INTERVENÇÃO QUINQUAGÉSIMA SEGUNDA:
(III)
(III)
Uma Questão, que não deixa de ser, assaz pertinente, colocar e analisar, ipso facto e, por motivos óbvios, com o mínimo de bom senso e entendimento respectivo, diz respeito à rejeição e a dificuldade respectiva do Estado de Israel em se adaptar à verdade activa dos factos e, assim, poder se libertar da estulta obstinação, que vem assumindo… São, aliás, várias as razões que se encontram na base desta deletéria obstinação e, que vamos dilucidar as mais percucientes. Donde, temos então:
A Primeira Razão se prende com o facto da guerra assimétrica, jamais faz parte das prioridades de TSAHAL (o exército israelita). Este tem sempre por objectivo uma atenção privilegiada à guerra convencional, em que teria a se opor à uma ameaça maior da parte de vários exércitos árabes para a existência de Israel, reputada como “segurança fundamental” (“ BITAHON YESSODI”). Por outro, a ameaça dos grupos irregulares, relevando da “segurança corrente” (“BITAHON SHOTEF”), jamais foi vista como susceptível de pôr em causa a existência do País.
No entanto, o que é facto é que a Instituição militar jamais pensou a guerra assimétrica enquanto tal. Não originou, com efeito, uma doutrina de acção inovadora, ad hoc, específico. Jamais tentou conceptualizar esta nova ameaça, se fiando nas qualidades de improvisação e de inventividade das suas unidades de combate e dos seus oficiais, sem se preocupar com a coerência do conjunto.Com efeito, são os constrangimentos, de curto prazo, que definem o tipo de reacção como grau de violência ostentada e desfraldada pelos grupos armados, ou as pressões exercidas pela opinião pública israelita, as quais os dirigentes políticos e militares são sobremodo sensíveis. De referir ainda, que o peso do factor corporativista nunca foi desprezível. Enfim, é necessário, entender, outrossim, com isso, os comportamentos decorrendo da vontade de restaurar a imagem de TSAHAL cada vez que estima ter sido atingida.
Uma outra razão, ou seja a segunda, que merece ser estudada adequadamente, se vincula à convicção que toda a estratégia correria o risco de deixar uma impressão de fraqueza e encorajar os “terroristas” a prosseguir a via da violência. Eis porque muitos generais se recusaram à estratégia da “força mínima”, excluindo a “estratégia do terror”.
No fundo, tudo termina por conduzir ao problema da “capacidade de dissuasão do exército” que se confina na obsessão (sem dúvida, compreensível), num País, que vive sob o receio permanente de ser “apagado um dia do mapa”. É efectivamente, a vitória, a título póstumo, das concepções do General MOSHÉ DAYAN (1915-1981) e as de MOSHÉ SHARETT (1894-1965), sendo este, o Segundo Primeiro-Ministro de Israel (de 1953 a 1955), entre os dois mandatos de BEN--GURION, um dos signatários da Declaração do Estado de Israel. Outrossim e, ainda, dos “activistas” sobre os “moderados”.
Não deixa de se afigurar, assaz pertinente, sublinhar que as elites dirigentes israelitas, civis e militares acreditaram, identicamente, sempre nas virtudes da capacidade militar de TSAHAL, da sua potência de fogo, muito consideravelmente superior à dos Grupos armados. Bastaria fazer dele “bom uso”:”castigar” duramente os homens armados e os seus sponsors, exercer pressão sobre as populações civis que os abrigam voluntariamente ou em defesa própria. Depois esperar e “ver como as coisas se desenvolverão”. No entanto, a ideia que uma tal estratégia “exacerba a violência anti-israelita não faz parte do discurso estratégico em Israel”.
O que é facto, é que os malogros/fracassos de repetição desta estratégia jamais conduziram à sua colocação em causa, que não poderia se fazer sem dor. Aceitá-la equivaleria, com efeito, a reconhecer que o fundamento sobre o qual assenta a política de defesa de Israel, “a capacidade de dissuasão de TSAHAL”, não é apropriada para este conflito, o que seria, aliás, reconhecer a impotência da sua real potência bélica. Isto poderia, por outro, conduzir a um choque psicológico importante, porém salutar, porquanto TSAHAL veria coagido em encontrar vias clássicas, mais imaginativas que a força armada para defrontar, fazendo frente ao “terrorismo” e cessar, pelas suas reacções desproporcionadas, de fazer o jogo do inimigo.
Enfim e, em suma:
-- 1 A adesão à esta estratégia, em apreço, se encontra vinculada à ausência, entre os dirigentes políticos Israelitas de visão, a longo prazo, dizendo respeito à solução do conflito israelo-palestiniano, aos contornos do futuro Estado Palestiniano, o porvir das colónias da Cisjordânia, as fronteiras definidas, ou ainda o estatuto de Jerusalém.
-- 2 A excepção notável dos Acordos de Paz de Oslo (1995), rapidamente violados, nenhum dirigente israelita propôs um projecto político global, dizendo respeito as relações israelo-palestinianas susceptível de pôr cobro ao conflito.
-- 3 Na ausência de directivas políticas claras, o exército, frequentemente se contentou com reacções, au coup par coup (seja, por acções específicas e dissemelhantes de cada vez), de forma improvisada. Eis porque, não pode, seguramente ser considerado como único responsável desta estratégia da resposta desproporcionada, salvo, no início da Segunda Intifada, em que o Estado-maior do exército tentou contrariar os esforços do Primeiro-Ministro de alcançar uma solução negociada com o Chefe da Autoridade Palestiniana.
