sexta-feira, 18 de junho de 2010

Peça ensaística Décima Primeira, no âmbito de

Na peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

O crime mais hediondo que se pode cometer contra
um povo é reduzi-lo à mediocridade
Bertolt BRECHT (1898-1966), Autor dramático, encenador e poeta alemão.


(1)       Mais que nunca, se impõe, sublinhar, com ênfase, que, na verdade, o Ocidente desenvolveu uma arma, quão infalível e, assaz perversa para adormecer o espírito da revolta: A infantilização dos povos. Como uma criança à qual se dará, quotidianamente, chupetas de formas e cores variegadas, se acalma o Homem moderno com o auxílio de televisores, cada vez mais e mais, “plats”, telefones portáveis, cada vez mais minúsculos e sofisticados, etc. Chegará um dia, em que os objectos essenciais da vida serão desmaterializados, em que o homem ele mesmo, tornará invisível, em que ninguém terá necessidade de ninguém… Hélas! É a solidão absoluta!
(2)       Para que serve conquistar novos planetas, se para aí abrigar uma minoria que terá pervertido a sua terra ao ponto de a tornar invisível e abandoná-la às suas vítimas? Para que serve a duração da vida e da existência se é para passar a sua existência na solidão e no tédio e as enganar, por todos os meios possíveis?
(3)       O Mundo deverá ser partilhado. Trata-se de uma prática extremamente difícil, sobretudo quando se tomou o gosto para a acumulação egoísta dos bens materiais. Todavia, o Ocidente não pode fazer disso a economia, se deseja gerir um Mundo, onde se possa viver, com qualidade. Sem isso, as ciladas, as lágrimas e o sangue não terão pequeno descanso.
(4)       Reiteramo-lo, com ênfase, não se trata para os Africanos de fazer como ou mais que o Ocidente. Ou seja (melhor dito): Trata-se de fazer melhor. Não, todavia, para imitar por falta de iniciativa. Sim, efectivamente, para assumir entre os outros, o que se faz de melhor para a felicidade do Homem.
(5)       Demais e, por outro, por que razão um pensamento novo, suportando uma nova modernidade, não nasceria, outrossim, na nossa África? O Continente negro dispõe da matéria cinzenta necessária para este gigantesco empreendimento. Eis porque, deve tomar consciência disso e se convencer disso, para o preservar e enaltecer como o feito de valores do coração. É evidente que só a este preço que o nosso Continente (o Berço da Humanidade) poderá reconciliar com a sua própria Memória.
(6)       Porém, o que é facto é que o mundo novo não se edificará sobre o ultraliberalismo (o reino absoluto dos mercantes do ouro, o contrário, aliás, da Harmonia), que infantiliza o Homem, tirando-lhe toda a veleidade de reflexão e só suscita nele o desejo de consumir, consumir… A África perderia, neste caso, em concreto, o seu sistema de Solidariedade ancestral. Por outro e, demais, a mundialização, favorecendo, a Humanidade tem necessidade de novos modelos de desenvolvimento, visto que o ultraliberalismo se não for emendado, a Humanidade corre para um massacre gigantesco e para a sua perda, obviamente.
(7)       Sim, efectivamente, o novo modelo, ora enunciado e explicitado, veria a desforra da alma sobre o ouro. Todavia, corre o risco de induzir uma subversão fundamental: os primeiros de hoje serão, sem dúvida, os últimos de amanhã. O Ocidente deve aceitá-lo, ele que parece ter comido o seu pão branco, quando a abundância material apenas produz a angústia. Eis porque, se pode asseverar, avisadamente: É que já não possui horizonte e que a festa terminou mesmo!
(8)       “Trabalhar”, viver, com qualidade e “amar”, tal deveria ser a divisa da nova África Negra. A corrida à produtividade que mata a alegria de viver, nutre a angústia e transforma, a pouco e pouco, o Homem em escravo moderno, apagaria as suas especificidades para fazer dele, apenas um continente idêntico aos outros, isto é, um continente sem rosto. A África deve, por conseguinte, reclamar das virtudes do Estado moderno que garante as liberdades, reparte equitativamente as riquezas, protege o fraco e não se demite ante a arrogância dos poderosos e dos ricos. As instâncias financeiras internacionais abalaram-no fortemente, ao ponto de ameaçar seriamente os alicerces da Casa África.
(9)       Enfim e, em suma: Todavia, não há que ter ilusões: Nada está adquirido. A África não é única no Mundo. Eis porque, não pode decretar uniformemente esta renovação humanista. Estará coagida a fazer frente a robustas resistências à mudança, identicamente interiores como exteriores. De feito, se a colaboração internacional é necessária para fazer emergir um novo modelo de Sociedade, no entanto, ninguém conseguirá desenvolver melhor o Continente Negro no lugar dos seus filhos.

Lisboa, 18 Junho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).