quinta-feira, 15 de julho de 2010

Peça ensaística Décima Sexta, no âmbito de


Na peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

(I)

(1)       Com efeito et pour cause, não há dúvida nenhuma, que na realidade, um elo constitutivo une às Ciências, um modo particular de pensar, que é a Filosofia. De anotar, todavia, que o primeiro passo, no âmbito da démarche científica, não poderia ser cumprido, sem ter previamente retirado a sua adesão às pretensões explicativas das narrativas mitológicas em respeito do seu tempo.
(2)       Donde, evidentemente, mais questões se deparam, visando explicar adequadamente as ideias e conceitos, designadamente:
a.       Os eclipses de Sol aos caprichos de Deus “permutando, meio-dia por meia-noite”, segundo o poeta grego, ARQUÍLOCO (712-664 a. C.), ou os tremores de terra à cólera dos Ciclopes e dos Titãs encarcerados nas entranhas da Terra. Sabe-se, que o sábio grego, Tales de Mileto (VII-VI a. C.), conquistou uma enorme celebridade, ao predizer o eclipse de 585 a. C., baseando-se em cálculos efectuados à partir de observações.
b.      Uma tal retirada de adesão pode ser tido como um primeiro passo para o advento da Filosofia, porém, sem que estivesse constituída como tal.
c.       De feito, o termo/expressão, Filosofia apenas faz ingresso para utilização, no século V (a. C.), tendo o filósofo grego, PLATÃO (428-348) lhe conferido as suas cartas de nobreza.
(3)       De sublinhar, foi no âmbito desta dinâmica, que PLATÃO mandou inscrever, no frontão da Academia (a Escola que edifica, em Atenas cerca de 387 a. C.), o seguinte: “Que ninguém, aqui entre, se não for Geómetra”. Todavia, a sua ambição ultrapassa, de muito longe, a da maioria dos PHYSIOLOGUÏ, visto que ele propõe, na realidade, um novo modo de pensar.
(4)       Vejamos, um pouco mais em pormenor, neste particular, este aspecto do erudito Magistério de PLATÃO:
a.       Nos Diálogos: A personagem de Sócrates (470-399 a. C.) coloca, com efeito, metodicamente em causa (por sua conta e risco), o conjunto de valores religiosos, morais e políticos aceites pela Cidade ateniense. E fá-lo, em nome de uma concepção da razão (LOGOS), que extrai (por uma parte essencial) da démarche dos Matemáticos que frequenta. Enfim e, em suma: A sua utilização do mito desarruma as formas tradicionais da adesão às narrativas mitológicas.

Porém, ulteriormente, ARISTÓTELES (384-322 a. C.) rompe com o idealismo platónico, propondo, deste modo, pela primeira vez, a ideia de uma Física. Impõe, assim, para séculos, uma teoria do movimento metafísico edificada sobre uma concepção nova do Ser, que joga com as noções de matéria e de forma, de potência e de acto. Lança a mão de um Pensamento, que tenta, deste modo, pensar, em conjunto (concomitantemente) a Física, o Conjunto dos Saberes sobre a Natureza, a Teologia, a Arte e a Política.
Demais e, por outro, os Pensadores da tradição atomista, desacreditados, outrossim e, aliás, por PLATÃO como por ARISTÓTELES não procedem, de outro modo, por mais opostas que sejam, as suas concepções da Natureza e as tomadas de posição morais e políticas. Temos a referir, neste particular, por exemplo, o caso protagonizado pelo filósofo grego, EPICURO (341-270 a. C.), que elabora expressamente uma Física para contrariar as teses morais e políticas que ARISTÓTELES apoiava às bases metafísicas da sua.
Finalmente, por seu turno, o Teólogo Italiano, São Tomás de Aquino (1225-1274) tenta transferir para o Cristianismo o crédito da Ciência aristotélica, readaptando a sua metafísica no sentido dos Textos Sagrados. A sua doutrina visava reconciliar, deste modo, a razão e a . A sua adopção pela Igreja, inicialmente reticente (de anotar, aliás, que a sua doutrina, foi, primeiramente condenada pela Igreja, em 1277, tendo sido, canonizado, só, no ano de 1923), tinha como resultado comprometer a Instituição a favor da Física finalista e de uma Cosmologia geocentrista, no próprio momento, em que não tardaria a ser posta em causa.

(II)
            Prosseguindo, avisadamente, este nosso bosquejo histórico, no âmbito desta problemática, que se prende com o já enunciado vínculo/elo constitutivo, que vincula às Ciências o modo particular de pensar, que é, na realidade e, na verdade, a Filosofia, se nos antolha percuciente, abordar o Magistério científico/filosófico do matemático/físico francês, René DESCARTES (1596-1650), pois que nos conduz para a Ciência moderna
            De feito, DESCARTES se entrega, precisamente, na primordial tarefa de elaborar a Metafísica que poderá sustentar a Nova Ciência do movimento, sem por essa razão, contrariar e contradizer as verdades reveladas pela Religião cristã. Deplora, outrossim, que GALILEU (1564-1642), “bon savant”, se tenha mostrado (“medíocre filósofo”), desencadeando o confronto, que se sabe, com as autoridades eclesiásticas. Propõe, então, em 1644, baseando-se, na sua própria doutrina, um manual destinado a suplantar, nas escolas, os tratados escolásticos, então em uso. E, na Carta prefácio que o acompanha, professa que:
                                    “Toute la philosophie est comme un arbre,
                                    dont les racines sont la métaphysique, le tronc est
                                    la physique, et les branches qui sortent de ce
                                    tronc sont toutes les autres sciences, qui se
                                    réduisent à trois principales, à savoir la médecine
                                    la mécanique et la morale ; j’entends la plus
                                    haute et la plus parfaite la morale qui,
                                    présupposant une entière connaissance des autres
                                    sciences, est le dernier degré de la sagesse ».

            Eis porque, ipso facto, DESCARTES filósofo não poderia, deste modo, ser DESCARTES erudito.
            Demais, nesta perspectiva, o que vale para DESCARTES vale identicamente para o matemático, físico, filósofo e escritor francês, BLAISE PASCAL (1623-1662), ou para o filósofo e matemático alemão, Gottfried Wilhem LEIBNIZ (1646-1716), conquanto estes últimos extraem conclusões dissemelhantes da Ciência do seu tempo, baseando-se, em interpretações e tomadas de posição, por vezes, opostas, sem, no entanto, adulterar a essência de fundo, obviamente.
Lisboa, 11 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).