Prática de ACTUAÇÃO QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Uma Abordagem (dialecticamente), consequente dos
Primórdios da magna Questão que se prende com o
Tráfego negreiro (...):
(I) Segundo o monumental Estudo (SLAVE TRADE, 1997), da autoria do historiador e romancista britânico, HUGH THOMAS (n-1931), o primeiro transporte de escravos negros organizado pelos Europeus é datado de 1444, quando um navegador português traz consigo, desde as Costas Africanas 235 escravos à Portugal. Desde 1448, o tráfego se intensifica e um milhar de escravos Africanos são encaminhados para as plantações das Ilhas portuguesas da Madeira e dos Açores. Nada mais (aliás), na Antiguidade como na Idade Média, a escravatura tinha sido edificado numa estrita divisão racial.
(II) Com efeito, a escravatura dos Negros existia (todavia), desde (há muito, muito tempo), já atestada no Egito Faraónico , no século VI antes J. C., em que a Núbia constituía um reservatório de mão-de-obra. No entanto, os núbios não se encontravam acantonados no grupo dos escravos e se pensa mesmo, que alguns puderam ser Faraós.
(III) Vale a pena elucidar (antes de mais), que, a presença de escravos negros nos meandros mediterrâneos desde a Alta Idade Média (mais identicamente), na Ásia (Índia, China, Indonésia), resulta da influência muçulmana. Circuitos de tráfego dos Africanos existem com o famoso filão trans-sariano em que caravanas de aprovisionamento no Sul da África alimentam os mercados do Norte e os países do Médio-Oriente.
(IV) É de facto, nestes mercados que os Europeus se abastecem!... Escravos negros vivem em Espanha, França, Itália desde o século X. Todavia, a instituição permanece (ainda), esbatida e dissolvida na da escravatura medieva em que o escravo não é dominado e subjugado (aparentemente), em função da sua cor da pele: Escravos negros e brancos mesclam-se! Para alguns historiadores (HARRIS, 1982), a presença (muita antiga), de escravos na Ásia permite situar a origem da diáspora Africana, como um evento anterior à grande deportação para a América.
(V) Enfim, se nos afigura, elucidar que, na África Subsariana, antes da chegada dos Europeus, os circuitos de comércio dos escravos sob influência muçulmana se duplicam de um “tráfego interior”, vinculando-o aos sistemas sociais Africanos em que a escravatura é praticada. A origem dos escravos é diversa, quer que a servidão/submissão resulte de guerras, razias, quer corresponda à liquidação de uma dívida ou se integre, no âmbito de um sistema penal.
(VI) A presença destes dissemelhantes circuitos de tráfego (que preexistem), ao estabelecimento do tráfico transatlântico explica (em parte), a cumplicidade de certas elites africanas ao lado dos Europeus. Uma vez, o tráfego encetado e entabulado (ele), se efetua, desde as Costas, onde os Europeus instalam fortes em territórios concedidos pelos soberanos Africanos. Estes controlam redes de abastecimento em escravos no interior das terras. Com a amplificação do comércio, as recomposições políticas locais operam-se e presidem a emergência de novos Estados cuja prosperidade está vinculada (direta ou indiretamente), ao comércio Negreiro.
(VII) Com efeito (et pour cause), o tráfego altera e transforma a demografia das regiões Africanas, onde (ele), exerce e como (aliás), conduz às mutações socioeconómicas apreciáveis e assaz relevantes.
(VIII) Enfim, eis porque, posto tudo isto: Reconhecer a implicação das elites africanas neste tráfico não deve servir para minimizar a responsabilidade das potências europeias! Com efeito, é (aliás), bem à partir da Europa, que o tráfego é programado, institucionalizado e organizado. Ele encontra os seus revezamentos e intermediários junto de dignitários locais cujo interesse reside na consolidação do seu poder, adquirido (designadamente), pela obtenção de armas como moeda de troca. Do mesmo modo, a resistência Africana deve ser afirmada! Ela traduz-se por levantamentos/sublevações populares, revoltas contra as razias, amotinações/motins e evasões/fugas.
Lisboa, 09 Março 2012
KWAME KONDÉ
