domingo, 22 de agosto de 2010

Peça Ensaística Trigésima Quinta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


A UTOPIA
Ou a Memória do PORVIR.
E, por que não, o Sonho Eterno de uma
Outra SOCIEDADE

Donde, neste momento, quão asado e, ipso facto,
Por ser a
A HORA DE TODAS AS VERDADES
Se impõe, a todos nós, sem excepção,
ESTUDAR a
UTOPIA de THOMÁS MORE

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


NP:

                Quando, no início do século XVI, o político e escritor inglês, São TOMÁS MORE (1478-1535), escreveu a sua UTOPIA, aparece, pela primeira vez, a ideia de promessa de uma Sociedade Maravilhosa.
                Utopia, Cidade justa e harmoniosa, em parte alguma, existe. Todavia, ao descrevê-la, nos seus menores pormenores, como o invés do “perfeito”, MORE cria um instrumento de Sátira social, jamais igualado.
                De feito, UTOPIA (melhor dito: De optimo republicae statu deque nova insula Utopia libellus) publicada em Lovaina, em 1516 teve um impacto, de imediato e enorme. Trata-se de uma obra escrita, em latim, na sequência de uma missão diplomática de MORE em Flandres.

                E, em breve Sinopse:
                UTOPIA, não é nada mais, nada menos, que o nome de uma Ilha Imaginária em que todos os momentos da existência individual e social são governados pela Razão.
                Por seu turno, o Narrador da Obra, um viajante, de nome RAPHAEL HYTHLODAY, vai descrevendo essa Sociedade comunista, estabelecendo, concomitantemente um cotejo, com uma Europa dividida, minada pela ganância (caminhando sob o signo, de um egoísmo feroz).
                Enfim e, em suma: MORE, possui uma clara intenção crítica, (aliás, mesmo satírica), em que a Ironia e a Seriedade, se entrelaçam constantemente.

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(1)        Estudar, avisadamente a construção e o conteúdo de UTOPIA representa, por conseguinte, um real interesse, pois que visa restituir a TOMÁS MORE o seu devido, outrossim e, ainda, em conhecer a Abertura sobre possíveis e a Invenção de um suporte privilegiado, que consegue, durante séculos, a fixar a imagem de um possível EDÉN na Terra, sem deixar de lhe acordar a dúvida acerca de eventuais veleidades totalitárias, ou ainda acerca da sua hipotética responsabilidade no reforço do utilitarismo doutrinário.
(2)        De feito, o jogo utópico de MORE, enquadrado pelo real e o imaginário, designa uma Personagem, exactamente (tal e qual, quiçá “culpado”) de ter tornado verosímil uma configuração social até então impensável, deixando na esteira da História um vestígio indelével, uma visão de Felicidade colectiva, enfim uma autêntica Memória do Porvir.
(3)        Eis porque, por conseguinte, deve ser dissociada da Obra em si mesma, a volatilidade de um conteúdo, que ia responder aos afectos e aos fantasmas de uma militância, assaz radical em busca da legitimidade ideológica e organizacional.
(4)        De sublinhar, com ênfase, na verdade, com a construção utópica, MORE oferecia aos seus contemporâneos a possibilidade de escapar, de uma só vez (a um tempo) ao caos histórico e integrar uma “Cidade sabiamente organizada”, situada fora do tempo material.
(5)        Todavia, rasurar as imperfeições não significa regredir, nem regressar à uma Idade de ouro mítica ou, então, à Sociedade tradicional medieval. Sim, efectivamente, expurgada dos seus males, UTOPIA forjada à partir dos valores de uma franja Humanista (em que o literato, Sábio e Filósofo Holandês, natural de Roterdão, DESIDÉRIO ERASMO (1466-1536), era uma figura magna, aliás, uma referência moral e humanista, na época), perscrutava, para a frente, uma assunção eterna e imutável, se investindo aquém da História.

(…)

                                Sim, de facto, a feliz Ideia de se apoiar, na ficção (ou seja: Num Mundo perfeito, geograficamente inexistente), para formar o húmus de uma reflexão filosófica sobre a Organização Humana representa, efectivamente a Primeira Abertura consequente sobre a Realidade. De anotar, todavia, que o Efeito de perspectiva é, ainda intensificada quando MORE faz, de modo quão consciente, intervir a figura de escrutinador, inventando (quiçá, melhor dito, criando), o Navegador testemunha, confiando-lhe o inteligente papel de despertador (…), visto que visitou o outro Mundo, o de, em parte alguma, descoberta que lhe permite estabelecer uma fria e dura comparação com os países europeus, legitimar as suas críticas e as suas dúvidas acerca da qualidade do seu devir respectivo. Eis porque a personagem simbólica, de contador generoso que era, se torna, no livro primeiro, visionário e tribuno.

                                E, encurtando razões, de feito, o subterfúgio da argumentação comparativa, orquestrada entre o descobridor/inventor, RAPHAËL HYTHLODEE, personagem fictícia e os seus principais ouvintes/contraditores, o Autor e Pierre GILES, personagens reais, permite ao platónico THOMÁS MORE elaborar um balanço dos homens políticos, apelando para os seus votos, o caucionamento de uma certa elite junto dos Príncipes para favorecer a constituição de um Estado virtuoso, sob o seguinte Lema: “[…] Utilizai a vossa inteligência e o vosso savoir-faire em benefício da coisa Pública”.

Sucinto Perfil de THOMÁS MORE (Londres, 1478 -1535, Londres):

Este incontornável político e escritor inglês, após Estudos, que realizou junto do Arcebispo de Cantuária, o cardeal MORTON, estudou Direito, em Londres e tornou-se amigo de vários Humanistas, entre os quais, ERASMO (que escreveu o Elogio da Loucura, durante uma estadia, em sua casa).
                Traduz do Grego e do Latim diversas obras significativas e escreve, outrossim Poemas em inglês. Inicia, concomitantemente, uma Carreira política, que o conduz ao Parlamento e ao Cargo de UNDERSHERIF da Cidade de Londres.
                Toma parte em relevantes Missões Diplomáticas e, em 1521 é feito Cavaleiro. Desde então é um Servidor do Rei, Henrique VIII (de corpo e alma) e, em 1529, torna-se Chanceler de Inglaterra.
                Todavia, a vontade do Rei de declarar nulo o seu matrimónio com Catarina de Aragão e o seu ulterior casamento com Ana BOLENA (casamento que MORE não quis assistir) e a recusa em aceitar o Rei como chefe da Igreja de Inglaterra, deram origem a um Processo, que culminaria com a sua prisão, na Torre de Londres, onde escreve, um dos seus mais Belos Textos (Dialogue of Comfort against Tribulation, 1534) e a sua Condenação à morte. Considerado mártir, foi canonizado em 1935.

                THOMÁS MORE é autor de um enorme conjunto de Escritos. Pela relevância Literária que adquiriram, salientamos dois (2):
                --- O Primeiro é a História de Ricardo III (1513-14), escrita em Latim e depois em Inglês, constitui uma fonte importante de trabalhos posteriores, designadamente da lavra de W. SHAKESPEARE.
                --- O Outro é a UTOPIA (1516), outrossim escrito em Latim, após uma missão diplomática em Flandres. De referir, que o vocábulo Utopia é oriundo do Grego que, na sua essência primordial significa: “não lugar”, tendo THOMÁS MORE o recriado para designar o conforto insular imaginário, em que se pratica a comunidade dos bens descrito ficcionalmente na sua célebre Obra: DE OPTIMO REPUBLICAE STATU DEQUE NOVA INSULA UTOPICA.

Lisboa, 21 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).