quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ESPREITOSCÓPIO

DE BELÉM PARA O MUNDO





Pastéis de Belém esta manhã
(Canon G9, ajustes manuais)

- Clique na foto para ver melhor -

COISA NA COISA NÃÃÃÃOO!!!


A Singapore Airlines inaugurou o seu mais sofisticado avião, o Air Bus A380, que está equipado com esta cama de casal na super primeira classe. Puritanamente admitem que um casal que nela se deite possa tocar-se de diversas maneiras: mão na mão, mão na coisa, coisa na mão

Mas... coisa na coisa nããããoo!!!

Com efeito o porta-voz da companhia aérea, o senhor Stephen Forshaw, declarou isto à imprensa: "If couples used our double beds to engage in inappropriate activity, we would politely ask them to desist,". Leia a notícia aqui.

BAPTISTA BASTOS NO SEU MELHOR

Escreve sobre as sondagens que abateram o PS:

«Não gosto de escrever isto: mas José Sócrates mentiu, descredibilizou todos os princípios de progresso e de justiça contidos na doutrina do seu partido, tripudiou sobre os códigos genéticos de uma certa esquerda, desrespeitou os eleitores e desacreditou as palavras, em nome de uma receita pessoal. A fraude não poderia manter-se. O confronto político estava retirado, inexistia ou se dissolvia numa inutilidade loquaz. As coisas mudaram de figura. A consistência deste Executivo é tão frágil que duas ou três brandas declarações de Menezes se transformaram em hecatombe. As sondagens podem ser fluidas mas estabelecem inevitáveis indicadores. Apavorado, Vítor Ramalho conclamou: "É urgente que o PS regresse à matriz." Interroguemo-nos para saber se é ainda possível manter viva a esperança de transformação da sociedade, que o "socialismo antigo" propunha e o "socialismo moderno" tem espancado sem clemência.»

E termina com este parágrafo:

«Escrevi, nesta coluna, que o debate iria animar. Para governo e conceito de José Sócrates lembro um velho ditado: "Quem melhor cama fizer nela se deitará."»

Vem hoje aqui no Diário de Notícias.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

TECNOLOGIA DE PONTA

Aterraram por aqui nos últimos dias dois gadgets de superior qualidade: primeiro, este micro helicóptero eléctrico controlado remotamente por rádio comando; depois esta fabulosa point&shoot, a G9 da Canon.


De comum só têm o tamanho ― ambos são pequenos e de fácil transporte ― porque, se por um lado a Canon é facílima de usar; já o helicóptero é difícil de pilotar embora não esteja equipado com o passo variável (o comando de torção das pás que permite as inclinações laterais, frontal e posterior) que tornaria a tarefa muitíssimo mais exigente. Mas mesmo apenas com os comandos dos rotores principal e de cauda, a coisa fia fino e não é qualquer um que o faz voar. Quem já escaqueirou helicópteros, como eu já fiz algumas vezes no passado, sabe do que estou a falar.

sábado, 27 de outubro de 2007

BOM DIA


(Clique na imagem para aumentar. Vale a pena fazê-lo)

Pense no país; pense em si; pense nos seus familiares e amigos; pense na vida dos seus familiares e amigos; pense no mundo em que todos estamos inseridos; pense nos conflitos que atravessam a humanidade; pense na VIDA.

Olhe para esta imagem ― tente analisá-la ―
e tente sentir a emoção que ela lhe desperta.

Tenha um bom dia e um bom fim-de-semana.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

PORTUGAL ESTÁ PERIGOSO (II)

OU O REBENTAMENTO DA “CORDA”
QUE NEM A PRESIDÊNCIA DA UE EVITOU


Finalmente aparece uma sondagem que reflecte aquilo que a maioria dos portugueses sente no dia-a-dia perante o ataque desenfreado do Governo aos funcionários públicos, aos juízes, aos professores, aos médicos, aos enfermeiros, aos contribuintes, aos reformados, aos deficientes, aos doentes, aos sindicatos, A QUASE TODOS OS PORTUGUESES, AFINAL:

As intenções de voto no Partido Socialista caem da maioria absoluta para um escasso ponto percentual sobre o PSD.

