quinta-feira, 29 de julho de 2010

A NÃO PERDER

[...] «A aceleração dilui a percepção do tempo, condenando-nos a viver num presente perpétuo em que os acontecimentos se multiplicam na razão inversa da compreensão do seu sentido. A torrencial multiplicação dos pontos de vista tem como único efeito seguro o de privar o homem contemporâneo de qualquer perspectiva consistente sobre o quer que seja.»

[...] «Vivemos, em suma - a analogia é de J.L. Servan-Schreiber, no livro Trop Vite  -, como se nos deslocássemos de noite num automóvel cuja velocidade aumenta à medida que o alcance dos faróis diminui. É por isso que, mesmo em férias, se torna tão difícil desacelerar? Habituados que estamos, por um lado a viver como se a velocidade por si só desse sentido à vida e, por outro lado, a associar a aceleração com a intensidade, é cada vez mais comum reagirmos com ansiedade a qualquer vislumbre de lentidão e identificarmos a mais pequena desaceleração com uma assustadora ameaça de tédio. Como se, quando finalmente há tempo, faltasse a paciência?»

[Manuel Maria Carrilho, no DN de hoje]