quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Peça Ensaística Trigésima Segunda, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:

Ainda acerca dos comportamentos xenófobos e execráveis de SARKOZY:
Terceira parte:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


(A)
                Tendo em conta, tudo quanto vimos expendendo, não temos dúvida nenhuma, que, efectivamente, a Solução mais responsável e mais honrosa para esta situação, quão estulta e aviltante, nada tem a ver com o incremento do volume da ajuda pública ao desenvolvimento (APD), nem com o apelo ao investimento directo oriundo do exterior (IDE), que se converteu no jogo preferido dos profissionais da política. Todavia, SARKOZY (que apenas jura pela ruptura) está prestes a ir aos confins da África (no lugar para onde expulsa os migrantes indesejáveis), à procura de segmentos de mercado para as grandes empresas francesas.

(B)
                Um balanço honesto dos trinta últimos anos da liberalização das economias africanas e da privatização das empresas públicas ajudará, substancial e significativamente, compreender as causas profundas dos fluxos migratórios africanos, que nada tem a ver com a pretensa pobreza do Continente Africano. Trata-se de uma forma dissimulada e subtil (e, porque não, de um mero subterfúgio), visando subtrair de uma análise, dialecticamente consequente, a situação dos Africanos, no atinente à questão de fundo, que se prende, com o tratamento discriminatório e redutor, alimentado por teses essencialistas que pretendem, que os Africanos constituem seres “à parte”.

(C)
                Entretanto, o que é facto é que, não há, de um lado, uma Europa de valores e de progresso e, do outro, uma África das trevas, infortúnios e má sorte. Esta Visão, quão redutora e preconceituosa, contribuiu para “diabolizar” os Africanos e que alguns Africanos, infelizmente têm tendência a interiorizar deleteriamente, se despedaça, num ápice, aos bocados, desde o momento, em que, com avisada clareza, se vê (com olhos de ver): os mecanismos da dominação, do empobrecimento e da exclusão. A lógica económica, que coloca a África de joelhos, segrega, obviamente, a pobreza, a precariedade e o descontentamento nos países ricos. O facto das revoltas (que incendiaram os subúrbios franceses, em Outubro 2005), tenham ocorrido, simultaneamente, que, os eventos de Ceuta e Melilla tiveram lugar, é assaz elucidativo. Esta concomitância, conquanto não tenha passado despercebida, no entanto, não foi tida em conta pelo discurso dominante (intencionalmente), visando enfraquecer a confiança e a consciência da opinião pública, dando a entender aos Franceses que os desordeiros/brigões/amotinadores se encontravam, no seu seio e, por seu turno, os invasores às suas portas. De sublinhar, demais, que os políticos e os comentadores, mais alarmistas e, ipso facto, mais virulentos, não hesitaram em falar de excesso de “explosão de entusiasmo migratório”, de “avalanche” e, mesmo de marée noire (“maré negra”), proveniente de África.

(D)
                Ceuta e Melilla, as Ilhas Canárias, Malta e Lampedusa, por um lado, os jovens dos arrabaldes e os “indocumentados”, por outro, foram apresentados e interpretados, como as duas faces de um idêntica ameaça, ou antes, de um idêntico fantasma. A gestão da Imigração consiste, desde então, em integrar os “integráveis” (imigração, integração e identidade nacional) e, em expulsar os “descartáveis”, pretendendo socorrer-lhes, no quadro do co-desenvolvimento e, impedindo, através da ajuda ao desenvolvimento, a partida (leia-se, obviamente expulsão), dos que teriam (quiçá) a intenção de emigrar. No entanto, de salientar, que esta atrelagem bamba que conduz o Ministro do Interior, do Ultramar e das Colectividades territoriais, Brice Hortefeux (n-1958), considerado o “fiel lugar-tenente” de SARKOZY (outrossim, alcunhado pela imprensa francesa de o porte-flingue”de SARKOZY), dizíamos, não será sólido, obviamente, quando se o examina à luz da mundialização.

Lisboa, 17 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).