Já se tornava estranhíssimo que com todo o descontentamento manifestado quotidianamente ― a toda a hora ― pelos portugueses face à governação socialista, as sondagens continuassem a dar resultados altamente favoráveis ao Governo e ao PS como se essas sondagens fossem realizadas no Largo do Rato ou noutro planeta qualquer; ou então como se os portugueses tivessem todos perdido colectivamente o juízo e merecessem internamento em campos psiquiátricos.

Muitas pessoas me disseram várias vezes, perante a publicitação de resultados de sondagens altamente favoráveis ao Governo, que achavam que se tratava de desinformação e propaganda pois não se acreditava que a realidade do país, coisa que a maioria dos portugueses conhece na pele, não se traduzisse de forma negativa para o Governo nas sondagens .

«Há marosca nas sondagens», disse-me certo dia um amigo.

Pois hoje divulgou a TSF e escreveu o Diário Digital esta notícia:

«Dados do barómetro DN/TSF/Marketest indicam que os socialistas registam 36,9 por cento das intenções de voto, enquanto o PSD recolhe 35,9, naquele que é quase o seu melhor resultado dos últimos dois anos.»

«Para que este resultado fosse possível, o PSD conseguiu uma subida de oito pontos percentuais, num estudo realizado após a eleição de Luís Filipe Menezes como presidente do partido, enquanto o PS caiu quase cinco pontos.»


Finalmente parece que a verdade se impôs a ponto de não mais ser possível encobri-la aos olhos de todos. Já se tornava estranho, escandaloso e incompreensível que se mantivesse o apoio maioritário a um Governo que inaugurou a fórmula de GOVERNAR CONTRA (contra tudo e contra todos), pensando autistamente que é possível ganhar jogos diminuindo salários, maltratando os jogadores, ameaçando-os de expulsão e ameaçando extinguir o clube.

Chegou-se ao ponto de não se saber a favor de quem, afinal, governa o PS.

Pois parece haver um Governo de Portugal... contra os portugueses.

Isto é uma aberração. Que as sondagens não podiam deixar de reflectir.

E ei-las aí!

Mas não nos iludamos: se o PSD ganhar umas eleições fará ainda pior do que está a fazer o PS; daí a perigosidade em que se vive.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A S ROMA 2 ― SPORTING 1

OXALÁ CORRA BEM

O Sporting joga daqui a menos de duas horas contra o A. S. Roma, clube italiano de largo curriculum europeu. Paulo Bento, o treinador leonino, resolveu dar a titularidade ao guarda-redes suplente, Tiago, por ter castigado (embora tenha vindo desmentir isso de forma esfarrapada) o guarda-redes titular, Stojkovic, que se atrasou no regresso após participação na selecção sérvia; Stojkovic não foi sequer convocado para este jogo, tendo ficado em Lisboa.

Tiago é um guarda-redes de qualidade mediana com o defeito principal de resolver mal os lances aéreos. Veremos do que será capaz logo à noite.

Se o caldo se entornar por banda do Sporting e Tiago for responsável pela coisa, lá se irão alguns milhões de euros borda fora, com a agravante de se comprometer seriamente a passagem do Sporting às eliminatórias que se seguirão a esta fase de grupos.

Às vezes é melhor reprimirmos o pequeno ditador que nos habita e tentarmos resolver os conflitos e as indisciplinas por uma via menos troglodita, em nome de interesses maiores, quando, como é o caso, eles se apresentam tão claramente.

Mas, já que o facto está consumado ― Força Sporting; e que alguma poção mágica similar à do druida Panoramix te ajude a dar uma coça aos romanos.

domingo, 21 de outubro de 2007

NO REINO DA MAÇÃ


Estará já disponível no próximo dia 26, para os utilizadores de computadores Machintosh, o novo sistema operativo da Apple denominado LEOPARD.

