terça-feira, 5 de junho de 2012

(5º) Estudo ensaístico Quinto:


                        Na verdade, se nos afigura relevante consignar, que à semelhança do economista e sociólogo alemão, MAX WEBER (1864-1920) e do filósofo alemão, GEORG SIMMEL (1858-1918) e (outrossim), na filiação do filósofo e psicólogo norte-americano, WILLIAM JAMES (1842-1910), cujo Pragmatismo opunha, em 1907, dois temperamentos filosóficos antitéticos (os “espíritos duros” e os “espíritos moles”), para os reconciliar (em seguida), na sua Filosofia da experiência (1909), DU BOIS e LOCKE foram (rapidamente), tentados superar o tradicional antagonismo das lógicas conceptuais para se situar numa espécie de “entre-dois”. É nesta perspectiva que vamos expor as suas reflexões no atinente às noções de valor, de raça e de cultura.

(A)          De feito, na origem e no antagonismo dos valores, como se fosse, a articulação entre traços culturais e características raciais que constituíam (com efeito), no início do século XX, temas filosóficos maiores. De facto, os pensadores afro-americanos não podiam nisso quedar indiferentes, mesmo se as suas vozes não eram (seguramente), as mais entendidas/ouvidas.
(B)          De anotar (de imediato), que as lúcidas especulações filosóficas de DU BOIS foram reconduzidas e aprofundadas por ALAIN LOCKE, o qual se revelou (além disso), mas perseverante e original que o próprio DU BOIS (concretamente), na sua exploração de uma possível “Ciência dos valores” e (completamente, por consequência), comprometido como (ele), na sua crítica do conceito de raça.
(C)          LOCKE redigiu (com efeito), duas teses de doutoramento (assim como), artigos sobre a teoria dos valores. Produziu (identicamente), durante a sua carreira académica, numerosos ensaios sobre a História e a Sociologia das relações inter-raciais, nos Estados Unidos, como na Europa ou nas Antilhas. Além das suas conferencias de 1915-1916, convém citar, na década de quarenta do século XX, as suas conferencias em Francês sobre o “Papel do Negro na Cultura das Américas” e várias coordenações de obras colectivas (LOCK 1942...). Por causa da sua finesse argumentativa, os seus escritos sobre o valor, a raça e a cultura apresentam (presentemente), ainda um interesse (quão enorme e assaz avisado).

(D)          LOCKE concebe (com efeito), a sua Teoria dos valores como uma mediação entre os dois regímenes conceptuais, cujo antagonismo referimos, acima. É (por exemplo), graças à Psicologia naturalista de W. JAMES (que insiste sobre a dimensão primeira, afectiva da consciência e faz destarte do sentimento um verdadeiro modo de conhecimento, citando JAMES), que o filósofo Afro-americano tempera a Psicologia intelectualizada do filósofo austríaco, FRANZ BRENTANO (1838-1917), o qual reforça a dimensão secundaria, reflexiva da consciência e privilegia a introspeção como único modo de conhecimento adequado, relacionando (designadamente), a origem e o fundamento dos juízos de valor com um nexo intra-mental da consciência à suas sensações e percepções (BRENTANO). Inversamente, é graças ao idealismo do filósofo alemão (o fundador da Escola de BADEN ou Escola axiológica), o professor, HEINRICH RICKERT (1863-1936),que verifica a autonomia relativa do espírito em presença do corpo e defende (por conseguinte), a independência das Ciências da Cultura para com as Ciências da Natureza (RICKERT...), que LOCKE consegue temperar, na Teoria dos valores, o Fisiologismo de um F. NIETZSCHE (1887) e o Biologismo integral de ROBERT EISLER (1902).
(E)          Todavia, nos dois casos, a estratégia especulativa é a mesma, que induz uma mediação e visa uma reconciliação entre dois regímenes conceptuais antagonistas. Por um lado, LOCKE neutraliza a tentação de uma fuga, no âmbito do ponto de vista transcendental e rejeita (destarte) relacionar os nossos valores de uma mera conformidade com categorias lógicas (a definição do bem, do belo, do verdadeiro, do justo, etc.). Entretanto (ao mesmo tempo), ele refunde a tentação de um Fisiologismo radical e rejeita relacionar a constituição e a diversidade dos valores com uma simples escala hedonista ou à distinções fisiológicas e behavoristas.
(F)           Eis porque, podemos asseverar, que o projeto filosófico de ALAIN LOCKE consiste (por conseguinte), em remeter em causa a tradicional partição entre a valorização, que releva do sentimento e a avaliação que releva do juízo. Ele empenha-se (pelo contrário), em mostrar como a valorização torna possível o juízo de valor. Ou seja: Em quê (ela) é (ela mesma), já o juízo e (ele) envida em expor (paralelamente), como o juízo de valor prolonga a valorização, isto é, em que (ele) permanece ainda (ele mesmo) sentimento.
(G)          Eis-nos (efetivamente), ante um exemplo característico desta estratégia de mediação que consiste em alternar e alterar os regímenes conceptuais. Ou seja: Contra o regímen dominante do pensamento ocidental, LOCKE tende a favorecer o regímen turbulento. E no entanto (ele) rejeita (ao mesmo tempo), se confinar nisso, visto que isto equivaleria favorecer um monologismo às expensas de um outro. Ele não coloca (por conseguinte), tanto em oposição como em diálogo com  o primeiro, procurando nas suas sinuosidades, os seus interstícios, os seus intervalos.
(H)          De um certo modo, LOCKE reintroduz (outrossim), entre os regímenes conceptuais, esta lógica do dom e a sua regra de reciprocidade que MAUSS descobria no fundamento das sociedades “arcaicas” e do qual, na sua qualidade primeira de Antropólogo, BATESON verificava a falência nos esquemas relacionais privilegiados no Ocidente (BATESON...).

Continua...

Lisboa, 04 Junho 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)