quinta-feira, 8 de março de 2012

(XL) Alors que faire?

                         Prática de ACTUAÇÃO QUARENTA:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)


(I)
                        “Muitos dos nossos súbitos desejam ardentemente,
                        as mercadorias portuguesas, que as vossas gentes
                        trazem ao nosso reino. Para satisfazer este apetite
                        desordenado, eles se apoderam de muitos dos
                        súbitos negros, livres ou alforriados e mesmo
                        nobres, filhos de nobres, até de membros da nossa
                        própria família. Vendem-nos aos Brancos...Esta
                        corrupção e esta depravação estão espalhadas que
                        a nossa terra se encontra inteiramente despovoada
                        ...É como certo o nosso desejo que este lugar não
                        sirva nem ao comércio nem ao tráfego dos
escravos”  Extrato da Carta de Afonso Iº à João III, 18 Outubro 1526 e 6 Julho 1526 (IN Correspondência de Dom Afonso, rei do Congo, 1500-1543).
            Como se pode ver e apreciar, nesta carta, Afonso se lastimava ao seu homólogo lusitano da situação caótica e terrificante que vivia o seu reino por causa do tráfego negreiro, dando conta (ao mesmo tempo), do seu desejo em pôr cobro aos inúmeros desmandos, no desígnio que o seu reino “não servisse nem ao comércio e nem ao tráfego dos escravos”.

(II)
            O Rei de Portugal (por seu turno), retorquiu, asseverando que o Congo mais nada tinha para vender. Entretanto, sem pôr um termo ao tráfego, Afonso limitou-o e o regulamentou. O seu reino estendeu-se e durou até meados do século XVII. Os Portugueses foram para outro lugar, criando em 1576, um novo depósito em Luanda, que se tornou para os Europeus uma base de conquista e de razia diretas de escravos.


(III)
            A Fundação Luanda correspondeu à uma fase nova do tráfego. As suas vitimas originárias da África Ocidental partiram (em primeiro lugar), no essencial, para Portugal. Em seguida para a Madeira, depois para São Tomé. As viagens diretas para as Américas começaram em 1532. Quando as enfermidades europeias e africanas destruíram os povos ameríndios, os Africanos os substituíram, visto que eram (efetivamente), os únicos à ser e existir em número suficiente, menos onerosos que os trabalhadores brancos e desfrutavam de uma certa imunidade ante à estas enfermidades, por que viviam na periferia tropical do Antigo Mundo. No fim do século XVI (perto de 80%), de entre eles partiam para as Américas (em particular para o Brasil), onde os Europeus introduziram a cana do açúcar à partir dos anos 1540.

(IV)
            Todavia, os escravos eram (ainda), em número (relativamente), limitado: De 3000 à 4000 por ano (em média), durante os oitenta (80) últimos anos do século XVI. Estes números provêm de um Estudo exaustivo realizado nos anos 1990, na base de um recenseamento de 27 233 viagens de exportação de escravos realizados entre 1519 e 1867, seja (aproximadamente), 70% das viagens deste tipo, os 30% falhos tendo sido acrescentados por estimação. (...).

(V)
            Com o decorrer do tempo e na sequência dos eventos, as fontes de abastecimento se deslocaram (a pouco e pouco), para o Sul. Os primeiros escravos vinham (na sua maioria), da Senegâmbia, da Costa da Guiné (Guiné-Bissau à Libéria atuais), do Congo e de Angola (importante fornecedor durante toda a duração do tráfego). Para meados do século XVII, foi o circuito/percurso da Costa-de-Ouro, do Golfo do Benim (em particular o delta do Níger) e de Moçambique. Em 1807, o Golfo do Biafra, Angola e Moçambique forneciam mais de 80% das exportações de escravos ingleses e franceses e a quase-totalidade do comércio português.

(VI)
            De feito e (por outro), o que é que é facto (na verdade), as plantações tinham necessidade de homens jovens. A ROYAL AFRICAN COMPANY precisava aos seus agentes, nestes temos: “Em abastecendo os nossos navios em escravos, acautelem-se sempre ao que os Negros sejam de boa aparência e estejam de boa saúde, da idade de 15 anos pelo menos; sem ultrapassar 40; que pelo menos 2/3 sejam homens”. Estas últimas instruções foram seguidas (à letra). De todos os escravos exportados para as Américas, dois terços, quase (exatamente), eram de sexo masculino. Regra geral, valiam sobre a quota de 20 à 30% mais cara que as mulheres.

(VII)
            No entanto, como as sociedades Africanas preferiam estas, havia uma complementaridade entre os diversos ramos do tráfego. Porém, os mercadores/negociantes Europeus tomavam (sem dúvida), mais crianças (de menos de 14 anos), que o teriam pretendido. Numa amostra particular, 12% dos escravos estavam registados como crianças, no fim do século XVII e 23% no XVIII. Este incremento era (sem dúvida), devido (em parte), às leis europeias, que permitiam acumular/empilhar mais crianças que adultos num navio!

Lisboa, 08 Março 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).