Trata-se de uma pequena maravilha para todos os seus utilizadores ― facilidade, versatilidade, rapidez, beleza, inovação, são algumas das muitas palavras que se deve utilizar para descrever o Leopard.

Veja aqui uma demonstração da coisa e fique a sonhar com um computador iMac.

Agora percebo bem por que é que se pode correr o sistema operativo Windows num Mac, mas não se pode correr o Leopard num PC ― a Microsoft perderia em pouco tempo grande parte do domínio de que ainda desfruta no mercado doméstico da informática.

Por este andar o futuro é da Mac. Com toda a certeza.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

PORTUGAL ESTÁ PERIGOSO

MAS SÓCRATES PODE DORMIR DESCANSADO

Está a decorrer neste preciso momento na RTP1 uma entrevista ao recém-eleito líder do PSD, Luís Filipe Meneses.

O que o homem disse no primeiro quarto de hora da entrevista chega para perceber que se o PSD (dele e de Santana Lopes) tomasse conta do poder em Portugal

― iria f.... esta m.... toda.

― Sem apelo nem agravo.

Seria certamente mais um período de desvario e de experimentalismo político de alto risco (a modos do que se assistiu já com Santana Lopes) que colocaria o país à beira do, senão mesmo no abismo.

Há que travar este homem que demagogicamente pede o apoio de todos os deserdados do socialismo socrático, mas que na sua acção os desgraçaria ainda mais, ao mesmo tempo que produziria novos desgraçados dentre os que estão hoje a escapar à razia socialista na administração pública, na saúde e na educação, por exemplo, para só referir as áreas mais afectadas.

Com Sócrates caminha-se para o inferno a passos largos; com Meneses seria o despenhamento imediato no abismo.

Razão teve (uma vez mais) Mário Soares quando disse: «a eleição de Meneses foi uma desgraça para o PSD». Pois é, e esperemos que seja mesmo apenas para o PSD

É por isso que actualmente o melhor conselho que se pode dar aos jovens é este: façam os vossos cursos e depois pirem-se daqui enquanto é tempo. Não se casem para já; não tenham filhos; não comprem casa ou outros bens a crédito. Emigrem, não tenham medo de o fazer, que lá fora ainda podem ser gente e viver uma vida digna.

É que hoje já não há políticos (e forças políticas organizadas ― partidos políticos) onde pontifiquem homens e mulheres de visão e com verdadeiro sentido de Serviço Público, capazes de (muitas vezes com sacrifício pessoal) trabalharem em prol de todos os portugueses. Hoje há o que se vê e que abstenho de qualificar pois sei que todo e qualquer português que se preze tem ideias claras sobre isso.

E ELE SEMPRE A DAR-LHE...

Para que o homem se cale de vez com esta cega-rega, construa-se o aeroporto na Ota.

Faça-se-lhe a vontade. Não se lhe obrigue a viajar até Alcochete (Oh ignomínia!).

E não se esqueça: a Nação portuguesa deve-lhe a linda Constituição de 1976; aquela da «sociedade sem classes», lembram-se?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

DO REGIME MEDIÁTICO

DO CONTROLO DA TELEVISÃO

De um artigo escrito por Umberto Eco, no jornal italiano, La Repubblica, em Janeiro de 2004, respigo (retirando embora do contexto) as seguintes passagens (com sublinhados de que assumo a inteira responsabilidade) para meditação de quem ainda consegue meditar.

«A última afirmação de Berlusconi («ninguém lê jornais, mas toda a gente vê televisão») foi interpretada com a habitual cegueira da cultura de esquerda e classificada como mais uma das suas insultuosas gafes. Só que não era nenhuma gafe: era um acto de arrogância, mas não era nenhum disparate.

Nos dias que correm, os jornais podem dizer o que bem lhes apetecer, porque a chave do poder reside no controlo da televisão.

