Aonde vais!? Aonde vamos!?
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
Epístola Primeira:
(I)
O ano de 1960 é reputado como o (à titulo simbólico) da ascensão do Continente Africano à soberania internacional, por conseguinte, um ano que apela (meio século mais tarde) para a análise do sentido desta independência e uma meditação (assaz) séria sobre o balanço do exercício do poder pelos Africanos (eles mesmos), à frente do seu próprio País de origem.
Eis nos ante um momento (asado) de recolhimento, visto que a situação actual da África é singular sobre o Globo: Continente repleto de riquezas humanas e naturais, todavia, Continente empobrecido, assistido e fragilizado…E não só!...
(II)
Antes de mais, visando posicionar, apropriadamente a temática, em análise e estudo, vamos formular um conjunto de questões (assaz pertinentes e quão oportunas), designadamente:
(1) Por que razão, tantos péssimos dirigentes, rapinadores dos recursos nacionais?
(2) Por que razão, tanta corrupção e violência?
(3) Por que razão, tantas guerras locais, tantas enfermidades, tanto “analfabetismo”, tantas crueldades?
(4) Por que razão, rica (ela) é: de culturas, de dinamismos, de inesgotáveis criatividades, de matérias-primas e de vasto espaço territorial, sim, efectivamente, a África tarda tanto a entrar na dinâmica viva do desenvolvimento?
(5) Por que razão, as “elites” acreditam tão pouco na África, que se apressam ir investir algures o dinheiro ganho no local (in loquo)?
(6) Enfim (avisadamente) por que razão, este atraso (chocante) da África?
(III)
Estamos, de facto, ante um leque de questões, que exige Espírito (s) de uma envergadura sumamente elevada, de grande saber, de honestidade incontestável e, sobretudo (melhor dito, acima de tudo) portador (es) de uma coragem indómita.
Sim, efectivamente, urge edificar uma nova África, em que a democracia de pacotilha (imperante), esta “democracia” (nada mais, nada menos, que um “biombo” cómodo atrás do qual se enriquece, tranquilamente entre valdevinos, para o maior proveito das sociedades multinacionais), dizíamos, seja varrida, definitivamente da superfície do nosso Continente. De feito, inúmeros exemplos (recentes) mostram que a democracia regride (a olhos vistos) em África…Ao mesmo tempo que renasce mais vigoroso que nunca, o “cancro” da Françafrique, com todo o seu cortejo de consequências, as mais deletérias possíveis e imaginárias.
Na verdade, esta Nova África a construir deve partir de um Pacto seguro e promissor, assentando num equilíbrio estabelecido (lúcida e avisadamente) entre o Indivíduo e a Sociedade.
(IV)
Prezados Intelectuais Africanos (obviamente, estamos a referir aos intelectuais de elevado coturno), vós que os dirigentes políticos (melhor dito, “os profissionais” da política), que, de modo, estulto e irresponsável, usurparam o poder em África, frequentemente minimizam (ou receiam), o vosso papel e vos mantém afastado (à distância dos egrégios reptos dos vossos países), chegou a hora de se envolver e se comprometer nos meandros do grande e pertinente debate que a todos esperam, no desígnio de contribuírem, activamente na criação de uma Opinião ideológica e política africanas participativas e credíveis, sem a qual o verdadeiro e autêntico desenvolvimento permanecerá hipotético.
É, de facto, a Hora para análise do sentido destas independências (ocorridas, já lá vão meio século) e, outrossim e, sobretudo para uma reflexão assisada sobre o balanço do exercício do poder pelos próprios Africanos.
Enfim e, em suma: É a ocasião soberana de se interrogar sobre o intolerável paradoxo da África: Continente empanturrado de riquezas humanas e naturais, no entanto, Continente empobrecido, assistido e fragilizado…E, não só!...
Avante! Avante! Avante!
Lisboa, 19 Dezembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).