domingo, 9 de outubro de 2011

(V) Alors Que faire?

Prática Quinta de Actuação:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)


Um oportuno Apontamento sobre a Sobrevivência Cultural


            NP:

            Com efeito, apoiando-se na Literatura, Filosofia, Psicanálise e História logra-se (de modo dialecticamente consequente):
            --- Repensar as questões (muito actuais), no atinente à Identidade e de pertença nacionais
            --- Superar (graças ao) conceito (assaz fecundo) de hibridismo cultural, a visão de um Mundo dominado pela oposição entre o Si e o outro
            --- À discernir como (através) da imitação e da ambivalência, os colonizados introduzem entre os seus colonizadores, um sentimento de angustia que os debilita significativamente
            --- (ou ainda), à compreender mais (minuciosamente), os elos/vínculos (que existem) entre colonialismo e globalização.

(I)
            Convém (antes de mais), sublinhar que a crítica pós-colonial testemunha acerca das forças desproporcionadas implicadas na luta para a autoridade política e social, no seio da Ordem mundial hodierna. De facto, as perspectivas pós-colonial emergem do depoimento colonial dos países do Terceiro Mundo e dos discursos das minorias, no seio das divisões geopolíticas Este e Oeste, Norte e Sul.
            Por seu turno, estas forças intervêm nestes discursos ideológicos da modernidade (que se esforçam) em outorgar uma “normalidade” hegemónica ao desenvolvimento desigual e às histórias diferenciais (frequentemente) desfavorecidas das nações, das raças, das comunidades, dos povos. De feito (elas) formulam as suas revisões críticas (em torno), de questões de diferença cultural, de autoridade social e de discriminação política para revelar os momentos antagonistas e ambivalentes, no seio das “racionalizações” da modernidade.
            E (já agora), poderíamos (outrossim) defender que o projecto pós-colonial (ao nível teórico mais geral), procura explorar estas patologias sociais (“perda de significação, condições de anomia”), que já não se limitam em “se reagrupar em torno do antagonismo de classe, porém, são rompidas em contingências históricas, amplamente disseminadas”.


(II)
            De anotar, que estas contingências constituem (frequentemente), os esteios (historicamente) necessários para elaborar estratégias de emancipação e encenar outros antagonismos sociais. Todavia, o que é facto, reconstituir o discurso da diferença cultural exige outra coisa que uma mera modificação dos conteúdos e dos símbolos culturais. Sim (efectivamente), exige uma permuta no mesmo quadro temporal de representação que jamais se assume adequada.
            De feito, necessário se impõe (levar a cabo), uma revisão radical da temporalidade social, em que se podem escrever histórias emergentes, a rearticulação do “sinal”, em que as identidades culturaispodem se inscrever.
            De precisar (outrossim), que a contingência como o tempo indicativo de estratégias contra-hegemónicas não constitui uma celebração da“privação” ou do “excesso” de uma série auto-perpétua de ontologias negativas. Por seu turno, um tal “indeterminismo” constitui o indicativo do espaço conflituoso e (por conseguinte), produtivo em que o arbitrário do sinal da significação cultural emerge nos limites controlados do discurso social.

(III)
            Com efeito, no âmbito desta acepção salutar, uma série de teorias críticas contemporâneas sugere que é (à partir) dos que sofreram a condenação da história (sujeição, repressão, diáspora, deslocalização), que aprendemos as nossas lições (mais duradouras) de vida e de pensamento. Existe (mesmo), uma convicção crescente que a experiência afectiva da marginalidade social (tal como ela emerge nas formas culturais não canónicas), transforma as nossas estratégias críticas. Isto nos coage (então), a defrontar o conceito de cultura (fora dos) objectos de arte para além da canonização da “ideia” da estética, à ver na cultura uma produção desproporcionada, incompleta de sentido e de valor (frequentemente), composta de exigências e de práticas incomensuráveis (oriundas) do acto de sobrevivência social.
            Na verdade, a cultura esforça-se porcriar uma textualidade simbólica, em outorgar ao quotidiano alienante uma aura de sentido de si, enfim, uma promessa de prazer.
            De facto, de sublinhar (antes de mais), que a transmissão de culturas de sobrevivência não se efectua no museu imaginário (bem organizado) das culturas nacionais, com as suas pretensões à  continuação de um “passado” autêntico e de um “presente” (bem vivo), para que esta escala de valores seja preservada nas tradições organicistas “nacionais” do romantismo ou nas proporções (mais universais), do classicismo.

(IV)
            Enfim e, em suma:
                                   Efectivamente, a cultura como estratégia de sobrevivência é (simultaneamente), transnacional e translacional(leia-se outrossim de translação). Ou seja:
(1)           Ela é transnacional porque os discursos pós-coloniais contemporâneos estão enraizados em histórias específicas de deslocação cultural como se tratasse da “passagem do meio” da escravatura e do desprendimento, da “saída da Europa” da missão civilizadora, da falsa acomodação da migração do Terceiro Mundo para o Ocidente após a Segunda Guerra Mundial, ou do tráfico dos refugiados económicos e políticos em e no exterior do Terceiro Mundo.
(2)           Por seu turno, a cultura é  de Translação porque estas histórias espaciais de deslocação (doravante acompanhadas das ambições territoriais de tecnologias de comunicação “globais”), fazem da questão do modo de significação da cultura, ou do que é significativo pelo vocábulo cultura, uma questão (moderadamente), complexa.

Lisboa, 2011/10/05
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).