Este é um dado de facto, e os dados de facto são por natureza inde­pendentes das nossas preferências.
Parti destas premissas para sugerir que as ditaduras do nosso tempo, a existirem, têm de ser ditaduras mediáticas e não políticas. Há quase cinquenta anos, escreveu-se pela primeira vez que, salvo os casos de alguns países remotos do Terceiro Mundo, já não eram precisos tanques para se fazer cair um governo: bastava ocupar as estações de rádio (a últi­ma pessoa a ignorar este facto foi Bush, líder terceiromundista que por engano chegou ao governo de um país altamente desenvolvido). Agora, o teorema foi demonstrado.


A diferença entre um regime mediático e um regime como o fascista é que no segundo toda a gente sabia que os jornais e a rádio só transmi­tiam informações vindas do governo, e que não se podia ouvir a Rádio Londres, sob pena de prisão.

Num regime mediático em que, digamos, dez por cento da população tem acesso à imprensa de oposição enquanto o resto recebe as notícias atra­vés de uma televisão controlada, vigora, por um lado, a convicção de que é permitido discordar e, por outro lado, o efeito de realidade causado pelo impacte da notícia televisiva leva a que só se saiba e só se acredite naquilo que diz a televisão.

Uma televisão controlada pelo poder não tem necessariamente de censurar as notícias.

O problema é que se pode instaurar um regime mediático pela positiva, dando a impressão de que se diz tudo. Basta saber como dizê-lo.

O que a televisão de um regime mediático faz é recorrer ao artifício retó­rico da «concessão».

A televisão funciona desta maneira. Quando se discute uma lei, a televisão enuncia-a e dá de imediato a palavra à oposição, com todos os seus argumentos. Depois volta a transmitir o ponto de vista dos defen­sores do governo, que objectam contra as objecções da oposição. O resul­tado persuasivo é invariavelmente o mesmo: o último a falar tem sempre razão. Sigam com atenção os telejornais, e verão que a estratégia é esta: a seguir à apresentação do projecto, nunca aparecem em primeiro lugar os apoiantes do governo e, em segundo, as objecções da oposição. É sempre ao contrário.

Um regime mediático não tem necessidade de mandar prender os opositores. Não os reduz ao silêncio através, mas fazendo ouvir as suas razões em primeiro lugar



Quem quiser ler na íntegra o artigo de Eco, tem-no aqui; é só clicar e ler. Advirto que vale bem a pena fazer a leitura integral desse artigo.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

MARINHO EM CURVA APERTADA

VÍTIMA DOS "MOMENTOS-CHÁVEZ"

António Luís Marinho, Director de Informação da RTP, entrou em polémica com Pacheco Pereira acusando-o de falta de rigor ao ter escrito no Abrupto que José Rodrigues dos Santos, em entrevista à revista Pública deste domingo, tinha denunciado interferências da administração da RTP na edição de telejornais daquela estação de televisão e de veicular recados do poder político, quando Rodrigues dos Santos era Director de Informação.

Negando que Rodrigues dos Santos tenha feito tal denúncia, Marinho acabou por chamar indirectamente desonesto a Pacheco Pereira ao acusá-lo de “falta de rigor” na interpretação da entrevista de Rodrigues dos Santos.

Mas eis que o Conselho de Administração da RTP acaba de ordenar um inquérito às declarações de Rodrigues dos Santos (com ameaça de processo disciplinar) fazendo sair um comunicado onde se pode ler que «face à gravidade dos factos ocorridos, e para salvaguarda do bom nome da RTP e dos seus quadros, o Conselho de Administração decidiu iniciar os procedimentos legais que as circunstâncias requerem». O comunicado esclarece também que o Conselho de Administação da RTP «repudia veementemente, por serem falsas, as afirmações proferidas por aquele empregado, às quais atribui a maior gravidade, uma vez que põe em causa a imagem da RTP».

Face a isto, o que é que estará neste momento a pensar Marinho? E o que é que vai fazer?

