“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Estudando o SIDA em África (Continuação):
O SIDA (Síndroma de Imunodeficiência Adquirida) é uma enfermidade provocada pelo vírus HIV que debilita o Sistema Imunitário, tornando o corpo humano vulnerável a Infecções que acabam por o vitimar.
A enfermidade só foi (cabalmente), identificada em 1981. É (geralmente), transmissível por via sexual (através do sémen e fluidos vaginais), por via sanguínea (por contacto com o sangue infectado através, por exemplo, de transfusões ou de partilha de objetos que estão em contacto com o sangue, como agulhas de seringa, etc.), ou ainda através do leite materno.
Suspeita-se (conquanto não haja confirmação peremptória), que a transmissão possa outrossim, ser através da saliva e de outros feridas corporais.
Está excluída a transmissão através do contacto social ou através de meio aéreo (espirros, tosse, etc.).
O período de incubação é, em média, de oito (8) anos!
As características da transmissão da enfermidade, que já vitimou largas centenas de milhares de pessoas em todo o Mundo, determinaram a identificação dos chamados “grupos de risco”, com evidência para os homossexuais e toxi-dependentes, conquanto hoje seja mais relevante ter em consideração os “comportamentos de risco”, já que é o grupo heterossexual o mais atingido.
A prevenção (nas suas várias dimensões), vai do parceiro único ao uso do preservativo, da troca autorizada de seringa ao controlo do sangue usado nos hospitais.
De referir, enfim, da existência do AZT, medicamento (mais eficaz contra o SIDA), que retarda a evolução da enfermidade!
(I)
Infelizmente (regra geral), os Estados reagiram com lentidão e sem um mínimo de interesse, à epidemia. Os seus dirigentes (na sua grande maioria), viam na epidemia, um golpe vergonhoso à uma dignidade nacional (frescamente adquirida), e de todo modo, aliás, um fenómeno que ultrapassava as suas capacidades de intervenção. No entanto, sob as pressões da Organização Mundial da Saúde (OMS), implantaram programas mínimos de luta contra o SIDA. Todavia, unicamente, Abdou DOUF (no Senegal) e Yoweri MUSEVENI (no Uganda), ponderaram com todo os seus pesos políticos para os manter e apoiar.
(II)
De anotar (antes de mais), que as primeiras reações dos povos (identicamente), foram (amiúde), marcadas pela denegação! A tomada de consciência foi rápida quando a amplidão da epidemia torna-se aparente. No entanto, o carácter insidioso da enfermidade, a ausência de todo tratamento eficaz, favoreceu o surgimento de explicações moralizantes e à estigmatização das pessoas atingidas, o que encorajou formas de dissimulação que contribuíram para a extensão da epidemia.
(III)
Concomitantemente, todavia, as robustas estruturas familiares africanas vinham (generosamente), em auxílio aos enfermos e às crianças órfãs, enquanto as ONG(S) proliferavam. Ou seja: No ano 2005, nada como em Uganda, perto de dois mil (de entre elas), lutavam contra o SIDA. A longa duração da enfermidade, a procura febril de um remédio, o fardo da assistência, a necessidade de preservar a dignidade familiar por funerais decentes, faziam do SIDA, uma doença dispendiosa (frequentemente), nefasta e ruinosa para as famílias pobres.
De anotar, que o seu custo social mais amplo, apareceu, de modo (particularmente), impressionante, em 2001-2003, quando o Malawi e as regiões vizinhas conheceram uma forma de um género novo (particularmente), severo entre as “famílias empobrecidas pelo SIDA”, no seio dos quais os idosos ou as viúvas, lutavam para vir em auxílio das crianças órfãs, sem que possuíssem bens para vender e sem esperança (outrossim), de melhorar a sua situação!
(IV)
De feito, de salientar, que a situação e o contexto se apresentam (cada vez mais e mais), preocupantes, por motivos e razões óbvios. Deste modo, temos que, os meados dos anos 1990, foram marcados por um profundo pessimismo. Com efeito, a epidemia se propagava a toda velocidade (sobretudo na África Austral), estando os programas governamentais sem dinheiro e sem energia, pois que a esperança de encontrar um remédio ou uma vacina terminara num nada! É, neste momento (contudo), que dois factos inesperados suscitaram novas esperanças! Ou seja:
(1) Um era a prova (originariamente em Uganda), que a cifra das pessoas infectadas pelo HIV começava a declinar à uma velocidade surpreendente. Ou seja: De 13% nos adultos no início dos anos 1990 à 6,7% em 2006. As razões são sempre discutíveis! Isto é:
a. Alguns afirmavam (por exemplo), que havia menos pessoas infectadas porque os comportamentos sexuais tornavam-se mais responsáveis, consequência das campanhas de Educação e à uma experiência direta dos sofrimentos dos enfermos (e os Ugandeses tinham sido todo particularmente expostos uns como aos outros).
