quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Peça Ensaística Quadragésima Sétima, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser culto
José MARTÍ (1853-1895).


“Raça” e “Racismo”
Continuação:

                Demais, esta (referindo-se, obviamente à Filosofia) se interrogou, de forma, assaz reiterada, acerca da legitimidade da oposição “Civilizados/Bárbaros”. Foi, precisamente o escritor francês, Michel de MONTAIGNE (1533-1592), de todos os Pensadores do Renascimento, o mais próximo da mentalidade moderna, que sublinhou a barbárie dos Europeus durante as Guerras Religiosas ou contra os Índios da América.
                Por seu turno, o filósofo e matemático alemão, Gottfried Wihelm LEIBNIZ (1646-1716), considerado o maior Filósofo alemão do século XVII e um dos grandes génios da Cultura Humana, quem se interrogou, de modo avisado, perante as certezas do filósofo empirista, Jonh LOCKE (1632-1704) acerca do grau de barbárie dos supostos “bárbaros” e dos “civilizados”. Deste modo, temos nas pessoas (e obras respectivas), quer de LEIBNIZ, quer de MONTAIGNE, dois bons exemplos de crítica do “Etnocentrismo”.
                De anotar, que esta postura alusiva conduz, simultaneamente à julgar um grupo segundo critérios, que não são os seus (por exemplo, censurar os politeístas de ser idólatras) e, em se iludir acerca do que se desenrola no interior do seu próprio grupo, da sua própria “etnia”, denunciando atitudes ou comportamentos semelhantes nos outros. De facto, alguns dos conquistadores do Novo Mundo (que prosseguiam na América a sua cruzada contra os Judeus e os muçulmanos), viam nos Índios (“selvagens”) os responsáveis de determinadas práticas violentas, entretanto, olvidavam as brutalidades extremas das Guerras Religiosas, na Europa.

                Relevar que tradições, outrossim a rejeição do racismo (com argumentação a favor da desigualdade das raças) constituem tomadas de posição, que remontam até à Antiguidade e que não implicam, contudo a continuidade, no âmbito desta história. Deste modo, seguindo um autor, como o filósofo francês, MICHEL FOUCAULT (1926-1984), ir-se-ia no sentido de um sublinhar da especificidade do racismo moderno, que aparece como contemporâneo do advento da Noção da “degenerescência” em Psiquiatria (a qual é contrária à “degeneração”dos autores do século XVIII, situação de carácter irreversível).
                Eis porque, por conseguinte, o racismo seria uma Ideologia da idade da Ciência vinculada à uma transformação idêntica da concepção política, que vê nascer a “Bio Política”, isto é, uma Política que se envida organizar a vida do Homem, enquanto ser vivo, se preocupando com o seu bem-estar, com a sua Saúde, com a Higiene Pública, decidindo quem deve viver e quem deve morrer. Pode-se discordar dessa especificação do racismo, encarado como algo vinculado às disciplinas modernas e procurar, se escudando em FREUD, as origens do racismo, no âmbito da própria dinâmica de constituição das massas, que se homogeneízam, tanto mais, se elas possuem um inimigo para destruir.

                Finalmente, de consignar, que uma outra interrogação no atinente à especificidade do racismo contemporâneo incide sobre a continuidade entre a crítica aos Judeus (por eles não terem reconhecido a Divindade de Jesus Cristo) e a persecução que foram vítimas, por “considerados”, como pertencendo a uma raça “inferior” e, por este facto, constituiriam uma forte ameaça para a raça “superior”e, ante este “estatuto” deveriam ser exterminados até à sua derradeira progenitura, obviamente.

Lisboa, 15 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).