Na verdade, se nos
afigura relevante consignar, que à
semelhança do economista e sociólogo alemão, MAX WEBER (1864-1920) e
do filósofo alemão, GEORG SIMMEL (1858-1918) e (outrossim),
na filiação do filósofo e psicólogo norte-americano,
WILLIAM
JAMES (1842-1910), cujo Pragmatismo opunha, em 1907,
dois temperamentos filosóficos antitéticos (os “espíritos duros” e os “espíritos
moles”), para os reconciliar (em seguida),
na sua Filosofia da experiência (1909), DU BOIS e LOCKE
foram (rapidamente), tentados
superar o tradicional antagonismo das lógicas conceptuais para se situar numa
espécie de “entre-dois”. É nesta perspectiva que vamos expor as suas reflexões
no atinente às noções de valor, de raça e de cultura.
(A)
De feito, na origem e no antagonismo dos valores,
como se fosse, a articulação entre traços
culturais e características raciais que constituíam (com efeito), no início do século XX,
temas
filosóficos maiores. De facto, os pensadores afro-americanos não podiam
nisso quedar indiferentes, mesmo se as suas vozes não eram (seguramente), as mais entendidas/ouvidas.
(B)
De anotar (de imediato), que as lúcidas especulações filosóficas de DU BOIS foram
reconduzidas e aprofundadas por ALAIN LOCKE, o qual se revelou (além disso), mas perseverante e original que o próprio DU BOIS (concretamente),
na sua exploração de uma possível “Ciência dos valores” e (completamente, por consequência), comprometido
como (ele), na sua crítica do conceito de raça.
(C)
LOCKE redigiu (com efeito), duas teses de doutoramento (assim como), artigos sobre a teoria dos
valores. Produziu (identicamente),
durante a sua carreira académica, numerosos
ensaios sobre a História e a Sociologia
das relações
inter-raciais, nos Estados Unidos, como na Europa ou nas Antilhas. Além
das suas conferencias de 1915-1916, convém citar, na década de quarenta
do século XX, as suas conferencias em Francês sobre o “Papel
do Negro na Cultura das Américas” e várias coordenações de obras colectivas (LOCK
1942...). Por causa da sua finesse
argumentativa, os seus escritos sobre o valor, a raça
e a cultura apresentam (presentemente), ainda um interesse
(quão enorme e assaz avisado).
(D)
LOCKE concebe (com efeito), a sua Teoria dos valores como uma mediação entre os dois
regímenes conceptuais, cujo antagonismo
referimos, acima. É (por exemplo),
graças à Psicologia naturalista de W. JAMES (que insiste sobre a dimensão
primeira, afectiva da consciência e faz destarte do sentimento um verdadeiro modo
de conhecimento, citando JAMES), que o filósofo
Afro-americano tempera a Psicologia intelectualizada do filósofo
austríaco, FRANZ BRENTANO (1838-1917), o qual reforça a dimensão secundaria, reflexiva da consciência e privilegia a introspeção
como único modo de conhecimento adequado, relacionando (designadamente), a origem e o fundamento
dos juízos de valor com um nexo intra-mental da consciência à suas sensações
e percepções (BRENTANO). Inversamente, é graças ao
idealismo do filósofo alemão (o fundador da Escola de BADEN ou Escola axiológica), o professor, HEINRICH RICKERT (1863-1936),que
verifica a autonomia relativa do espírito
em presença do corpo e defende (por
conseguinte), a independência das Ciências da Cultura para com as Ciências da Natureza (RICKERT...),
que LOCKE
consegue temperar, na Teoria dos valores, o Fisiologismo de um F. NIETZSCHE (1887) e o Biologismo integral de ROBERT
EISLER (1902).
(E)
Todavia, nos dois casos, a estratégia
especulativa é a mesma, que induz uma mediação e visa uma reconciliação entre dois regímenes conceptuais
antagonistas. Por um lado, LOCKE neutraliza a tentação de uma fuga, no âmbito do ponto
de vista transcendental e rejeita
(destarte) relacionar os nossos
valores de uma mera conformidade com
categorias lógicas (a definição do bem, do belo, do verdadeiro,
do justo,
etc.). Entretanto (ao mesmo tempo),
ele refunde a tentação de um Fisiologismo radical e rejeita relacionar a constituição
e a diversidade dos valores com uma simples escala hedonista ou à
distinções fisiológicas e behavoristas.
(F)
Eis porque, podemos asseverar, que o projeto
filosófico de ALAIN LOCKE consiste (por
conseguinte), em remeter em causa a tradicional partição entre a valorização,
que releva do sentimento e a avaliação que releva do juízo. Ele empenha-se (pelo contrário), em mostrar como a valorização
torna possível o juízo de valor. Ou seja: Em quê (ela) é (ela mesma), já o
juízo e (ele) envida
em expor (paralelamente), como
o juízo de valor prolonga a valorização, isto é, em que (ele)
permanece
ainda (ele mesmo) sentimento.
(G)
Eis-nos (efetivamente),
ante um exemplo característico desta
estratégia de mediação que consiste
em alternar e alterar os regímenes
conceptuais. Ou seja: Contra o regímen dominante do pensamento
ocidental, LOCKE tende a favorecer o
regímen turbulento. E no entanto
(ele)
rejeita (ao mesmo tempo), se confinar
nisso, visto que isto equivaleria
favorecer um monologismo às
expensas de um outro. Ele não coloca (por
conseguinte), tanto em oposição como em diálogo com o primeiro, procurando nas suas sinuosidades, os seus interstícios,
os seus intervalos.
(H)
De um certo modo, LOCKE reintroduz (outrossim), entre os regímenes
conceptuais, esta lógica do dom e a sua regra de reciprocidade que
MAUSS descobria no fundamento das
sociedades “arcaicas” e do qual, na sua qualidade primeira de Antropólogo,
BATESON
verificava a falência nos esquemas relacionais privilegiados no
Ocidente (BATESON...).
Continua...
Lisboa, 04
Junho 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista
--- Cidadão
do Mundo)