sexta-feira, 30 de julho de 2010

Peça Ensaística Vigésima Quinta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                                    Nota Previa:
            Entre os eventos, os mais significativos, que marcaram as derradeiras décadas do Século XX passado, pode-se, muito provavelmente, estar entre eles, a verdadeira “explosão” dos contactos entre povos e culturas.
            Com efeito, neste sentido temos a referenciar o seguinte:
(1)               Tanto ao nível internacional, através da incessante circulação de produtos materiais e mentais, modelos e pessoas.
(2)               Como, outrossim, no próprio seio dos dissemelhantes países, em que o Social se encarrega da dimensão multicultural, pela presença de populações oriundas de todos os Continentes.
(3)               É, deste modo, aliás, que a Europa conta, quase doze milhões de emigrantes, que, conquanto, suscitando debates, tensões e reacções, naturalmente xenófobas, não sustentam menos, uma realidade a ter em conta, visto que, um grande número permanecerá, no país de acolhimento com os seus filhos e, anseiam, obviamente encontrar uma inserção social e profissional adequada.

Enfim e, em suma, de sublinhar, que:
Esta realidade, quaisquer que sejam os sentimentos que inspira, deve ser considerada, como incontornável, visto que ela é, em nada, conjuntural. Sim, efectivamente, resulta de um fenómeno fundamental: A constituição de um campo Humano Planetário devido à intricação, sem interrupção, crescente dos projectos, problemas e ensaios de solução de todos, à que se acrescenta a facilidade e a intensificação estupefacientes dos meios de Comunicação.

Posto isto, vamos, então abordar um tema bastante actual e, que se prende, com a relevância que assume, o Conhecimento da Cultura de Origem pelos emigrantes.

Todavia, antes de mais, um Ponto prévio, para principiar:
Deve-se encorajar esta démarche de Conhecimento, este esforço de ordem etnológica e antropológica que confere Abertura ao Mundo e revitaliza os seus modos de ver e de fazer.

(A)    Com efeito, demasiado, frequentemente, não se procura a informação adequada, mesmo se supõe a origem cultural de certas condutas, atitudes e costumes. Trata-se, efectivamente, de uma forma de actuar e agir, a rejeitar, por motivos e razões óbvios. Eis porque, se nos afigura, apropriado, a positiva ideia que visa privilegiar, que um dos primeiros informadores pode (aliás, deve mesmo) ser, amiúde, o próprio migrante.
(B)     De feito, o interesse que se atribui à sua cultura, ao seu país, à sua aldeia, ao seu costume, aos seus objectos e à iconografia da sua casa, não lhe é indiferente. Muito, pelo contrário, aliás, pois que lhe vai directo ao coração e, lho manifestar, sem dúvida, antes os seus olhos, tanta paz, como, outrossim um apoio assaz concreto. Ganha-se, com isso, evidentemente, não apenas, uma confiança mais autêntica e mais aprofundada, outrossim e, ainda, um relacionamento mais simétrico em que o migrante já não é apenas o que recebe, mas o que traz algo, ao dar a conhecer e fazer reconhecer a sua Cultura, que forma a trama da sua Identidade Social e Cultural.
(C)     De anotar, avisadamente, que mesmo se ele ignora o sentido dos seus costumes, mesmo se ele só responde através de uma linguagem pobre, o que ele exprime ao trabalhador social (por exemplo) é uma parcela de si próprio, dos seus hábitos, das suas tradições, com toda a ressonância e carga afectiva, que elas assumem para ele. Afirma o seu enraizamento, a sua história e, para além da anedota e dos eventos da sua vida, a sua memória inscrita, numa dimensão colectiva, histórica, simbólica na qual, busca, fundo e extrai o sentimento de pertença, estima de si e dignidade.
(D)    Importante consignar: Na verdade, não há dúvida nenhuma, que, mesmo no caso de o migrante não poder ou não pretende se exprimir, encontrará sempre um informador, no âmbito do seu meio social (entre os seus mais próximos), ou junto de associações quem fornecerá esclarecimentos pertinentes acerca da sua pessoa, em tempo útil e oportuno.
(E)     Donde, em Suma:
a.       É, efectivamente, pela sua Identidade, que o trabalhador social, lhe permite apresentá-lo, pô-lo em cena, se informando junto dele, se interessando por ele.
b.      É neste sentido, que é necessário compreender os convites para refeições ou para festas, troca de presentes, tão, frequentemente, uma autêntica fonte de admiração e de mal-estar da parte dos profissionais.
c.       O Migrante, ao efectuar um dom, como permuta de um serviço prestado ou de uma ajuda recebida, recupera a estima em si mesmo, outrossim, dignidade e autoridade necessária. Por seu turno, o profissional ao aceitar este dom, respeita um outro código cultural de permuta social, código, esse, que se inscreve, no mais profundo arcano da afectividade da pessoa do migrante e lhe reconhece, ipso facto, a sua dimensão social, enquanto ser portador de valor e de sentido, obviamente.
d.      Enfim, rematando assertivamente: Este reconhecimento da pessoa, em todas as suas dimensões, designadamente nas suas vertentes: psicológica, cultural, social e histórica, é sumamente fundamental no processo de ajuda e apoio, necessariamente quão eficaz e, assaz eficiente.

Lisboa, 29 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).