terça-feira, 15 de maio de 2012

(1º) Estudo ensaístico Primeiro:


 Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Africa aliquid semper novi
Plínio, O Velho (23-79)

São as pessoas que fazem o Mundo;
O mato possui feridas e cicatrizes
Provérbio do MALAWI.
  
Tem estes Estudos ensaísticos, o desígnio de relevar
               O Magistério de Figuras ilustres da nossa Galeria (pessoal),
Figuras que “Por obras valorosas da morte
se libertaram” (...)
  
NP:
            Com efeito (et pour cause), “Se a relação e a razão coloniais puderam determinar certas ideologias Africanas, tais como o Pan-africanismo, a Negritude ou o Afro-centrismo, os Africanos e os seus descendentes das Antilhas ou da América contribuíram (em compensação), amplamente para a história intelectual e política do Ocidente”. Este reconhecimento revela-se central para superar as heranças da história colonial e para tentar construir uma universalidade concreta, pós-racial e pós-colonial.
            É este devir que nos move, nestes Estudos, apresentando o nobre Magistério das proeminentes figuras do Pensamento Negro, que vamos estudar, neste conjunto de Peças ensaísticas. 
(I)
            No início do Século XX (pretérito), a interdisciplinaridade preocupava (pouco ou quase nada), os universitários dos Estados Unidos, enquanto a Sociedade americana (maioritariamente), não imagina outro futuro que a segregação, no âmbito “das relações raciais”.
            Todavia, novos projetos sociais, culturais (se elaboravam na sombra), se apoiando (audaciosamente), em pesquisas que desembaraçavam de barreiras os saberes. Esta promissora iniciativa vinha de “Intelectuais Negros”, que, se definindo (explicitamente), como tais, assumiam doravante, a sua situação no género de um paradoxismo: “Americanos e Negros, Intelectuais e Negros” (orgulhosos desta dupla pertença), movidos por profundas exigências de rigor e de universalidade, porém, enérgicos (identicamente), de singulares heranças, transmitidas sem testamento, vencidos de uma espoliação.
            Entre eles, duas brilhantes figuras (dentro de pouco tempo), são chamados à servir de proa. Estamos, a referir (concretamente), a:
            --- WILLIAM EDWARD BURGHARDT DU BOIS (1868-1963, futuro pai do Pan-Africanismo) e de ALAIN LEROY LOCKE (1885-1954, futuro mentor do Renascimento de Harlem).

Posto isto, vamos (então), dar início, ao Estudo destes “Dois percursos excepcionais”.


(1)           Licenciados ambos, na Universidade de HARVARD, florão da IVY LEAGUE, após uma primeira formação ambiciosa (Um à FISK, o outro na Escola normal de Filadélfia), DU BOIS e LOCKE vão seguir caminhos paralelos (identicamente), pluridisciplinares e transnacionais. À exemplo do mentor deles, WILLIAM JAMES (1842-1920), vão (com efeito), estudar na Europa e, se inscrevem (designadamente), na Universidade de Berlim (respectivamente), em 1892-1894 e 1910-1911.
(2)           DU BOIS, historiador, apaixonado pela Filosofia, publicará a sua Tese sobre A supressão do Trafego dos Negros na América, em 1896, antes de abrir a via da Sociologia urbana, com um notável Estudo sobre a condição dos Negros no Norte (The Philadelphia Negro, 1899). Feito professor na Universidade de Atlanta (ele) fará aparecer, em 1903, um singular ensaio: “As Almas do Povo Negro”, em que delineia, entre História, Sociologia, Autobiografia e Crítica Cultural, a Aventura Colectiva dos Negros americanos até a aurora do Século XX. O jovem universitário funda (então), um movimento de luta para o reconhecimento dos direitos cívicos que tornará, em 1910, a “National Association for the Advancement of Colored People” (NAACP).
(3)           De anotar (por outro), que, neste mesmo ano, ALAIN LOCKE encontra-se na Universidade de Berlim, após três anos de Estudos, na Universidade de Oxford. Redige (), uma primeira Tese de Filosofia: “Um ensaio sobre o conceito de valor” e segue (entre outros), os cursos de GEORG SIMMEL (1858-1918), antes de ir a Paris, na Primavera de 1919, para assistir as Lições de HENRI BERGSON (1859-1941), no Colégio de França. No seu regresso aos Estados Unidos é recrutado para a Universidade de HOWARD (Washington D. C.), para ensinar a Literatura e a Filosofia.
(4)           Na sequência, ALAIN LOCKE, sob os auspícios da NAACP profere, em 1915 e 1916, uma série de cinco conferencias públicas e interdisciplinares (entre Sociologia, História e Antropologia), sobre a Temática que se prende com “Os Contactos de raças e as relações inter-raciais” (LOCKE, 1992), depois volta à HARVARD para obter, em 1918, o  seu doutoramento em Filosofia com uma nova Tese sobre a Teoria dos valores (LOCKE, 1917).
(5)           Alguns anos mais tarde, LOCKE coordena a Antologia do New Negro (1925). Polimorfo e polifónico (que reúne), sem distinção nem pré-sessão, homens e mulheres, Negros e Brancos, escritores, artistas, jornalistas e investigadores, este volume se oferece (ao mesmo tempo), como um novo corpus (de poemas, ficções, peças de teatro...) e como uma primeira coleção de ensaios críticos sobre o mundo Negro (via a Sociologia, a História, a Crítica Literária, musical ou artística). Transcrições de contos ou de negro spirituals, reproduções de arte tradicional ou contemporânea, bibliografias e discografias completam (inteligentemente), o conjunto, marcando (destarte), a entrada dos Novos Negrosna cena cultural e intelectual Internacional. No entanto, DU BOIS (por seu turno), terá lançado a ideia Pan-Africana, dirigindo a Revista da NAACP (The Crisis), que servirá de caixa de ressonância, em todas as reivindicações e formas de expressão dos Negros Americanos.
(6)           E, encurtando razões (por motivos óbvios), vamos, passar a estudar (numa perspectiva eminentemente pedagógica), o eloquente e profícuo Magistério de DU BOIS e de LOCKE, com ênfase, para o vector didático. Ou seja: A “Indisciplina Intelectual” da lavra destes dois eruditos pensadores do Século XX, indisciplina essa, que consiste em infletir (mudando o curso), “às Ciências Humanas e Sociais, para pensar com elas, os problemas específicos da experiência Afro-Americana”, sem (para tanto), os privar do seu alcance universal. Trata-se (numa palavra), de testar (pragmaticamente), o que WILLIAM JAMES denomina (ironicamente), o seu Valor a pronto”.
(7)           Vale a pena, sublinhar (antes de mais), os seguintes pontos:
a.     As “Disciplinas” são apenas “unidades ou cortes do saber”. Elas denominam (outrossim), regímenes conceptuais e os hábitos cognitivos  que os caracterizam.
b.    Eis porque, a Indisciplina equivale (desde então), à inflectir/reunir vários saberes (ao mesmo tempo), que os regímenes de pensamento que os atravessam.
c.     Enfim (na verdade), estas “Indisciplinas” testemunham um processo original que consiste (neste ponto e sentido), a torcer/estrangular elóquios, teorias e conceitos para explicar as situações, aspirações e expressões dos povos oprimidos.
Continua (...)

Lisboa, 14 Maio 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)