentidos humedecidos relembravam. Escondidos sob os fetais silvestres de Howth. Debaixo de nós a baía dormente céu. Nenhum som. O céu. A baía púrpura perto do cabo Leão. Verde por Drumleck. Verde-amarelo rumo a Sutton. Campos submarinos, linhas de um pardo desmaiado por entre a relva, cidades enterradas. Almofadada no meu paletó tinha ela sua cabeleira, fura-orelhas em sarças de urze minhas mãos sob a sua nuca, tu vais me despentear todinha. Oh maravilha! Frescamaciadas de bálsamos suas mãos me tocavam, acariciavam: seus olhos sobre mim não se me refugiam. Arrebatado sobre ela eu jazia, os lábios todos todo abertos, beijava sua boca. Ããm. Suavemente ela passava para a minha boca o torrão quente e masticado. Polpa asquerosa sua boca lhe emprenhara dulçor e agrura de saliva. Alegria: comi: alegria. Vida juvenil, seus lábios me davam num abrocho. Macios, quentes, gomigelatinosos lábios grudentos. Flores eram seus olhos, me toma, olhos querentes. Seixos rolavam. Ela jazia queda. Uma cabra. Ninguém. Alto entre rododendros do Ben Howth uma cabrita saltando certípeda, soltando passas. Encoberta entre fetos ela ria braçoenvolta. Selvagemente eu jazia sobre ela, beijava-a; olhos, seus lábios, seu pescoço reteso, pulsando, peitos de fêmea plena em sua blusa de véu de monja, mamilos cheios ponteando. Quente eu a linguei. Ela beijava-me. Eu era beijado. Tudo rendendo ela emaranhava meus cabelos. Beijada, ela beijava-me.
Eu. E eu agora.»