Na peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
No atinente a experimentar, demonstrar
Que a Natureza existe seria ridículo; é
Manifesto, com efeito, que existe muitos
Seres naturais.
Aristóteles (In Física).
Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas ideias.
A Natureza é partes sem um todo
Isto é talvez o tal mistério de que falava.
Fernando PESSOA
Poemas de Alberto CAEIRO
Apenas o Ocidente hodierno se encontra empenhado em classificar os seres consoante, que relevam das leis da matéria ou dos acasos das convenções.
Donde, antes de mais, esta questão quão pertinente e, assaz oportuna:
“Pode-se pensar o Mundo sem distinguir a Cultura da Natureza?” A resposta consentânea a esta questão em apreço, se assume, dialecticamente por uma abordagem avisada dos modos de repartir continuidades e descontinuidades entre o homem e o seu meio ambiente.
Eis porque, a abordagem da lavra e autoria do eminente Professor do Colégio de França, Philippe DESCOLA.
Com efeito, o seu lúcido Inquérito sublinha quatro (4) formas de identificar os “existentes” e os reagrupa à partir de traços comuns que se correspondem de um Continente para outro. Ou seja:
(1) O Totemismo, que sublinha a continuidade material e moral entre humanos e não humanos.
(2) O Anologismo, que postula entre os elementos do Mundo uma rede de descontinuidades estruturada por conexões de correspondência.
(3) O Animismo, que atribui aos não humanos a interioridade dos humanos e os diferencia, porém pelo corpo.
(4) Finalmente, o Naturalismo, que nos vincula, pelo contrário, aos não humanos pelas continuidades materiais e nos separa disso pela aptidão cultural.
(5) E, em jeito de Remate assertivo, se afigura relevante, consignar, que:
a. A Cosmologia (Ciência cujo objecto é o Estudo das leis que regem o mundo físico), concretamente, a moderna, se tornou uma fórmula entre outras, visto que, cada modo de identificação autoriza configurações singulares, que redistribuem os existentes em colectivos às fronteiras bem dissemelhantes das que as Ciências humanas nos tornaram familiares.
b. Sim, efectivamente, para dizer a verdade, os Humanos possuem a capacidade de produzir combinações novas, modificar, edificando as propriedades do, que combinam, porém, seja o que dizem, os apóstolos da acção criadora, não lhes é possível, fora do mito e da ficção, criar híbridos funcionais cujas as componentes possuiriam propriedades inconciliáveis.
c. É o que se pode, aliás, começar a sentir no término do longo trajecto no labirinto da utilização das coisas. Esquematizando aspectos distintos da experiência do Mundo e de outrem, a identificação e a conexão se delimitam, numa gama de modalidades cujas as características intrínsecas diferem, o que permite ou não a sua coexistência num colectivo particular e, para as relações, a articulação entre uma forma dominante e uma ou várias formas menores.
(…)
Todavia e, encurtando razões e sobretudo, por imperativo pedagógico e, outrossim, por uma questão de ordem metodológica, limitar-nos-emos a evocar, neste nosso Estudo ensaístico, alguns tipos de compatibilidades e de incompatibilidades.
Donde, então:
POSTA PRIMEIRA:
(A) O Animismo e o Naturalismo se apresentam como formas autênticas de discernir as propriedades das coisas:
a. No primeiro caso, coloca-se o acento tónico sobre a diferença física entre os existentes (possuem corpos dissemelhantes), reconhecendo que mantêm um idêntico jogo de relações (pelo facto que partilham uma interioridade análoga).
b. No segundo caso, sublinha-se, pelo contrário, a continuidade física entre os elementos do Mundo (estão todos submetidos às leis da Natureza) para melhor fazer a verificação da heterogeneidade das conexões susceptíveis de os unir (estas, sendo reputadas depender da capacidade ou não para manifestar uma interioridade aos conteúdos variáveis).
Eis porque, por conseguinte, se afigura, assaz legítimo, estudar, em conjunto, estes dois esquemas de identificação, sob o aspecto dos modos de relação que são capazes de acolher.
Lisboa, 26 Junho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).