Esta semana já ouvi duas notícias sobre a vida de dois professores universitários na Grécia. E deu-se-lhes importância nas televisões. E dou-lhe eu importância agora porque esses professores são representantes da chamada classe média.
Ora bem, a primeira notícia foi veiculada no último domingo pelo Prof. Marcelo, na TVi. Contou ele que esteve numa reunião a conversar com uma colega universitária grega que lhe disse que actualmente, devido às reduções salariais, que no caso dela chegaram já a 60%, passaram a viver, no apartamento que ela dantes partilhava apenas com o marido, 12 pessoas (entre filhos, noras, genros e netos).
A segunda notícia ouvi-a eu ontem da boca de Ana Lourenço, num telejornal da SIC Notícias. Disse a Ana Lourenço, que teve conhecimento de um caso em que um professor universitário grego já está a acrescentar água ao leite dos pacotes para poder suprir à alimentação dos filhos.
Eu não tenho a menor dúvida que é este o paradigma para que Portugal caminha. Primeiro porque acredito na lógica, e também porque, por profissão, sei que a mesma receita tende a produzir os mesmos resultados nos doentes a elas submetidos.
É a linha oficial ― ouve-se dizer amiúde aos políticos e governantes(?) ―: «Nós não somos a Grécia». De facto, Portugal não é a Grécia ― «ainda não é a Grécia», dizem uns ―; mas a verdade é que Portugal já é uma Grécia.
E a população portuguesa só não conhece a dimensão do desastre que a espera porque há um 'pensamento único' que é partilhado pelos detentores do dinheiro, pelos políticos e governantes(?) por eles controlados, e pela comunicação social sua propriedade, bem como pelos "jornalistas" (seus assalariados e lacaios).
Só isso explica que, por exemplo, uma reunião sob o lema "Economia portuguesa: uma economia com futuro" havida na semana passada, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, em que participaram economistas de renome internacional, mas não alinhados com o pensamento único da desgraça inevitável, não tenha sido de todo noticiada e debatida pois pretende-se é dar voz aos cantigas esteves, medinas carreira, joões duques, nunos cratos, e mais uma catrefada de gente de duvidosa espinha dorsal que fazem o servicinho aos financeiros que dominam a economia dos países em crise e impõem a miséria aos cidadãos europeus.
Só hoje o Jornal de Negócios resolveu falar, timidamente, sobre o assunto, e mesmo assim vejam o acinte com que a notícia foi escrita: «Na Gulbenkian, um vasto painel de economistas heterodoxos discutiram as saídas para a crise. Falou-se em saídas do euro. De Portugal... e da Alemanha.»
«Economistas heterodoxos», é assim que aquele jornal apelida os participantes no evento; certamente para os diferenciar dos "economistas amestrados" que o poder financeiro tem por aí a papaguear a inevitabilidade da 'austeridade', da 'recessão' e da miséria.
Lutar é preciso! Mas infelizmente o português acorda sempre tarde e a más horas...
Lutar é preciso! Mas infelizmente o português acorda sempre tarde e a más horas...