terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Epístola Décima:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ  (1853-1895)


                        Acerca da Promoção das Políticas Culturais Africanas (1970-1980):
                        --- O regímen de partido único, que se impõe, no conjunto da África (na década dos anos 1970), como modelo de governo, confere aos dissemelhantes regimes implantados uma legalidade de facto. Sem dúvida, por preocupação de dotar esta legalidade arrancada pela força de uma legitimidade popular, os regímenes militares implantados se fazem investir por eleições disfarçadas, sobretudo (porém), por um elóquio de mobilização, de inspiração cultural.
                        --- É um período caracterizado (efectivamente), por uma espécie de fuga para a frente em todos os géneros. Ou seja:
                                    - Plano de Monróvia,
                                    - Plano de Lagos,
                                    - Autenticidade,
                                    - Carta cultural de Porto Louis.
                        Tantas expressões formalizadas de uma prospectiva magicada minuciosamente, nas suas torres de marfim por super-estruturas burocráticas e políticas, quer ao nível dos Estados, quer ao nível da Organização da unidade africana. Aliás, a segunda edição do Festival das Artes negras, em Lagos (Nigéria), em 1977 é uma recuperação militarizada de um Evento, não obstante, altamente cultural, por razões de legitimação política e geopolítica.

                        --- De sublinhar, (todavia), algum tempo antes, por iniciativa da UNESCO, se realizara em Accra (no Gana), a Reunião regional sobre as Políticas culturais em África (Africa CULT), com o fim de salvaguardar e promover as Identidades culturais, assim como dotar os países africanos dos instrumentos técnicos, intelectuais e jurídicos necessários para elaborar estratégias e programas (de longo prazo), o todo em nome da “democratização da cultura”.

                        Da Cultura e Desenvolvimento: (1980-1990):
            @ Como o asseverava nessa época um antigo ministro do Zaire (futura República Democrática do Congo: RDC), Pierre M’baze NSOMI: “Iln’y a pas de développement sans mentalité de développement”.
            (£) A proposta de NSOMI fazia eco das declarações na moda, a saber: 
n  “La culture est l’alpha et l’oméga du développement » : SENGHOR ;
n  « La culture est le fer de lance du développement » : MOBUTU.
Época em que os intelectuais e os universitários africanos (montent au créneau) e organizam fóruns de elevado nível estratégico sobre a África, designadamente: A sufocação do Apartheid (na África do Sul); a queda do Muro de Berlim (seguida do desmantelamento dos pólos ideológicos) constituem eventos (que reforçam o estabelecimento) de uma reflexão poderosa para a mudança e, outrossim e, ainda para um diálogo Norte-Sul, equitativo e equilibrado. Deste modo, se fala (de novo) de “renascimento africano”.

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            Entre os encontros de intelectuais (relevantes), se distinguem o Congresso Internacional dos Estudos africanos organizado em Kinshasa (1979), sobre o tema: “A dependência da África e os meios de a prevenir”; ou ainda, o Simpósio internacional sobre “L’Afrique et son avenir”, Kinshasa (1985), que punha em causa a eficácia das ideologias importadas ou tiradas algures.
            Demais, a Conferência mundial da UNESCO sobre as Políticas culturais, no México (Mondia Cult, 1982), denega um desenvolvimento com finalidade exclusivamente económica (com os seus efeitos perversos) de cultura de consumo, de desenraizamento e de desumanização; concomitantemente (ela) alarga a definição da cultura ao génio criador, às modas, às modalidades e aos modelos de vida e de desenvolvimento endógeno centrados sur tout homme et tout l’homme.
            Eis porque, deste modo, em 1985, Basile KOSSOU sintetizava a questão, da seguinte forma:” O único modelo de desenvolvimento que possa permitir às nações africanas, como do resto […] aos países economicamente avançados, descobrir as suas finalidades mais profundas é o de um crescimento governado, cujo objecto já não seria a potência económica e política, mas uma transformação económica e social em que cada indivíduo seria, simultaneamente o sujeito e o objecto”.
            De consignar, que estes anos de 1980-1990 foram definidos pela ONU como a década mundial do desenvolvimento cultural, com (no Programa):
            --- Revalorização do património cultural;
            --- Participação do maior número, senão de todos, na promoção e no desenvolvimento cultural;
            --- Tomada em conta da dimensão cultural do desenvolvimento;
            --- Promoção da cooperação internacional em nome da coexistência pacífica.

Lisboa, 10 Janeiro 2011
KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).