terça-feira, 8 de maio de 2012

(LXIV) Alors que faire?


Prática de ACTUAÇÃO SEXAGÉSIMA QUARTA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

Continuação da Posta anterior:

            (9) Com efeito, seria necessário (outrossim), evocar o efeito de legitimação que não pôde faltar de exercer a encenação (reiterada), à farta (a rodos e aos montes), em múltiplas obras, artigos, “propos de tables” e “plateaux” de televisão, desta “escalada de individualismo”. Ali também, as paradas da organização e da mobilização dos homens, as formas de transformar uma fábrica em centro de produção flexível (designadamente), pela precarização da mão-de-obra e o adiamento dos constrangimentos para fornecedores, diversas recomendações sobre os bons meios de gerir as dissemelhantes relações de força que condicionam os proveitos/benefícios (com os assalariados, os clientes, os fornecedores, as colectividades públicas). Daí, que o facto, que um dos interesses de atingir uma estatura mundial é todo (simplesmente), de se colocar (favoravelmente), em todas as negociações (ganhando força), os modos de fazer frente às dificuldades e em controlar e mesmo em saber o que se passa nas empresas, etc.
            (10) Antes de mais, vale a pena, precisar (adequadamente), que o termo “concorrência”, visto que (ela) assesta para grandezas mercantes que podem servir (mas unicamente), sob certas condições de igualização dos competidores e, na medida, em que (ela) está circunscrita à situações bem delimitadas, em construir uma ordem equitativa, dissimula as relações de força desiguais dos que formam (concretamente), a oferta e a procura.
            (11) De feito, no estado atual, em que se encontram, as desigualdades (entre empresas e trabalhadores, entre empresas entre si, entre mercados financeiros e Estados ou empresas, entre territórios e empresas), esta concorrência, que nada tem de “perfeita”, é (muito frequentemente), apenas a imposição da lei do mais forte. Ou seja: (outrossim, quão, presentemente), porque não, a lei do mais móvel!

            (12) Na verdade, se (se) aceitasse encarar a hipótese, que existe um grande número de modos para uma oferta e uma procura se cruzar num mercado, progredir-se-ia (quiçá) para a redução dos modos (mais injustos da concorrência), o que, mesmo numa lógica (estritamente) mercantil à qual se encontra longe de se reduzir o quadro em que se inscrevem os dispositivos de Justiça, seria um primeiro passo no sentido de uma atenuação das puras relações de força, que prevalecem (atualmente). De facto, não se vê (aliás), os argumentos que os competidores (que adoptaram o discurso liberal), poderiam bem invocar, permanecendo de boa fé, para se opor a um tal reequilíbrio que concorria para igualar as condições da concorrência e (com isso), a depurar as provas mercantis. Os liberais, aprovando-os, mostrar-se-iam (simplesmente), fieis às suas opções de base, obviamente!
            (13) Na verdade (et pour cause), em todo o caso, se for bom reconhecer uma ideologia (que se reclama do liberalismo), que se impôs, no decurso dos vinte últimos anos, utilizando os “benefícios/lucros da concorrência”, para legitimar numerosíssimas situações (por vezes, profundamente injustas), inclusive, de um ponto de vista liberal, se encontra longe de estar certo que a característica maior das transformações, que marcaram o período constitua a implantação de um mundo, mais mercante e mercantil!
            (14) Diga-se (o que se disser), não há dúvida nenhuma, que o que faz a especificidade das evoluções recentes foi o desenvolvimento de uma lógica conexionista, o que não significa que (ela) tenha invadido a totalidade do mundo social e que (em particular), a exploração conexionista se substituíra à todas as outras formas de exploração. É (precisamente), a raridade das descrições ajustadas à singularidade deste mundo, que impediu até esse momento a crítica de ser mais eficaz. Ou seja: A necessidade de uma Justiça ajustada à esta nova lógica, não estando (suficientemente), tomada em conta, a crítica se acomodou nos princípios de Justiça experimentados (de longa data) e se fechou num debate gasto e estereotipado, opondo o liberalismo ao estadismo/estatismo.
            (15) E, em jeito de Remate assertivo, temos (então), que:
                        --- Se (na verdade), a única esperança de abrir (novamente e de forma diferente), o campo dos possíveis reside sobremaneira no relance da Crítica, todavia, pleitear em proveito da Crítica, não significa, ter como certo, todas as formas de acusação ou de invectivas, erigindo o protesto e a revolta como valor em si (independentemente), da sua pertinência e da sua acuidade. Criticar significa (em primeiro lugar e, acima de tudo), distinguir, fazer ver diferenças no que se apresenta, tomado no seu valor facial, como amalgamado, obscuro ou não domável. (...).
            --- Todavia e (não obstante), relançar a crítica social e envidar em reduzir as desigualdades e a exploração no mundo conexionista é (por certo), fundamental, mas não se trata, para tanto, enterrar a crítica artista com pretexto da sua derrota, (visto que (ela) tem, no decurso dos vinte últimos anos, antes feito o jogo do capitalismo) e da urgência acerca da fronte social.
            --- Com efeito e (sem sombra de dúvida), os temas da crítica artista são (outro tanto), fundamentais e (sempre), de atualidade. É, apoiando sobre (eles), que se tem mais hipótese de opor uma resistência eficaz ao estabelecimento de um mundo em que tudo poderia (de um dia para o outro), se encontrar transformado, em produto mercantil e em que as pessoas seriam (constantemente), postas à prova, submetidas à uma exigência de mudanças incessantes e despojadas por esta espécie de insegurança organizada do que assegura a permanência do seu si.
            --- Na verdade (et pour cause), é necessário reservar a possibilidade de levar uma vida em que o próprio movimento possa se expandir sem estar submetido à interrupções frequentes e imprevisíveis (não unicamente), impostas, porém, supostas ser acolhidas com alegria como se a descontinuidade fosse a norma de uma vida realizada com êxito. É evidente, que a crítica artista só pode levar a bem esta tarefa na condição de desenredar o elo/(vínculo que associava até aqui libertação e mobilidade.
            --- Enfim (enfim), como mostrou um século e meio de crítica do capitalismo, as duas críticas (social e artista), conquanto sejam (concomitantemente), contraditórias em muito dos pontos e inseparáveis no sentido em que, fazem sobressair os aspectos dissemelhantes da Condição Humana, destarte, se equilibram e se limitam, mutuamente. É as mantendo ambas vivas, que se pode esperar fazer frente às destruições provocadas pelo capitalismo (resistindo completamente), aos excessos aos quais se arrisca conduzir cada uma entre elas quando (uma delas) se manifesta, de modo exclusivo e, não esteja temperada pela presença da outra.

Lisboa, 07 Maio 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo):