segunda-feira, 7 de maio de 2012

(LXIII) Alors que faire?


Prática de ACTUAÇÃO SEXAGÉSIMA TERCEIRA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

Sim (efetivamente), encarnamos a desgraça teórica
e humana deste tempo! Um tempo que não está
disposto em mudar a Justiça do tempo. Donde, de
questionar (avisada e assertivamente), como é que
uma revolução seria possível sem um sujeito
que se reconhecesse (ele mesmo), como o próprio
a mudar o Mundo?
KWAME KONDÉ (Abril 2012).

L’ennemi d’aujourd’hui ne s’apelle pas
Empire ou Capital. Il s’apelle Démocratie
ALAIN BADIOU In Abrégé de métapolitique.

                        Acerca do novo espírito do capitalismo!...

(1)           Com efeito (et pour cause), na verdade, nenhuma época não tenha (quiçá) sacrificado tanto à crença, numa ação sem sujeito, como estes vinte últimos anos, que se credita, todavia (frequentemente), de um “retorno do sujeito”. No entanto, o sujeito em questão era um agente individual, não um sujeito da História.
(2)           De anotar (antes de mais), que o sujeito dos economistas era racional, (totalmente), ocupado com os seus próprios negócios/assuntos e (particularmente), absorvido pela tarefa de maximizar os seus interesses individuais. Uma tal óptica inclina para o fatalismo quanto às evoluções possíveis. Com efeito, aliás, desde esta antropologia, só podem ser encaradas como “realistas” medidas (que atuem/agem), sobre comportamentos individuais por mudanças de estimulação (diminuição do custo do trabalho para estimular a compra de trabalho; criação de “zonas francas” para favorecer a implantação das empresas nos bairros reputados “difíceis”, etc.), excluindo as mudanças de formatos susceptíveis de modificar os jogos aos quais se submetem as condutas dos atores.

(3)           No entanto, os peritos sensatos considerarão como irrealista uma reforma geral da fiscalidade, do direito do trabalho, dos modos de controlo dos circuitos financeiros, visto que tais medidas suporiam ganhadores e perdedores e (por conseguinte), a colocação em causa de interesses susceptíveis (segundo eles), de bloquear as reformas de um modo tal, que não seria possível superar este obstáculo, sustando o processo democrático.
(4)           Eles esquecem que as representações, que dependem dos utensílios de interpretação disponíveis, influenciam (pelo menos), tanto sobre a orientação dos sufrágios políticos como não o fazem os interesses pessoais. Demais, a auto-compreensão destes interesses depende (outrossim), dos quadros de interpretação disponíveis, quer provêm de teorias (amplamente), propaladas ou dos dispositivos regulamentares ou compatíveis. Na verdade, as teorias designam  o que constitui interesse e os dispositivos os revelam, pondo à prova.
(5)           Tanto como o desejo, o interesse não possui o privilégio da transparência! Ele deve ser designado para que se o reconheça! É (identicamente), pelo menos, rápido (até abusivo), de (o) qualificar “de individual”. Ou seja: O seu reconhecimento pelos indivíduos depende (com efeito), do modo como (eles) se identificam à conjuntos por intermediário de um trabalho de categorização e de colocação em equivalência, que é (de ponta em ponta), colectivo e histórico.
(6)           É (deste modo), aliás, que para que se possa determinar algo, como um interesse individual dos quadros, ocupado, enquanto tal, por todo um labor histórico de aproximação, de inclusão e de exclusão e (outrossim), de institucionalização de modo à outorgar corpo à categoria. De feito, no atinente à orientação deste interesse individual, dado como (necessariamente), egoísta (ele) depende (outrossim), dos quadros nos quais o interesse se inscreve, como o mostra o desenvolvimento de condutas altruístas quando se propõe aos indivíduos causas que, se apresentando à eles como oriundas do exterior, oferecem um fim ao seu desejo de auto realização, uma intenção que lhes é impossível encontrar (sozinhos) e por conta própria.
(7)           Com efeito (et pour cause), o sujeito da Filosofia Social, nos é (outrossim), pintado sob as cores do inelutável: A da escalda do individualismo, a derradeira das “grandes narrativas”, tendo resistido à revogação dos Filósofos da História. Ora, se esta escalada, no decurso dos vinte últimos anos, tenha sido provável, como não ver nisso, o resultado, não de uma evolução (que nada poderia entravar), mas da “desconstrução” dos conjuntos (classes, empresas, sindicatos, partidos, mas outrossim, de um outro modo, igrejas ou escolas), sobre os quais assentava a capacidade das pessoas à se inscrever em perspectivas colectivas e, em prosseguir bens reconhecidos como comuns.
(8)           Enfim (enfim), na verdade, estes conjuntos, em que as pessoas se  reencontravam (fisicamente) e encontravam, em se aproximar na partilha de certas características, que ofereciam toda uma gama de nível de participação, da mera assistência às reuniões, no âmbito do compromisso militante (a tempo inteiro), funcionavam bem como tantos lugares de construção do colectivo. Todavia, estes lugares se encontram (presentemente), num tal estado de decomposição que (de algum modo e por assim dizer), fechados sobre si próprios (eles) já não oferecem outras alternativas que (as) da indiferença céptica ou do compromisso total (aliás), rapidamente desqualificado como dogmático, o que elevou (consideravelmente), o custo de pertença e contribuiu (em compensação) à formação do sentimento de impotência, de abandono e de isolamento, que prevalece (atualmente) e que traduzem, entre outras manifestações, os indicadores de anomia (Leia-se: Estado de uma sociedade caracterizada por uma desintegração das normas que regulam a conduta dos homens e asseguram a ordem social).

Continua...

Lisboa, 03 Maio 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).