quarta-feira, 23 de julho de 2003

UM ERRO NO COMEÇO

Sobre a descoberta das ilhas de Cabo Verde leio na obra de Sena Barcelos “Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné” (Vol. I, pág. 7) a seguinte transcrição da narração de Diogo Gomes, depositada na biblioteca de Munique, Alemanha, a qual viu a luz do dia numa pesquisa do inglês Richard Henry Major:

…«Dois anos depois (de 1458) o rei Afonso equipou uma grande caravela em que me mandou de capitão, e tomei comigo dez cavalos, e fui à terra dos barbacins, etc. etc.,»
…«Eu e António da Noli deixámos então aquele porto de Zaza e navegámos dois dias e uma noite para Portugal e vimos algumas ilhas no mar, e como a minha caravela era mais veleira do que a outra, abordei eu primeiro a uma daquelas ilhas, e vi areia branca e pareceu-me um bom porto, e ali fundeei e o mesmo fez António, disse-lhe eu que desejava ser o primeiro a desembarcar e assim fiz, não vimos rastos de homem e chamamos a ilha de Santiago por ser descoberta no dia do santo, aí pescámos grande abundância de peixe, etc. etc. depois vimos a ilha Canária que se chama palma e depois fomos à ilha da Madeira e querendo ir para Portugal por causa do vento contrário fui parar às ilhas dos Açores, António da Noli esperou na ilha da Madeira e com melhor tempo chegou antes de mim a Portugal e pediu ao rei a capitania da ilha de Santiago que eu tinha descoberto e o rei lha deu, e ele a conservou até à sua morte, eu com grande trabalho cheguei a Lisboa.»


Leio isto e fico a pensar se não terá sido esse episódio uma espécie de pecado original no nascimento da nação Cabo-verdiana. Terá esse pecado trazido alguns condicionalismos à marcha das ilhas através da História, sendo a capitania de Cabo Verde entregue a um genovês? Isso fica para o pensamento de cada um, mas certo, certo, é que o começo não foi limpo e a terra foi parar, no seu início, a mãos imerecedoras.