UMA UVA É PARA COMER!
Ser ‘às direitas’, ‘educado’, ‘correcto’, ‘um cavalheiro’ ― e coisas que tais ―, são conceitos burgueses em que fui formado, mas que de todo em todo não tive a plasticidade requerida para absorver, viver e transmitir. Sou um produto muito defeituoso da sociedade em que vivo pois não consigo satisfazer as normas de comportamento a que os ‘valores’ burgueses integrantes e definidores daquelas características obrigam. Por isso me fui afastando progressivamente do convívio com as multidões.
Longe de me considerar um misantropo ― que ideia absurda! ― serei antes um mafioso afectivo que não acredita nos falsos capuchinhos vermelhos que pululam nesta sociedade de plástico em que vivemos todos.
Prefiro dançar à volta de uma fogueira e comer carne crua, a participar num repasto burguês onde o arroto reprimido e a concupiscência disfarçada dilatam estômagos, causam rugas mentais e apoplexias diferidas no tempo, males estes arrasadores da genuinidade do ser.
Sei que a minha condição é detestável para a maioria das pessoas. É por isso que trago aqui este aviso aos incautos e às incautas que pretendam aproximar-se de mim.
Para mim ― carne crua! E não perdoo às uvas!!!...