Na Peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
Acerca da TRANSFERÊNCIA DAS TÉCNICAS:
Em jeito de breve EXÓRDIO:
Com efeito, o Problema em apreço não é novo. A Escola difusionista, desde o dealbar do Século XX pretérito, contribuiu sobremaneira, na demonstração como os traços técnicos e culturais passaram de uma Sociedade para a outra e puderam atravessar os Continentes, amiúde, sem sofrer transformação relevante. Deste modo, uma certa forma de atar a corda à madeira do arco se propalou entre os grupos muito apartados uns dos outros. Donde e daí, evidentemente, o equipamento tecnológico das Civilizações constitui, ipso facto, um Património, em parte comum.
Demais, por outro, tal como ela se coloca, presentemente (nos nossos dias de hoje), a questão das transferências de Tecnologia assume, todavia, características novas em relação ao que se desenrolou no decurso dos milenários precedentes. Com efeito, a Civilização Ocidental, que se estendeu à partir do Próximo Oriente antigo, onde já havia sido inaugurado o período neolítico, marcado pela Agricultura e Pastorícia (leia, outrossim, criação de gado), desenvolveu, sobretudo, desde o que se denomina: Revolução Industrial do Século XIX, dos Meios de Transformação da Natureza, cuja vastidão, extensão e complexidade (que não têm nada a ver) com o conjunto de ferramenta técnica das Civilizações Agrárias, que caracterizam uma boa parte do resto do Mundo.
Enfim e, em suma:
A transferência industrial já não releva da propagação por difusão. As Sociedades, que adoptaram a foice (já utilizada pelos seus vizinhos), eram, relativamente homogéneas. Eis porque, adoptaram, concomitantemente o consumo e a produção. Presentemente (nos nossos dias de hoje), se adopta, por toda a parte, o veículo, por exemplo, sem que, por essa razão, este País se ponha a construir automóveis.
(I)
Entre o uso e a produção, existe um abismo que as transferências da Tecnologia pretendem colmatar (pelo menos), em princípio. De salientar, que o mundo industrial, com efeito, guarda ciosamente técnicas de fabrico. Na verdade, os Países desenvolvidos protegem os conhecimentos registando patentes, visto que o seu poder se apoia, antes de tudo, na sua capacidade de inovação tecnológica.
Este arrazoado, ora expendido, nos faz lembrar a Pitonisa de Delfos, pois que os peritos internacionais se comportam, do mesmo modo, em relação aos Povos Africanos e, não só. Ou seja: Libertam os seus Oráculos, asseverando: “Não tenham medo, ocupamos dos vossos problemas, confiem em nós”.
De feito, graças à Pitonisa, os Gregos mantiveram (se assevera), os Povos do Mediterrâneo sob a sua dependência durante séculos. De anotar, que o DELFISMO se prossegue, na modernidade, sob formas mais subtis, visto que, efectivamente, a Transferências das Tecnologias não é uma questão neutra.
Não se nos afigura, pertinente e oportuna, nesta nossa Peça Ensaística, tratar esta relevante questão, de forma política. Todavia, por razões, assaz óbvias, não é possível ignorar o contexto no qual ela se opera. E, comungando, criticamente, com o arqueólogo, paleo-antropólogo e antropólogo francês, André LEROI-GOURHAN (1911-1986): “Un savoir-faire technique n’est pas isolable de plusieurs ensembles. Ou seja: de um conjunto técnico propriamente dito, de um conjunto económico, em seguida, sobretudo, de um conjunto cultural.
Continua…
Lisboa, 21 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).