-- 4 Finalmente, todavia, nenhum militar de alta patente, nunca sugeriu uma abordagem algo inovadora, diferente, comparável a do marechal LYAUTEY (1854-1934), que esperava ardentemente que a separação se “fasse sans douleur”, ou à que o general norte-americano PETRAEUS (n-1954) tentou no Iraque, não sem um determinado êxito.
A Primeira Razão se prende com o facto da guerra assimétrica, jamais faz parte das prioridades de TSAHAL (o exército israelita). Este tem sempre por objectivo uma atenção privilegiada à guerra convencional, em que teria a se opor à uma ameaça maior da parte de vários exércitos árabes para a existência de Israel, reputada como “segurança fundamental” (“ BITAHON YESSODI”). Por outro, a ameaça dos grupos irregulares, relevando da “segurança corrente” (“BITAHON SHOTEF”), jamais foi vista como susceptível de pôr em causa a existência do País.
No entanto, o que é facto é que a Instituição militar jamais pensou a guerra assimétrica enquanto tal. Não originou, com efeito, uma doutrina de acção inovadora, ad hoc, específico. Jamais tentou conceptualizar esta nova ameaça, se fiando nas qualidades de improvisação e de inventividade das suas unidades de combate e dos seus oficiais, sem se preocupar com a coerência do conjunto.Com efeito, são os constrangimentos, de curto prazo, que definem o tipo de reacção como grau de violência ostentada e desfraldada pelos grupos armados, ou as pressões exercidas pela opinião pública israelita, as quais os dirigentes políticos e militares são sobremodo sensíveis. De referir ainda, que o peso do factor corporativista nunca foi desprezível. Enfim, é necessário, entender, outrossim, com isso, os comportamentos decorrendo da vontade de restaurar a imagem de TSAHAL cada vez que estima ter sido atingida.
Uma outra razão, ou seja a segunda, que merece ser estudada adequadamente, se vincula à convicção que toda a estratégia correria o risco de deixar uma impressão de fraqueza e encorajar os “terroristas” a prosseguir a via da violência. Eis porque muitos generais se recusaram à estratégia da “força mínima”, excluindo a “estratégia do terror”.
No fundo, tudo termina por conduzir ao problema da “capacidade de dissuasão do exército” que se confina na obsessão (sem dúvida, compreensível), num País, que vive sob o receio permanente de ser “apagado um dia do mapa”. É efectivamente, a vitória, a título póstumo, das concepções do General MOSHÉ DAYAN (1915-1981) e as de MOSHÉ SHARETT (1894-1965), sendo este, o Segundo Primeiro-Ministro de Israel (de 1953 a 1955), entre os dois mandatos de BEN--GURION, um dos signatários da Declaração do Estado de Israel. Outrossim e, ainda, dos “activistas” sobre os “moderados”.
Não deixa de se afigurar, assaz pertinente, sublinhar que as elites dirigentes israelitas, civis e militares acreditaram, identicamente, sempre nas virtudes da capacidade militar de TSAHAL, da sua potência de fogo, muito consideravelmente superior à dos Grupos armados. Bastaria fazer dele “bom uso”:”castigar” duramente os homens armados e os seus sponsors, exercer pressão sobre as populações civis que os abrigam voluntariamente ou em defesa própria. Depois esperar e “ver como as coisas se desenvolverão”. No entanto, a ideia que uma tal estratégia “exacerba a violência anti-israelita não faz parte do discurso estratégico em Israel”.
O que é facto, é que os malogros/fracassos de repetição desta estratégia jamais conduziram à sua colocação em causa, que não poderia se fazer sem dor. Aceitá-la equivaleria, com efeito, a reconhecer que o fundamento sobre o qual assenta a política de defesa de Israel, “a capacidade de dissuasão de TSAHAL”, não é apropriada para este conflito, o que seria, aliás, reconhecer a impotência da sua real potência bélica. Isto poderia, por outro, conduzir a um choque psicológico importante, porém salutar, porquanto TSAHAL veria coagido em encontrar vias clássicas, mais imaginativas que a força armada para defrontar, fazendo frente ao “terrorismo” e cessar, pelas suas reacções desproporcionadas, de fazer o jogo do inimigo.
Enfim e, em suma:
-- 1 A adesão à esta estratégia, em apreço, se encontra vinculada à ausência, entre os dirigentes políticos Israelitas de visão, a longo prazo, dizendo respeito à solução do conflito israelo-palestiniano, aos contornos do futuro Estado Palestiniano, o porvir das colónias da Cisjordânia, as fronteiras definidas, ou ainda o estatuto de Jerusalém.
-- 2 A excepção notável dos Acordos de Paz de Oslo (1995), rapidamente violados, nenhum dirigente israelita propôs um projecto político global, dizendo respeito as relações israelo-palestinianas susceptível de pôr cobro ao conflito.
-- 3 Na ausência de directivas políticas claras, o exército, frequentemente se contentou com reacções, au coup par coup (seja, por acções específicas e dissemelhantes de cada vez), de forma improvisada. Eis porque, não pode, seguramente ser considerado como único responsável desta estratégia da resposta desproporcionada, salvo, no início da Segunda Intifada, em que o Estado-maior do exército tentou contrariar os esforços do Primeiro-Ministro de alcançar uma solução negociada com o Chefe da Autoridade Palestiniana.
-- 4 Finalmente, todavia, nenhum militar de alta patente, nunca sugeriu uma abordagem algo inovadora, diferente, comparável a do marechal LYAUTEY (1854-1934), que esperava ardentemente que a separação se “fasse sans douleur”, ou à que o general norte-americano PETRAEUS (n-1954) tentou no Iraque, não sem um determinado êxito.
Lisboa, 12 Julho 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista — Cidadão do Mundo).
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KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista — Cidadão do Mundo).