Creio que só lhe resta um caminho ― pedir a demissão do cargo que ocupa e pedir desculpas a Pacheco Pereira.

Veremos se Marinho terá a coerência de fazer estas duas coisas.

domingo, 7 de outubro de 2007

DA CORRUPÇÃO DO ESTADO

Artigo de Vasco Pulido Valente no Público de hoje:

«A entrevista que João Cravinho deu na quinta-feira é indispensável para perceber a corrupção. Cravinho diz duas coisas de uma importância crucial, em que esta coluna tem de resto insistido. Primeiro, que o grosso da corrupção “se faz”, com uma ou outra “entorse” imperceptível, “de acordo com a lei”. Segundo, que por isso mesmo a polícia e os tribunais não podem ir longe e só se ocupam dos casos menores. No fundo o Apito Dourado e operações do género são um espectáculo, que esconde os crimes de consequência. Com grande coragem, Cravinho explica qual é o problema: e o problema é o de que certos lobbies se apoderaram de “órgãos vitais de decisões” do Estado ou dos departamentos que as preparam. Ou, se quiserem, o de que o Estado se tornou o principal agente de corrupção.

Isto significa que o Estado serve, não o interesse do país, como compreendido por este ou aquele partido, mas sim o interesse dos lobbies com mais poder ou influência. E, no entanto, nunca se fala disto, embora toda a gente o saiba ou suspeite, a começar pelo Presidente da República, porque os “negócios” conseguem inspirar um respeito e um temor que, por exemplo, o futebol não consegue e que manifestamente coíbem a imprensa e a televisão. O que se passa no interior de certos ministérios de que depende a orientação da economia nunca chega à rua. Como nunca chega à rua quem perdeu ou ganhou com os “projectos”, que o Estado autoriza ou financia. Ou quem é e donde vem o impecável pessoal que manda nisso tudo. Ainda anteontem o Dr. Cavaco exigiu novas leis para assegurar o que ele chama a “transparência da vida pública”. Infelizmente, novas leis não bastam.

Cravinho descreve o “choque” que sofreu com a complacência do PS perante a corrupção do Estado. Sofreria com certeza um “choque” igual, e talvez pior, no PSD. A verdade é que o “bloco central” se fundiu com o Estado. Não existe um Estado independente do “bloco central” e muito menos dos “negócios”, que o apoiam e sustentam: da banca e da energia a quatro ou cinco escritórios de advogados. Cravinho, como Cavaco, não percebeu, ou preferiu omitir, que hoje não se trata de reformar uma parte inaceitável do regime, mas pura e simplesmente de mudar o regime. Se por acaso caísse do céu a “transparência” que o Dr. Cavaco deseja, metade da primorosa elite do nosso país marchava para a cadeia como um fuso.»


Confrontado com o discurso de Cavaco Silva, na parte em que o Presidente da República exigiu novas leis para assegurar o que ele chamou de “transparência da vida pública”, Vitalino Canas, deputado e dirigente do PS, terá respondido assim, segundo o Diário de Notícias do dia 6/10/2007, que considerou que o apelo do Presidente da República não teve eco no PS: «"Essa não é, de facto, a perspectiva da maioria parlamentar na Assembleia da República"»

Segundo o jornal “Público”, o director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal de Coimbra, Euclides Dâmaso, terá considerado que o novo Código do Processo Penal não serve para combater a corrupção, tendo afirmado: «O código "serve para enfrentar as situações criminais de baixa densidade - as bagatelas penais"».

Tudo, portanto, como disse Joaquim Aguiar à SIC Notícias. Os decisores podem decidir como bem entenderem e dormir descansados.

sábado, 6 de outubro de 2007

A FÓRMULA DA CORRUPÇÃO

1 ouvido + 1 caneta = corrupção

Foi assim que Joaquim Aguiar, ex-assessor presidencial dos ex-presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares, resumiu o fenómeno da corrupção no aparelho de Estado, numa entrevista ao Jornal da Noite da SIC Noticias, do dia 4 deste mês.

