sábado, 3 de março de 2012

(XXXVIII) Alors que faire?

             Prática de ACTUAÇÃO TRIGÉSIMA OITAVA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

            En effet, “La traite et l’esclavage sont evidemment liés, l’une étant la condition de l’autre dans le cadre de la formation des sociétés de plantation des Amériques. Il s’agit néanmoins de deux aspects distincts  de l’institution esclavagiste (...).”


Uma oportuna Leitura do
Tráfico negreiro atlântico:

            NP:
                        Não há dúvida nenhuma, que o tráfico negreiro atlântico assume, no âmbito da História do Continente Africano, um lugar central, sobretudo, pela sua significação moral e emocional (outrossim e ainda), para a relevância que (ele), pôde ter no desenvolvimento do Continente.
                        Com efeito, relevantes e complexos foram os seus efeitos, que só se pode (os) compreender à luz do carácter (peculiar e sui generis), das Sociedades Africanas, forjado (muito antes), pela sua longa luta com a Natureza.
                        E, precisando, de modo (dialecticamente consequente), as ideias e os eventos (na verdade), o primeiro efeito a relevar é (assumidamente), demográfico, por motivos óbvios. De anotar (antes de mais), que o tráfico interrompeu o crescimento da população em África Ocidental durante dois séculos. Em seguida, estimulou formas novas de Organização política e social, o recurso à mão-de-obra servil em todo o Continente e atitudes mais brutais para com o sofrimento.
                        Vale a pena (de feito, sublinhar), que a África Subsariana estava já atrasado (tecnologicamente falando), porém, o tráfico de escravos apenas fez acentuar o fenómeno. Para além de toda esta dor, se afigura pertinente e fundamental, recordar que os Africanos lhe sobreviveram, preservando (amplamente), intactas a sua independência política e as suas instituições sociais. Todavia (paradoxalmente), este período vergonhoso mostrou (identicamente), a energia e força da resistência Humana sob os seus aspectos mais corajosos. Enfim e, em suma, se pode asseverar que: O esplendor da África encontra-se outrossim no seu sofrimento!


(I)
            (a) No longínquo ano da Graça de 1441, um jovem capitão português, de nome, Antam Gonçalves raptou um homem e uma mulher, na Costa Ocidental do Sara com o fim de comprazer ao seu Soberano, o Príncipe Henrique, o Navegador. Saiu-se bem. Foi bem sucedido! E foi feito Cavaleiro do Infante. Com este ato (quão insólito), de pirataria, deu-se o início do tráfego negreiro atlântico, com todo o seu cortejo de consequências, quão bárbaras e assaz funestas.
            (b) Quatro anos mais tarde, os Portugueses edificaram, na Ilha de Arguim, ao largo da Costa da Mauritânia, um forte à partir do qual poderiam se procurar escravos e (mais ainda), o ouro (singularmente escasso), na época. Após ter malogrado, em 1415, se assenhorar do comércio do precioso metal (ocupando), Ceuta, na Costa marroquina e sempre em busca das suas fontes, desceram as costas da África Ocidental (um pouco e um tanto ou quanto), ao acaso (leia-se, outrossim, à sorte). De salientar, que Arguim fora concebido para desviar as caravanas de ouro, alando-se para Marrocos.
            (c) No entanto, o que é facto, é que os escravos africanos não constituíam um mero subproduto. Com efeito, desde meados do século XIV, existia na Europa do Sul, um mercado, muito ativo. A mão-de-obra era escassa após a Grande Peste e a escravatura tinha sobrevivido, desde o Império Romano, no âmbito das atividades domésticas e em bolsas de Agricultura intensiva (em particular), na produção do açúcar da qual os Europeus tinham apreendido a técnica dos Árabes, aquando das Cruzadas. De anotar, que as plantações de cana do açúcar, se estenderam para o Oeste através de todo o Mediterrâneo, até às Ilhas, como a Madeira, para terminar nas Américas (dependendo totalmente), cada vez mais e mais, do trabalho servil. O comércio de escravos foi (em grande parte), a resposta à esta exigência!
            (d) Antes de mais, vale a pena, sublinhar, que o comércio de escravos dependia (entretanto), dos Africanos aceitar vender! O que (aliás) fizeram, visto que o subpovoamento, que tornava difícil o domínio da mão-de-obra, através de meios (puramente), económicos, tinha já estimulado a escravatura entre numerosos povos africanos (mas não todos!).
            (e) Os Portugueses de Arguim negociavam com os Mouros, velhos fornecedores de escravos ao comércio trans-Sariano. Descobriram um povo que participava nesta saga deletéria, já quando, em 1444, desceram mais ao Sul, até ao rio Senegal. Na obra: “As viagens de Cadamosto” (Londres, 1937), pode-se ler a seguinte elucidativa passagem: “Rei, escreveu um cronista, vi várias razias, que lhe forneceram numerosos escravos originários dos países vizinhos, o do seu próprio país. Empregam-nos...à cultivar a terra...Todavia, os vende também aos (Mouros)...contra cavalos e outras mercadorias”.
            (f) No âmbito desta dinâmica esclavagista, temos a referir, que os cavaleiros Ouolof compravam cavalos aos Portugueses, dando-lhes entre nove e catorze escravos por animal. Todos os povos da Senegâmbia não estavam (por essa razão), comprometidos neste comércio. Explicitando:
            --- Os Jola da Casamansa (no Sul do atual Senegal), não tinham chefes e (de modo algum), procuravam adquirir mercadorias, à exceção do gado. Recusaram (por conseguinte), negociar com os Europeus até ao fim do século XVII e não conheceram mão-de-obra servil antes do século último.
            --- Os Baga (ainda mais ao Sul), na Guiné dos nossos dias, recusaram (no que lhes diz respeito), tomar a mínima parte no tráfego, todo ao longo da sua história.
            --- Neste particular, vale a pena, referir, que (outrossim), os Kru da Libéria  e demais outros povos vizinhos resistiram com uma coragem feroz e indómita. De feito, uma vez capturados, estavam (intimamente), tão decididos em matar os seus novos “senhores”, ou a se suicidar, a ponto que os Europeus cessaram de os escravizar. Nas Américas, um número (assaz importante), de escravos, que fugiram para fundar comunidades “gentias”, eram oriundos de Sociedades sem Estado!

Lisboa, 01 Março 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).