Na Peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser Libre”
José MARTÍ (1853-1895).
O Saber da Vida:
NP:
Tradição oral e tradição escrita designam duas formas de Comunicação linguística, que, por seu turno, definem duas
Formas de Sociedade Humana.
Segundo o Etnólogo e Linguista africanista francês, o professor, MAURICE HOUIS (1923-1990):
a) Oralidade é a propriedade de uma comunicação realizada a partir (de modo privilegiado) de uma percepção auditiva da mensagem.
b) E, Escritura é a propriedade de uma comunicação realizada a partir (de assunção privilegiada) de uma percepção visual da mensagem.
Posto isto, vamos ao Tema, propriamente dito:
(1) As sociedades da oralidade não possuem jornais. Todavia, o seu equivalente, a Informação Comunitária, que vai (só de ouvir falar) relega os problemas técnicos na rubrica verbal dos “aos lados” da verdadeira vida, ao contrário das sociedades que se dizem, mais “civilizadas”, na acepção que eles investem, prioritariamente, nas obras da Civilização. Isto nos leva a asseverar que, em contrapartida, as Sociedades agrárias são mais “cultivadas” que as sociedades industriais. Já agora, antes de mais, vamos explicar, adequadamente as ideias e os factos, que se nos afigura, assaz relevantes para um melhor entendimento desta nossa peça ensaística:
a. De feito e, sem dúvida nenhuma, Produção e Gestão correspondem a um pólo da realidade social, ao contrário do qual se situa o pólo da Cultura, entendida esta na acepção, que os Antropólogos contribuíram pela sua imposição, ou seja, do que, ao invés da técnica personaliza os Povos e edifica a sua Identidade, marca da sua diferença. Este Pólo se assume mais do lado do Ser, enquanto, por seu turno, o da Civilização está do lado do ter.
(2) Vale a pena, neste ponto, abordar duas novas funções. Estamos, óbvia e concretamente a referir as funções da Reprodução e da Representação. Eis, deste modo (presentemente) fora dos standarts e das escolhas convencionais. De anotar, que estes níveis, não são manipuláveis, visto que não derivam da vivência imediata, da espontaneidade criadora dos Povos. Cada Sociedade possui, por conseguinte, o seu sistema de Reprodução constituído pela família e, outrossim, por tudo quanto ela representa de “vida privada”, de tarefas e deveres. Numerosas sociedades viveram e vivem ainda sem outra instância de organização económica e política que o parentesco alargado (As “Sociedades contra o Estado”).
(3) Donde, deste modo, se impõe, sublinhar, com ênfase, que a tarefa maior desta instância é, por conseguinte, a da Reprodução, não unicamente biológica, mas “cultural” As “transferências” se denominam, neste caso (em concreto), de Tradição, que se designa, outrossim, por “endoculturação” (por oposição à aculturação) e constitui matéria de cada geração em presença da seguinte.
(4) De consignar, por outro, que neste caso em apreço, não é a Escola (a ferramenta de “Gestão”) que transmite a Língua. Sim, efectivamente, o meio familiar e, deste modo, toda a “prática” elementar. A complementaridade dos sexos e a repartição das tarefas masculinas e femininas se estabelece a este nível, identicamente que as formas fundamentais da Autoridade, vinculadas à filiação.
Antes de mais, se antolha pertinente e oportuno, trazer à colação o conteúdo de verdade da Posição/Tese do insigne filósofo e escritor francês, o Professor, MICHEL HENRY (1922-2002), que se prende, de modo, assaz eloquente, com a conexão existente entre Cultura e Vida:
“Le problème de la culture, …ne devient philosophiquement intelligible que s’il est délibérément référé à une dimension d’être où n’interviennent plus ni le savoir de la conscience ni celui de la science, qui en est une forme élaborée, s’il est mis en relation avec la vie seulement... La culture est l’autotransformation de la vie.
« En tant que la culture est la culture de la vie et repose sur le savoir propre de celle-ci, elle est essentiellement pratique. Elle consiste dans l’autodéveloppement des potentialités subjectives qui composent cette vie... »
E, finalmente, um tanto ou quanto, em jeito de Remate assertivo, temos que:
1) A “autotransformação da Vida” conduz as Sociedades a elaborar, no âmbito do seu Imaginário, a partir dos dados dos Sentidos, uma Visão do Mundo, na sua totalidade, ou seja, a se representar uma ordem cósmica, na qual elas estão inclusas.
2) Sim, efectivamente um sistema de expressão simbólica, marcado pela sua Estética peculiar e sui generis, selo da sua originalidade, pertencente à cada Sociedade.
3) Com efeito, esta Ordem do Mundo e o material imaginário (do qual ela se serve para lhe dar forma) exprimem o seu sistema de valores, ou seja, as Finalidades da Vida individual e Comunitária, em relação com as potências superiores, das quais Ela depende. É, de facto, a este nível, alheia à ideologia (como à Ciência), exteriorizada, geralmente pelos mitos e pelos interditos, que as Orientações e as escolhas dos outros níveis encontram a sua origem e a sua legitimidade.
Lisboa, 18 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).