terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Epístola Segunda:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

O caso da Guiné-Bissau:

(1)     Em 1953 (dez anos antes do início da luta de libertação nacional), a população da Guiné-Bissau era, aproximadamente, de 500 000 e, no momento da Independência, de um pouco mais de 800 000. De uma superfície de 36 125 quilómetros quadrados, a Guiné-Bissau, conta, presentemente com uma população estimada em 1 457 982 habitantes.
(2)     O advento da Guiné-Bissau como Estado independente da antiga potência colonizadora (Portugal), contrariamente a maioria dos países africanos que se emanciparam, na década de 1960, resulta de um longo processo de uma luta armada conduzida pelos nacionalistas guineenses e cabo-verdianos, sob a esclarecida e empenhada direcção de Amílcar Cabral (1924-1973). Com efeito, ao fim de onze anos (aproximadamente) de resistência, foi proclamado, unilateralmente, a 24 Setembro 1973, o Estado independente da Guiné-Bissau, vindo a ser reconhecido de jure, por Portugal a 24 Setembro 1974, no âmbito do contexto da revolução dos cravos de 25 Abril 1974, desencadeada por capitães portugueses, desencorajados e cansados da guerra colonial.
(3)     De sublinhar, antes de mais, que a Independência para Amílcar Cabral, significava o derrubamento da situação política económica e social, então instalada, em benefício de uma nova sociedade economicamente mais justa. Eis porque, na década de 1950, ele (obviamente, Amílcar Cabral), reconhecia o seguinte:
a.     “Nous sommes en retard économiquement, sans aucun développement, tant en Guinée qu’au Cap-Vert ;
b.    E, prosseguindo : « Il n’y a pas d’industrie à vrai dire, l’agriculture est celle du temps de nos aïeux. Les richesses de nos terres étaient tirées surtout du travail de l’homme. Mais les tugas n’ont rien fait pour développer la richesse de nos terres, absolument rien ».

(4)     De feito, Amílcar Cabral, consciente das potencialidades da Agricultura, a reputava como o fundamento da economia à construir, como o motor do progresso económico a realizar. Os seus trunfos eram a grande adaptabilidade das dissemelhantes culturas susceptíveis de industrialização e uma rentabilidade elevada, devida ao meio agro climático. Tratava-se, por conseguinte, antes de tudo, criar condições que permitissem valorizar os recursos e da sua utilização integral (respectiva) para o bem da Guiné-Bissau. Demais, desde 1953, Amílcar Cabral definia as principais prioridades, designadamente:
a.     O estabelecimento sobre as bases das tradições locais, de uma estrutura agrária compatível com o desenvolvimento progressivo das populações;
b.    O incremento do número dos técnicos agrícolas, em particular e à instrução, em geral;
c.     A organização dos serviços agrícolas, tendo em vista melhorar a eficácia na investigação, experimentação e assistência técnica ao agricultor;
d.    O desenvolvimento em bases científicas da exploração das culturas de elevado rendimento para extrair delas uma produção máxima, graças à melhoria das técnicas agrícolas endógenas, à introdução das novas técnicas adaptadas às condições do meio, à instauração no mercado de preços compensadores, porém, principalmente à implantação de indústrias transformadoras locais.

(5)     No entanto, somos (coagido) a afirmar (sem rebuço), que trinta e cinco (35) anos, após a Independência, o legítimo sonho de Cabral: permanece uma mera quimera. Com efeito, o atraso da Guiné-Bissau se acentuou profundamente, com ênfase no domínio económico, social e político, concretamente por causa de ausências (assaz gritantes) de políticas públicas consentâneas, fundadas, sobretudo sobre a Agricultura, na sua assunção mais nobre e consequente, como havia preconizado, avisadamente Amílcar Cabral.

Lisboa, 21 Dezembro 2010
KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).