terça-feira, 5 de junho de 2012

(6º) Estudo ensaístico Sexto:


 Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

(A):

            Na sua vontade de encontrar uma mediação entre a intencionalidade de F. BRENTANO (1838-1917) e o Naturalismo de W. JAMES, o projeto de LOCKE de uma Ciência dos valores, se situa (além disso), na mesma cruzada filosófica que a Fenomenologia de EDMUND HUSSERL (1859-1938) e caminha (entretanto), em sua exata oposição, visto que (ele) rejeita fazer da intencionalidade uma condição (a priori), do saber. De feito, Todos os esforços de HUSSERL, na sua obra: “Filosofia como Ciência rigorosa” (1911), ou “Meditações cartesianas” (1929), se aparenta (com efeito), à uma tentativa desesperada de recuperar (em benefício) do regime dominante, os adquiridos conceptuais do regime turbulento, para os pôr ao crédito do ponto de vista transcendental.

(B):
            A contrapelo (e ao invés), LOCKE escolheu, como o filósofo francês, H. BERGSON (1859-1941), manter a primazia do “fluxo da experiência” do qual procede (em última instância), toda formalização. Para (eles) a dimensão primeira da consciência, é a temporalidade, que sozinha permite uma estruturação da experiência: “Consciência significa (antes de mais) memória”, assevera BERGSON e o que importa, desde então, recuperar/reaver é “duração e a mudança na sua mobilidade original” (...), assim como, as cristalizações da memória, tendo em vista a prática. Donde e daí, a verdadeira Ciência da consciência é (por conseguinte), a teoria dos valores e o verdadeiro problema da Filosofia é o da aquisição do desenvolvimento ou das mutações dos nossos sistemas de valor à partir dos nossos diversos modos de valorização.

(5º) Estudo ensaístico Quinto:


                        Na verdade, se nos afigura relevante consignar, que à semelhança do economista e sociólogo alemão, MAX WEBER (1864-1920) e do filósofo alemão, GEORG SIMMEL (1858-1918) e (outrossim), na filiação do filósofo e psicólogo norte-americano, WILLIAM JAMES (1842-1910), cujo Pragmatismo opunha, em 1907, dois temperamentos filosóficos antitéticos (os “espíritos duros” e os “espíritos moles”), para os reconciliar (em seguida), na sua Filosofia da experiência (1909), DU BOIS e LOCKE foram (rapidamente), tentados superar o tradicional antagonismo das lógicas conceptuais para se situar numa espécie de “entre-dois”. É nesta perspectiva que vamos expor as suas reflexões no atinente às noções de valor, de raça e de cultura.

(A)          De feito, na origem e no antagonismo dos valores, como se fosse, a articulação entre traços culturais e características raciais que constituíam (com efeito), no início do século XX, temas filosóficos maiores. De facto, os pensadores afro-americanos não podiam nisso quedar indiferentes, mesmo se as suas vozes não eram (seguramente), as mais entendidas/ouvidas.
(B)          De anotar (de imediato), que as lúcidas especulações filosóficas de DU BOIS foram reconduzidas e aprofundadas por ALAIN LOCKE, o qual se revelou (além disso), mas perseverante e original que o próprio DU BOIS (concretamente), na sua exploração de uma possível “Ciência dos valores” e (completamente, por consequência), comprometido como (ele), na sua crítica do conceito de raça.
(C)          LOCKE redigiu (com efeito), duas teses de doutoramento (assim como), artigos sobre a teoria dos valores. Produziu (identicamente), durante a sua carreira académica, numerosos ensaios sobre a História e a Sociologia das relações inter-raciais, nos Estados Unidos, como na Europa ou nas Antilhas. Além das suas conferencias de 1915-1916, convém citar, na década de quarenta do século XX, as suas conferencias em Francês sobre o “Papel do Negro na Cultura das Américas” e várias coordenações de obras colectivas (LOCK 1942...). Por causa da sua finesse argumentativa, os seus escritos sobre o valor, a raça e a cultura apresentam (presentemente), ainda um interesse (quão enorme e assaz avisado).

domingo, 3 de junho de 2012

(4º) Estudo ensaístico Quarto:


Continuação dos Estudos anteriores...