b. Outros negavam o declínio da infecção ou a existência de uma mudança significativa nos comportamentos sexuais e declaravam que mais de 80% da redução do número de infecções eram devidas ao facto que os enfermos infectados morriam, mais frequentemente.
c. De anotar (neste particular), que a análise do fenómeno, conduzida entre 1998 e 2003, na parte Oriental do Zimbabwe leva pensar que a mudança dos comportamentos, assume-se, como a explicação principal, nesta região. Demais, as provas de uma redução de casos de infecção apenas emergem (lentamente), no Quénia (rural e urbano), em zonas rurais muito atingidas da Tanzânia, nas cidades de Burkina-Faso e da Zâmbia (assim como), em Abidjan, Kigali e Lilongwe.
d. Na verdade, as razões (em parte), algumas estavam certas, mas isto, nutriu uma esperança que a epidemia poderia (pelo menos), ser controlada! Este sentimento for reforçado por indicações, mostrando um uso acelerado de preservativos e o abandono pelos jovens de comportamentos sexuais irresponsáveis e (isto, identicamente), na África do Sul, em que, os mais velhos estavam (muito tempo), descontentes com uma “geração perdida”, alienada durante a luta contra o Apartheid.
(2) A segunda fonte de esperança foi a descoberta em 1994, que o primeiro medicamento antirretroviral (o azidotimidina), podia reduzir (espetacularmente), a transmissão do vírus das mães para os seus filhos. No início, era demasiado dispendioso para ser utilizado em África, no entanto, desde 1998, genéricos (mais baratos), se encontravam, no estádio de ensaios clínicos.
(3) Na África do Sul, no âmbito desta problemática que se prende com a utilização dos antivirais, esta questão provocou conflitos entre médicos, os militantes e os enfermeiros (de um lado), e (do outro), o Governo dirigido pelo ANC, que receava, que concentrar-se no SIDA, podia causar dano ao seu programa de assistência médica aos pobres. Destarte, enquanto os militantes se inspiravam nas tradições antiapartheid para implantar uma organização intitulada: Campanha de Ação para um tratamento (CAT); por seu turno, o Governo se refugiava no que os seus adversários denunciavam como manobras de obstrução e de denegação. Após quatro anos de querelas, decidiu (enfim), fornecer antirretrovirais às mulheres grávidas infectadas pelo VIH.
(4) Todavia, em 2003, anunciou a IMPLANTAÇÃO de um plano, visando procurar medicamentos para os que se encontravam num estádio avançado da enfermidade, afim de a conter (mas não para a curar!). Entrementes, o seu preço tinha baixado e os financiamentos internacionais tinham (consideravelmente), aumentado. Em Dezembro 2005, mais de 200 000 Sul-Africanos recebiam um tratamento antirretroviral, conquanto esta cifra representasse apenas 21% das petições/recursos.
(5) De anotar (outrossim), que (por seu turno), em toda África Subsariana 800 000 pessoas perseguiam um (seja: 17% dos que necessitavam). Onde os programas conheceram melhor êxito, foi em Botswana (85%) e no Senegal (47%).
E, para terminar (adequadamente), vai em jeito de Remate assertivo:
(a) Na verdade, a utilização dos antirretrovirais (e por mais forte razão, a perspectiva de descobrir uma vacina eficaz), modificava o olhar direcionado sobre a enfermidade. Ou seja: A epidemia do SIDA se (frequentemente), reputada como uma metáfora do fracasso/malogro da África em entrar na modernidade, poderia (pelo contrário), constituir o meio pelo qual a Medicina moderna assegurava (enfim), a preeminência sobre o Continente.
(b) Por outro lado, as raízes da epidemia mergulhavam (profundamente), no passado da África, no descomprometimento do Estado (como no caso da luta antiapartheid dos anos 1980), no rápido crescimento demográfico dos anos 1990, das cidades e das redes comerciais do período colonial, das grandes epidemias, que marcam os inícios do domínio europeu, noções de honra e de dever familiar graças aos quais os Africanos tinham tão (frequentemente), enfrentado a adversidade e a colonização do espaço natural, factos que estavam (aliás) no cerne da sua história e que (doravante), uma vez mais, lhe imprimia a sua marca.
Lisboa, 23 Fevereıro 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).