quinta-feira, 13 de março de 2008

JOGO DE SOMBRAS

Surpreendidos de forma evidente pela presença maciça de professores na manifestação da sua indignação contra a ministra da educação e contra o governo ― e é preciso dizer que a manifestação também era contra o primeiro-ministro ―, os sindicatos dos ditos precisam urgentemente recuperar o controlo do processo para assim garantirem o “emprego” aos senhores sindicalistas e não perderem a face.

Sabedor disso, o governo não perde tempo em declarar-se “flexível” e a sentar-se à mesa com os sindicalistas em busca de uma “aliança” que os salve a ambos.

Por isso se assiste neste momento a esta coisa aparentemente bizarra de os sindicalistas se declararem satisfeitos à saída dos contactos com membros do governo, e de, ao mesmo tempo, a ministra da educação se declarar irredutível na aplicação das suas tão contestadas “medidas”.

São os sindicatos e os sindicalistas a ajudarem a ministra a não perder a face para, em troca, o governo (através daquilo que vai contratando com os sindicalistas), por sua vez ajudar os sindicatos a “enquadrar” e a controlar os professores, assegurando o poder relativo aos sindicatos, e o “emprego” aos sindicalistas.

Assiste-se a uma entreajuda governo/sindicatos (sindicalistas) ― com os professores a serem chutados para as margens do tapete negocial quando deviam ser eles o centro de todas as negociações.

É neste contexto que se conclui mais uma vez da necessidade da criação de associações cívicas de cidadãos e de classes profissionais (neste caso de professores) a ver se se consegue alterar a dinâmica social das lutas pelos diferentes poderes, rejeitando as anquilosadas estruturas tradicionais (sobretudo sindicatos e Ordens) que mais não são hoje que a emanação dos partidos e das cliques partidárias, estruturas estas que, longe de defenderem os seus filiados, servem mais para manter o controlo do poder sobre estes mesmos filiados e garantir “emprego” a muita gente.

Sempre aos mesmos.