quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Peça Ensaística Trigésima Quarta, no âmbito de

Na Peugada de
NOVOS RUMOS:

Ainda acerca do “histórico” discurso de Nicolas SARKOZY, a Dakar:
Parte Quarta:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Antes de mais, para Principiar, de modo firme e, assaz consequente, um Grito histórico:

KIA é uma expressão samo (do nome de uma etnia do BURKINA FASO),
Que convida à coragem, ao combate. É o autêntico
GRITO DE GUERRA,
Que o saudoso Professor JOSEPH KI-ZERBO, legou a todos os
Africanos e, por extensão óbvia, a todos os
Oprimidos do Planeta, sem excepção.
Donde, então, clamemos Todos (em uníssono):

KIA! KIA! KIA!
                                                É a HORA!

(1)         Como o recorda, aliás, (assaz bem), o jornalista e ensaísta francês, Dominique VIDAL (n-1950): “desde a eleição de Jacques CHIRAC à Presidência da República, em Maio 2002, os subúrbios foram as primeiras vítimas das reduções orçamentais implantadas em nome do sacro santo pacto de estabilidade da União europeia”. E, lucidamente, acrescenta o seguinte: “jamais os eventos de Clichy-sous-Bois não teriam tido tais repercussões se os bairros ditos sensíveis não estivessem achados na encruzilhada de três crises exacerbadas: uma crise social, uma crise pós-colonial e uma crise de representação política”.
(2)         O mesmo se pode asseverar acerca dos recentes fluxos migratórios para a Europa:
a.       Jamais jovens originários do Mali, do Senegal, dos Camarões ou da Costa do Marfim, seriam reconhecidos como um único homem as portas da Europa, em Ceuta e Melilla ou a bordo de embarcações de recurso, que, frequentemente os conduzem para a morte, se o FMI e o Banco Mundial não tivessem infligido, ao longo de vinte anos, aos (países dos quais são originários) “o remédio forte” do ajustamento estrutural, que baralhou os símbolos de referência e aniquilou vidas. Demais, por outro, de um e de outro lado de Mediterrâneo, Jovens compartilham o insucesso escolar, a ociosidade e a desocupação e o sentimento de inutilidade.
(3)         Eis porque, importa federar as lutas, sublinhando que, na verdade (e, por certo), a exploração, a injustiça e a miséria humana oferecem, presentemente um novo rosto, com a caça ao imigrante indesejável, no entanto, nada de novo existe sob o Sol. Com efeito, nas sociedades industrializadas da Europa, desde o século XVIII, as classes populares tiveram direito, em graus diversos, manter à distância: a suspeita e a estigmatização, pois que:”o pobre urbano é descrito como perigoso, desde que não consegue, não pode, ou não quer se disciplinar, enquanto assalariado. O ideal policial, de qualquer época da sociedade industrializada consiste, numa sociedade organizada e estável”, segundo exara Salvatore PALIDDA in La criminilisation des migrants” (1999).
(4)         De anotar, assertivamente, que os pobres das cidades são, mesmo assimilados às pessoas das colónias, isto é, como “perigosos inimigos da nossa civilização”, “novas etnias rebeldes”, “verdadeiros Negros Brancos” mais temíveis que os numerosos bárbaros aos quais as tropas francesas foram coagidas a se confrontar, no Ultra-mar da Algéria e de Marrocos” (Ibid.).
(5)         Eis porque, efectivamente, a verdadeira e autêntica resistência deve ser assumida, no âmbito local, regional e global, visando opor às devastações e as regressões do modelo dominante. Ela se concebe e se constrói à luz das diversas situações, entretanto, semelhantes quando se considera a natureza das conexões de força que as subentendem.
(6)         Aliás, de consignar, que a verdade acerca do custo social, económico e ecológico da globalização é doravante uma questão de Paz e de guerra, de vida ou de morte. Acreditando, nos dirigentes europeus, os 25 devem quedar solidários, como o sublinha, Franco FRATTINI, COMISSÁRIO europeu encarregado das questões de Liberdade, Segurança e Justiça: “Il faut des avions, des hélicoptéres et des bateaux, et des experts, et des moyens pour renforcer l’action de Frontex, une agence balbutiante que ne peut rien résoudre sans moyens”, palavras (de uma violência extrema), proferidas pelo senhor FRATTINI, em Setembro 2006. Sem comentários!


Todavia e, sem embargo, há, ainda, mais auxeses, exorbitâncias e desmandos a ter em conta, obviamente. Ou seja:
(A)         O naufrágio dos jovens oriundos de África, aos milhares, constitui o corolário lógico desta guerra (quão estulta e, assaz execrável), que as “elites” políticas (melhor dito, os profissionais da política) não querem ver (?), nem interpretar como tal. Estes náufragos, (como os que tomaram de assalto, os gradeamentos de Ceuta e Melilla), proceder-se-iam, de outro modo, se estas “elites” e os dirigentes europeus outorgassem aos Africanos meios (límpidos e transparentes) para discutir a situação do Continente Africano, num Mundo em franca e assunada ebulição. As Mulheres que morrem para e, por vezes, juntamente com os seus filhos, têm o direito de saber, para puderem lutar, de uma outra forma e modo, com uma pronta e segura eficácia.
(B)         Sim, efectivamente, a Imigração familiar, não incomoda e importuna, unicamente pelo facto da sua não rentabilidade económica. Ela se traduz por crenças, formas de estar e de viver que, se alardeando, provocam dissensões em relação ao que, algumas pessoas denominam: o viver juntos francês, como se este insinuasse no mármore. De feito, sem sombra de dúvida, a violência das leis francesas visa, outrossim, as culturas, na qualidade de instrumento e meio privilegiados de Resistência, reivindicação e reconstrução do seu passado, do seu presente e do futuro, acima de tudo.

Finalmente, em jeito de Remate:
                                                                                               
                                                                                Na verdade e, na realidade, o discurso de Nicolas SARKOZY, a Dakar (Senegal), que foi abertamente injurioso e ofensivo, quaisquer que tenham sido os propósitos aduladores nos quais ele o disfarçou, é apenas a expressão do seu aferrado e obstinado menosprezo para com a África. É, aliás, outrossim uma forma subtil de desarmar os Africanos e, por extensão, os oprimidos ante ao assalto que ele congemina, sub-repticiamente levar a cabo, no quadro da conquista de segmentos de mercado para os grandes investidores franceses, (vindos numerosos) a Marrocos, com ele, em Outubro 2007.

                                                Pois é! Pois, pois!
                                                                Na verdade, os factos falam e cantam por si!

Lisboa, 18 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).