Os professores que conheço andam o ano todo a nadar em papéis espalhados por tudo quanto é superfície horizontal de suas casas, num trabalho insano, de Sísifo, para satisfazer as exigências burocráticas e administrativas do ministério da educação para que trabalham. Acho que com isso não têm tempo para preparar convenientemente as aulas e que não terão tempo suficiente para uma vida emocional gratificante e plena.
Como se isso já não bastasse, agora parece que têm que deixar de escrever os documentos, textos, pontos, etc., em língua portuguesa. São obrigados, a partir deste ano, a escrever tudo segundo a nova ortografia estupidamente criada, aceite e adoptada pelas autoridades.
Não quero jurar; mas eu creio bem que, pelo amor e pelo carinho que tenho pela língua portuguesa, eu, se fosse professor, não acataria esta directiva e enfrentaria todas as consequências daí advenientes, pois, acho que aquela obrigação é de uma violência extrema sobre quem conhece bem e aprecia toda a beleza, clareza, rigor e riqueza desta Língua.
Quando soube que Nuno Crato disse, em entrevista ao jornal ‘Público’, que o Acordo Ortográfico era «um facto», apeteceu-me mandá-lo à merda.