Foi uma entrevista altamente didáctica e de uma clareza impressionante, em que explicou em poucas palavras como funciona a corrupção ao mais alto nível (no aparelho de Estado).

Disse o entrevistado (cito de cor):

Para haver corrupção basta haver um ouvido que ouve e uma caneta que escreve; o ouvido ouve o pedido e a caneta escreve a autorizar o pedido.

A contrapartida até nem precisa ser financeira ou em bens patrimoniais porque isso seria fácil de descobrir ― bastaria ir à conta bancária ou à declaração do património dos políticos ―. A contrapartida é a protecção de que a pessoa passa a gozar: fica respaldada por um esquema de protecção que lhe garante o futuro, aconteça o que acontecer. É assim que funciona a corrupção.


Mais disse Joaquim Aguiar (e continuo a citar de cor).

A corrupção medra no Bloco Central, na amálgama constituída pelo PS e pelo PSD; dois partidos que se uniram ao centro depois de terem falhado os respectivos projectos de sociedade; são dois partidos hoje sem qualquer projecto, que apenas lutam pela sobrevivência. E não há melhor lugar para sobreviverem do que no centrão. E é aí que eles são permeados pelos grupos de interesse que lhes vão falando ao ouvido fazendo os seus pedidos e garantindo o respaldo.

Joaquim Aguiar deu ainda a entender que as leis são feitas (pelo centrão) de tal maneira que elas não abrangem, não penalizam quem toma as decisões.

Por ter achado esta entrevista de Joaquim Aguiar de grande importância, enviei um email (até agora sem qualquer resposta) à SIC-ONLINE sugerindo que a publicassem na sua página de vídeos na Internet ― página onde publicam todo o género de coisas: desde as redundâncias dentífricas de Jesualdo Ferreira, aos radares de Lisboa, passando pela Maddie e pela Esmeralda todo o género de coisas lá cabe, menos a entrevista de Joaquim Aguiar ― e eles, moita: nem responderam, nem publicaram.

Não sei porquê. Mas a SIC lá sabe. Se calhar alguém não gostou. Se calhar tocou por lá alguma campainha avisadora.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

NARCISO AO ESPELHO

António Lobo Antunes afirmou, nesta entrevista à revista Visão, o seguinte:

«Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares.»

Independentemente de ser verdade ou não ― para mim, não é verdade ― devo dizer que eu, pessoalmente, não gosto de ler Lobo Antunes. O erro será com certeza meu, eu sei; mas não gosto. Contudo declaro: já o li, leio e lerei. Isto para que se não pense que laboro em preconceitos.

Acho, por exemplo, Camilo Castelo Branco, de longe, melhor escritor que Lobo Antunes; e neste caso até posso fazer minhas as palavras de Lobo Antunes: Não tenho a menor dúvida de que Lobo Antunes, no que à língua portuguesa diz respeito, não chega aos calcanhares de Camilo. E já agora de Agustina Bessa-Luís, de Eça de Queirós, de Fernando Pessoa e de outros mais.

Eu nem compreendo muito bem como é que Lobo Antunes, como psiquiatra (não praticante) que é, se permitiu auto-avaliar em matéria tão subjectiva ― sim, porque o domínio de uma língua não é apenas matéria técnica; e de técnica, por sinal, Lobo Antunes não tem muita (compare-se-o a Umberto Eco, por exemplo, e fique-se com essa certeza) ― tendo-se auto-destacado de tal forma que os outros escritores da língua portuguesa, na sua avaliação, ficam longe do seu calcanhar narcísico. É que até o vulgo sabe que ninguém é juiz em causa própria; e Lobo Antunes sabe-o ainda melhor; até porque, como psiquiatra que é, sabe que a última pessoa cuja obra ele será capaz de avaliar com imparcialidade é ele mesmo.

Enfim, deve-se talvez tomar a afirmação de Lobo Antunes apenas como uma provocação.