domingo, 3 de junho de 2012

(4º) Estudo ensaístico Quarto:


Continuação dos Estudos anteriores...


(1)          De feito (et pour cause), DU BOIS, preferindo (ostensivamente), a não-violência, propõe (identicamente), romper com a lógica cumulativa da esquimogénese que (cedo ou tarde), desemboca (necessariamente), em afrontamentos. A diferenciação simétrica, fazendo apenas (com efeito), incrementar a hostilidade recíproca, enquanto a diferenciação complementar acentua sempre o desequilíbrio até à ruína do sistema, em todos os casos. Reclamar-se como (nesse ponto), princípios da Constituição Americana, significa (em contrapartida), formular uma exigência de reciprocidade que DU BOIS termina por justificar, no fim do seu livro, identificando o Povo Negro ao “Dom do espírito”. (...).
(2)          E, transformando todos os inatos atributos do seu Povo, em oferenda e insistindo (designadamente), nesta espiritualidade nutrida dos mais elevados princípios, DU BOIS, nos revela (sem dúvida), concomitantemente, em quê consiste (verdadeiramente), o “espírito do dom”.
(3)          Aqui, neste ponto do nosso Estudo, vale a pena trazer à colação, os doutos ensinamentos do conceituado sociólogo e antropólogo Francês, Marcel MAUSS (1872-1950), considerado como o “pai” da Etnologia francesa. Na verdade, nas suas lúcidas interpretações desta “forma e razão de troca nas sociedades arcaicas”, MAUSS e os seus continuadores insistiram (constantemente), com efeito, numa tripla obrigação. Ou seja: A obrigação de dar implicava a de receber, que implicava a de restituir. De anotar, que estas obrigações são (então) compreendidas, em termos (puramente), pragmáticos. Isto é (elas) permitiriam criar vínculo e evitar as hostilidades, instaurando um contra-dom, diferido e diferente. “Recusar dar, não ter o cuidado de convidar, como recusar aceitar, equivale a declarar a guerra”, consigna (destarte), MAUSS. Já (por seu turno), no âmbito desta problemática, o filósofo francês, Jean-Pierre DUPUY (n-1941), sublinha a ambivalência fundamental de toda reciprocidade-tornada manifesta-segundo (ele), pela raiz escandinava (warre) que serve (ao mesmo tempo), de etimologia à guerra (war) e à espécie/modelo, artigo, mercadoria (ware).
(4)          Eis porque, nos parece (logicamente), que, insistindo no carácter voluntário do “dom negro”, DU BOIS, abre outras perspectivas e nos elucida, como a única lógica da troca assume como alternativa à violência! “A obrigação de dar” não poderia (unicamente), se interpretar como uma atitude interessada. Ela participa (mais amplamente), de uma “política de reconhecimento”.
(5)          Com efeito, quando DU BOIS lembra (com razão), que os Negros se urdiram (eles mesmos), nas malhas da trama da história ocidental, não nos parece, dizer outra coisa. Demais, as pertinentes análises da sua “identidade” esquissadas pelo autor das “Almas do Povo negro”, fazem (por conseguinte) convergir Sociologia, Psiquiatria e Antropologia para pensar as especificidades da condição negra, porém (elas), nos oferecem (simultaneamente), um novo quadro teórico e prático para compreender e superar os principais efeitos da dominação social e simbólica.

Lisboa, 02 Junho 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).