(1)          De feito (et pour cause), DU BOIS, preferindo (ostensivamente), a não-violência, propõe (identicamente), romper com a lógica cumulativa da esquimogénese que (cedo ou tarde), desemboca (necessariamente), em afrontamentos. A diferenciação simétrica, fazendo apenas (com efeito), incrementar a hostilidade recíproca, enquanto a diferenciação complementar acentua sempre o desequilíbrio até à ruína do sistema, em todos os casos. Reclamar-se como (nesse ponto), princípios da Constituição Americana, significa (em contrapartida), formular uma exigência de reciprocidade que DU BOIS termina por justificar, no fim do seu livro, identificando o Povo Negro ao “Dom do espírito”. (...).
(2)          E, transformando todos os inatos atributos do seu Povo, em oferenda e insistindo (designadamente), nesta espiritualidade nutrida dos mais elevados princípios, DU BOIS, nos revela (sem dúvida), concomitantemente, em quê consiste (verdadeiramente), o “espírito do dom”.
(3)          Aqui, neste ponto do nosso Estudo, vale a pena trazer à colação, os doutos ensinamentos do conceituado sociólogo e antropólogo Francês, Marcel MAUSS (1872-1950), considerado como o “pai” da Etnologia francesa. Na verdade, nas suas lúcidas interpretações desta “forma e razão de troca nas sociedades arcaicas”, MAUSS e os seus continuadores insistiram (constantemente), com efeito, numa tripla obrigação. Ou seja: A obrigação de dar implicava a de receber, que implicava a de restituir. De anotar, que estas obrigações são (então) compreendidas, em termos (puramente), pragmáticos. Isto é (elas) permitiriam criar vínculo e evitar as hostilidades, instaurando um contra-dom, diferido e diferente. “Recusar dar, não ter o cuidado de convidar, como recusar aceitar, equivale a declarar a guerra”, consigna (destarte), MAUSS. Já (por seu turno), no âmbito desta problemática, o filósofo francês, Jean-Pierre DUPUY (n-1941), sublinha a ambivalência fundamental de toda reciprocidade-tornada manifesta-segundo (ele), pela raiz escandinava (warre) que serve (ao mesmo tempo), de etimologia à guerra (war) e à espécie/modelo, artigo, mercadoria (ware).
(4)          Eis porque, nos parece (logicamente), que, insistindo no carácter voluntário do “dom negro”, DU BOIS, abre outras perspectivas e nos elucida, como a única lógica da troca assume como alternativa à violência! “A obrigação de dar” não poderia (unicamente), se interpretar como uma atitude interessada. Ela participa (mais amplamente), de uma “política de reconhecimento”.
(5)          Com efeito, quando DU BOIS lembra (com razão), que os Negros se urdiram (eles mesmos), nas malhas da trama da história ocidental, não nos parece, dizer outra coisa. Demais, as pertinentes análises da sua “identidade” esquissadas pelo autor das “Almas do Povo negro”, fazem (por conseguinte) convergir Sociologia, Psiquiatria e Antropologia para pensar as especificidades da condição negra, porém (elas), nos oferecem (simultaneamente), um novo quadro teórico e prático para compreender e superar os principais efeitos da dominação social e simbólica.

Lisboa, 02 Junho 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).

(3º) Estudo ensaístico Terceiro:


 Continuação...

(I):
            Na verdade (et pour cause), DU BOIS sabe, além disso, se mostrar pioneiro, em matéria psiquiátrica. Eis (com efeito), como (ele) descreve, um pouco, mais adiante, o “Desvio do homem negro entre fins contraditórios”. Atentemos (então), no acutilante conteúdo de verdade do extracto seguinte:

                        “O artesão negro está dilacerado por esta alternativa-por
                        um lado, escapar ao desprezo que têm os Brancos para
                        uma nação de simples lenhadores e pulsadores, por outro,
                        lavrar, pregar e cavar para uma horda miserável. E a sua
                        luta só pode terminar num único resultado: Fazer dele um
                        operário pobre, visto que ele apenas coloca metade de
                        coração em cada uma das causas. (...) O pretenso sábio
                        negro era confrontado com o paradoxo seguinte: O
                        conhecimento do qual o seu povo tinha necessidade era só
                        contos e lendas para os seus vizinhos Brancos, enquanto o
                        conhecimento ensinado pelo mundo branco era o hebreu
                        para os da sua carne e do seu sangue. O amor inato da
                        beleza e da harmonia que carreia as almas do seu povo,
                        mesmo as mais grosseiras, à dançar e à cantar, apenas
                        suscitava dúvida e confusão na alma do artista negro. De
                        feito, a beleza que lhe era revelada era a beleza espiritual
                        de uma raça, que o seu público mais vasto desprezava,
                        porém lhe era impossível formular mensagem de um outro
                        povo. Dezenas de milhares de pessoas esgotaram-se nesta
                        contradição, no esforço para satisfazer ao mesmo tempo,
                        dois ideais irreconciliáveis-esgotamento que causou tristes
                        devastações na sua coragem e na sua fé, que os enviou
                        adorar falsos deuses e invocar vias de saudação
                        perniciosas e que, por vezes, pareceu mesmo sobre a ponte
                        de lhes fazer vergonha de elas mesmas”. (DU BOIS).

(II):
            Pode-se, lendo estas linhas, descobrir numerosos pontos comuns com a situação do double blind (ou “duplo vínculo”), “duplo constrangimento” -tal como o teorizou o antropólogo inglês, GREGORY BATESON (1904-1980), autor, aliás, da “Teoria do double blind”, na década de 1950. Seja qual for, o seu estatuto sócio económico, o indivíduo Negro americano se encontra (com efeito), segundo DU BOIS submetido à injunções contraditórias e se encontra (destarte), apanhado na ratoeira de diversos duplos vínculos”, que se poderia resumir, no seguinte modelo. Ou seja.