Prática
de ACTUAÇÃO SEXAGÉSIMA TERCEIRA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
“Sim (efetivamente), encarnamos a desgraça teórica
e humana deste tempo! Um
tempo que não está
disposto em mudar a Justiça do tempo. Donde, de
questionar (avisada e assertivamente), como é que
uma revolução seria possível sem um
sujeito
que se reconhecesse (ele mesmo), como o próprio
a mudar o Mundo?
KWAME KONDÉ (Abril 2012).
“L’ennemi d’aujourd’hui ne s’apelle
pas
Empire ou Capital. Il s’apelle Démocratie”
ALAIN BADIOU In Abrégé de
métapolitique.
Acerca do novo espírito do capitalismo!...
(1)
Com efeito (et pour cause), na verdade, nenhuma época não tenha (quiçá) sacrificado tanto à crença, numa ação sem sujeito, como estes vinte últimos anos, que se credita, todavia (frequentemente), de um “retorno do
sujeito”. No entanto, o sujeito em
questão era um agente individual, não um
sujeito da História.
(2)
De anotar (antes de mais), que o sujeito dos economistas era racional,
(totalmente), ocupado com os seus próprios
negócios/assuntos e (particularmente), absorvido pela tarefa de
maximizar os seus interesses individuais. Uma tal óptica inclina para o fatalismo quanto às evoluções
possíveis. Com efeito, aliás, desde esta antropologia, só podem ser
encaradas como “realistas” medidas (que
atuem/agem), sobre comportamentos individuais por mudanças de
estimulação (diminuição do custo
do trabalho para estimular a compra de trabalho; criação de “zonas francas” para
favorecer a implantação das empresas nos bairros reputados “difíceis”,
etc.), excluindo as mudanças de formatos susceptíveis de modificar os jogos aos
quais se submetem as condutas dos atores.
(3)
No entanto, os peritos sensatos considerarão como irrealista uma
reforma geral da fiscalidade, do
direito do trabalho, dos modos de
controlo dos circuitos financeiros, visto que tais medidas suporiam ganhadores e perdedores e (por conseguinte), a colocação em causa de interesses susceptíveis (segundo eles),
de bloquear as reformas de um modo tal,
que não seria possível superar este
obstáculo, sustando o processo democrático.
(4)
Eles esquecem que as representações, que
dependem dos utensílios de interpretação disponíveis, influenciam (pelo menos), tanto sobre a orientação
dos sufrágios políticos como não o fazem os interesses pessoais. Demais, a
auto-compreensão destes interesses depende (outrossim),
dos quadros
de interpretação disponíveis, quer provêm de teorias (amplamente), propaladas ou dos dispositivos regulamentares ou compatíveis.
Na verdade, as teorias designam o que constitui
interesse e os dispositivos os revelam, pondo à prova.
(5)
Tanto como o desejo, o interesse não possui o privilégio da transparência! Ele deve ser designado para que se o
reconheça! É (identicamente),
pelo menos, rápido (até abusivo), de
(o) qualificar “de individual”. Ou seja: O seu reconhecimento pelos
indivíduos depende (com efeito),
do
modo como (eles) se identificam à conjuntos por intermediário
de um trabalho de categorização e de colocação
em equivalência, que é (de ponta em ponta), colectivo e histórico.
(6)
É (deste
modo), aliás, que para que se possa determinar algo, como um interesse
individual dos quadros, ocupado, enquanto tal, por todo um labor
histórico de aproximação, de inclusão e de exclusão e (outrossim), de institucionalização de modo à outorgar corpo à categoria. De
feito, no atinente à orientação deste interesse individual, dado como (necessariamente), egoísta (ele)
depende (outrossim), dos quadros
nos quais o interesse se inscreve,
como o mostra o desenvolvimento de condutas
altruístas quando se propõe aos indivíduos causas que, se apresentando à eles como oriundas do exterior,
oferecem um fim ao seu desejo de auto realização, uma intenção que lhes é impossível encontrar (sozinhos)
e por
conta própria.
(7)
Com efeito (et pour cause), o sujeito da Filosofia Social, nos é (outrossim), pintado sob as cores do inelutável: A da escalda do individualismo,
a derradeira
das “grandes narrativas”, tendo resistido à revogação dos Filósofos da História.
Ora, se esta escalada, no decurso dos vinte últimos anos, tenha sido
provável, como não ver nisso, o resultado, não de uma evolução (que nada poderia entravar), mas da
“desconstrução” dos conjuntos (classes, empresas, sindicatos, partidos, mas
outrossim, de um outro modo, igrejas ou escolas), sobre os quais
assentava a capacidade das pessoas à se inscrever em perspectivas colectivas e,
em prosseguir bens reconhecidos como comuns.
(8)
Enfim (enfim),
na verdade, estes conjuntos, em que as pessoas se
reencontravam (fisicamente) e
encontravam, em se aproximar na partilha de certas características, que
ofereciam toda uma gama de nível de participação, da mera assistência às reuniões, no âmbito do compromisso militante (a tempo inteiro), funcionavam bem como
tantos lugares de construção do colectivo. Todavia, estes lugares se encontram (presentemente), num tal estado de decomposição que (de
algum modo e por assim dizer), fechados
sobre si próprios (eles) já não oferecem outras
alternativas que (as) da indiferença
céptica ou do compromisso total (aliás),
rapidamente desqualificado como dogmático, o que elevou (consideravelmente), o custo
de pertença e contribuiu (em compensação) à formação do sentimento de
impotência, de abandono e de isolamento, que prevalece
(atualmente) e que traduzem, entre
outras manifestações, os
indicadores de anomia (Leia-se:
Estado de uma sociedade caracterizada por
uma desintegração das normas que regulam a conduta dos homens e asseguram a
ordem social).
Continua...
Lisboa, 03 Maio 2012
KWAME KONDÉ