Prática
de ACTUAÇÃO SEXAGÉSIMA QUARTA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Continuação
da Posta anterior:
(9) Com efeito, seria
necessário (outrossim), evocar o efeito
de legitimação que não pôde
faltar de exercer a encenação (reiterada), à farta (a rodos e aos montes), em múltiplas obras, artigos, “propos de tables”
e “plateaux” de televisão, desta
“escalada de individualismo”. Ali também, as paradas da organização e da mobilização dos homens, as formas de
transformar uma fábrica em centro de
produção flexível (designadamente),
pela precarização da mão-de-obra e o adiamento dos constrangimentos para fornecedores,
diversas recomendações sobre os bons
meios de gerir as dissemelhantes relações de força que condicionam os proveitos/benefícios (com os assalariados, os clientes, os fornecedores, as
colectividades públicas). Daí, que o facto, que um dos interesses de atingir uma estatura mundial é todo (simplesmente), de se colocar (favoravelmente), em todas as negociações
(ganhando força), os modos de fazer frente às dificuldades e
em controlar e mesmo em saber o que se passa nas empresas,
etc.
(10) Antes de mais, vale a
pena, precisar (adequadamente), que o
termo
“concorrência”, visto que (ela) assesta para grandezas mercantes que podem servir (mas unicamente), sob certas condições de
igualização dos competidores e, na medida, em que (ela) está circunscrita à situações bem delimitadas, em construir
uma ordem
equitativa, dissimula as relações
de força desiguais dos que formam (concretamente),
a oferta
e a procura.
(11) De feito, no estado
atual, em que se encontram, as desigualdades
(entre empresas e trabalhadores, entre empresas entre si, entre mercados financeiros e Estados ou
empresas, entre territórios e
empresas), esta concorrência, que nada tem de “perfeita”, é (muito frequentemente), apenas a imposição
da lei do mais forte. Ou seja: (outrossim,
quão, presentemente), porque não, a lei
do mais móvel!
(12) Na verdade, se (se) aceitasse encarar a hipótese, que existe um grande número de modos para uma oferta e uma procura se cruzar num mercado, progredir-se-ia (quiçá) para a redução dos modos (mais injustos da concorrência), o que,
mesmo numa lógica (estritamente) mercantil à qual se
encontra longe de se reduzir o quadro em que se inscrevem os dispositivos de Justiça, seria um primeiro passo no sentido de uma atenuação das puras relações de força,
que prevalecem (atualmente). De
facto, não se vê (aliás), os argumentos
que os competidores (que
adoptaram o discurso liberal),
poderiam bem invocar, permanecendo de boa
fé, para se opor a um tal reequilíbrio que concorria para igualar
as condições da concorrência e (com isso), a depurar as provas mercantis. Os liberais, aprovando-os,
mostrar-se-iam (simplesmente), fieis
às suas opções de base, obviamente!
(13) Na verdade (et pour cause), em todo o caso, se for bom reconhecer uma ideologia (que se reclama do liberalismo), que se impôs, no decurso dos vinte últimos anos,
utilizando os “benefícios/lucros da concorrência”, para legitimar
numerosíssimas situações (por vezes,
profundamente injustas), inclusive, de um ponto de vista liberal, se
encontra longe de estar certo que a característica maior das transformações,
que marcaram o período constitua a implantação de um mundo, mais
mercante e mercantil!
(14) Diga-se (o que se disser), não há dúvida nenhuma,
que o que faz a especificidade das evoluções recentes foi o
desenvolvimento de uma lógica conexionista, o que não
significa que (ela) tenha invadido a
totalidade do mundo social e que (em
particular), a exploração conexionista se
substituíra à todas as outras formas de exploração.
É (precisamente), a raridade das
descrições ajustadas à singularidade deste mundo, que impediu até esse momento a crítica de ser mais eficaz. Ou seja: A necessidade de uma Justiça
ajustada à esta nova lógica, não
estando (suficientemente), tomada em conta, a crítica se acomodou nos
princípios de Justiça experimentados (de longa data) e se fechou num debate gasto e estereotipado, opondo o liberalismo ao
estadismo/estatismo.
(15) E, em jeito de Remate
assertivo, temos (então),
que:
--- Se (na verdade), a única esperança de abrir (novamente e de forma diferente), o campo
dos possíveis reside sobremaneira
no relance da Crítica, todavia, pleitear em proveito da Crítica, não
significa, ter como certo, todas as
formas de acusação ou de invectivas, erigindo o protesto e a revolta como valor
em si (independentemente), da
sua pertinência
e da sua acuidade. Criticar significa (em primeiro lugar
e, acima de tudo), distinguir, fazer ver diferenças no que se apresenta,
tomado no seu valor facial, como amalgamado, obscuro ou não domável. (...).
--- Todavia e (não obstante), relançar a crítica social e envidar em
reduzir as desigualdades e a exploração no mundo conexionista é (por certo), fundamental, mas não se
trata, para tanto, enterrar a crítica artista com pretexto da sua derrota, (visto
que (ela) tem, no decurso dos vinte
últimos anos, antes feito o jogo
do capitalismo) e da urgência acerca
da fronte social.
--- Com efeito e (sem sombra de dúvida), os temas da crítica artista são (outro
tanto), fundamentais e (sempre),
de atualidade. É, apoiando sobre (eles), que se tem mais hipótese de opor uma resistência eficaz ao estabelecimento de um mundo em
que tudo poderia (de um dia para o outro),
se encontrar transformado, em produto mercantil e em que as pessoas seriam (constantemente),
postas à prova, submetidas à uma exigência de mudanças incessantes e despojadas por esta espécie de insegurança organizada do que assegura a permanência do seu si.
--- Na verdade (et pour cause), é necessário reservar a possibilidade de levar
uma vida em que o próprio movimento possa
se expandir sem estar submetido à interrupções frequentes e imprevisíveis (não unicamente), impostas, porém, supostas ser acolhidas com alegria como se a
descontinuidade fosse a norma de uma
vida realizada com êxito. É evidente, que a crítica artista só pode levar a
bem esta tarefa na condição de desenredar o elo/(vínculo que associava até aqui
libertação e mobilidade.
--- Enfim (enfim), como mostrou um século e meio de crítica do capitalismo,
as duas
críticas (social e artista),
conquanto sejam (concomitantemente), contraditórias
em muito dos pontos e inseparáveis no sentido em que, fazem sobressair os aspectos dissemelhantes da Condição Humana, destarte, se
equilibram e se limitam, mutuamente. É as mantendo ambas vivas, que se pode
esperar
fazer frente às destruições provocadas pelo capitalismo (resistindo completamente), aos excessos
aos quais se arrisca conduzir
cada uma entre elas quando (uma delas)
se
manifesta, de modo exclusivo e, não esteja
temperada pela presença da outra.
Lisboa, 07 Maio 2012
KWAME KONDÉ