1 ouvido + 1 caneta = corrupção
Foi assim que Joaquim Aguiar, ex-assessor presidencial dos ex-presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares, resumiu o fenómeno da corrupção no aparelho de Estado, numa entrevista ao Jornal da Noite da SIC Noticias, do dia 4 deste mês.
Foi uma entrevista altamente didáctica e de uma clareza impressionante, em que explicou em poucas palavras como funciona a corrupção ao mais alto nível (no aparelho de Estado).
Disse o entrevistado (cito de cor):
Para haver corrupção basta haver um ouvido que ouve e uma caneta que escreve; o ouvido ouve o pedido e a caneta escreve a autorizar o pedido.
A contrapartida até nem precisa ser financeira ou em bens patrimoniais porque isso seria fácil de descobrir ― bastaria ir à conta bancária ou à declaração do património dos políticos ―. A contrapartida é a protecção de que a pessoa passa a gozar: fica respaldada por um esquema de protecção que lhe garante o futuro, aconteça o que acontecer. É assim que funciona a corrupção.
Mais disse Joaquim Aguiar (e continuo a citar de cor).
A corrupção medra no Bloco Central, na amálgama constituída pelo PS e pelo PSD; dois partidos que se uniram ao centro depois de terem falhado os respectivos projectos de sociedade; são dois partidos hoje sem qualquer projecto, que apenas lutam pela sobrevivência. E não há melhor lugar para sobreviverem do que no centrão. E é aí que eles são permeados pelos grupos de interesse que lhes vão falando ao ouvido fazendo os seus pedidos e garantindo o respaldo.
Joaquim Aguiar deu ainda a entender que as leis são feitas (pelo centrão) de tal maneira que elas não abrangem, não penalizam quem toma as decisões.
Por ter achado esta entrevista de Joaquim Aguiar de grande importância, enviei um email (até agora sem qualquer resposta) à SIC-ONLINE sugerindo que a publicassem na sua página de vídeos na Internet ― página onde publicam todo o género de coisas: desde as redundâncias dentífricas de Jesualdo Ferreira, aos radares de Lisboa, passando pela Maddie e pela Esmeralda todo o género de coisas lá cabe, menos a entrevista de Joaquim Aguiar ― e eles, moita: nem responderam, nem publicaram.
Não sei porquê. Mas a SIC lá sabe. Se calhar alguém não gostou. Se calhar tocou por lá alguma campainha avisadora.