quarta-feira, 25 de abril de 2012

(LVII) Alors que faire?


Prática de ACTUAÇÃO QUINQUAGÉSIMA SÉTIMA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

                        NP:

                                    A revolta incondicionada (sem sujeito, sem voz
                                    e sem rosto), constitui o inadmissível da
                                    Reflexão política e o impensado da Filosofia
                                    Contemporânea (...)

Sim (efetivamente), encarnamos a desgraça teórica
e humana deste tempo! Um tempo que não está
disposto em mudar a Justiça do tempo. Donde, de
questionar (avisada e assertivamente), como é que uma
revolução política seria efetivamente possível sem
um sujeito que se reconhecesse (ele mesmo), como
o próprio a mudar o Mundo?”
            KWAME KONDÉ (2012).



(1)           Com efeito (et pour cause), a antífona/estribilho dos intelectuais sobre o fim do sujeito político no discurso público cessa de se fazer entender/ouvir (assim que), um movimento (morfologicamente) genérico surja na idade do desmoronamento estrutural da política clássica. Eis que principia (então), a procura/busca febril de uma identidade, a fim de desentocar/desemboscar um sujeito capaz de fazer valer o que (ele) pretende, de modo consciente e responsável.
(2)           Nos outros casos (todavia), se (o) que atua/age não fala, se (ele) nega a própria validade de todo enunciado político, o poder declara a guerra: Tem-se desde então de se haver com o vácuo e o vazio!

(3)           É como se a estupidez da separação entre a teoria e a práxis não tivesse sido bastante sublinhada e como se, quando se cai na realidade e que se abandona o espaço etéreo da especulação, um sujeito unitário devia a despeito disso persistir, na medida em que a lógica (politicamente pacificada), dos interesses económicos (em conflito), torna inconcebível a possibilidade de um evento, no espaço e no tempo, como (o) de uma revolta contra toda condição revoltante.
(4)           Eis porque, no âmbito da dinâmica, acima expendida (aliás), para bem refletir nisso, o desprezo filosófico e político para a revolta, reitera uma vetusta e prístina ideia! Ou seja: A revolta só se torna tolerável à partir do instante em que (ela) é orientada para uma mudança da Sociedade projetada para o futuro e centrada na dialéctica do princípio do poder.
(5)           Todavia, a revolta não possui menos a capacidade de dilacerar o interdito como a fere quando um acréscimo de real o impõe no Mundo!
(6)           Se for preciso aceitar a ideia do conceituado filósofo alemão, FRIEDRICH NIETZCHE (1844-1900), no atinente à inconsistência filosófica do sujeito, é necessário (outrossim), deduzir disso o fim de todo princípio da política moderna para o discurso político. Em contrapartida, desde então, que uma figura nova se impõe na cena do Mundo e promete “mudar as coisas” em nome de uma identidade, pudemos estar seguros que temos à haver com um organismo que se limitará, quer a administrar o que existe, quer a forjar um projeto criminoso, quando se não for ambos, simultaneamente!
(7)           Donde (et pour cause), se (presentemente), se invoca o nascimento de uma identidade política para remeter o Mundo nas suas bases (Quais?), isto significa que se está longe de uma política que está ao nível do seu objetivo/desígnio/fim, e que se ambicionaria menos em produzir uma mudança na “arte de governar”, que em transfigurar o “estado da existência”, decompondo, em nome de uma “crítica de todo o existente”, o estatuto teológico da política moderna (que sobrevive), tal um fantasma, à sua morte!
(8)           Sem sombra de dúvida (atualmente), leia-se (obviamente, nos dias de hoje), uma subjetividade política plural só pode ser  e constituir evento: Ou seja: Um enxame de singularidades ostentadas num evento inopinado/imprevisto. E, em outros termos: A única subjetividade possível é (a), que destrói a sua própria dimensão subjetiva! Estamos, a falar, no caso concreto dos migrantes que se rebelam (por toda a parte), no Mundo contra a exploração da sua clandestinidade. Trata-se (obviamente), de um precipitado de singularidades que nada congrega (de forma unitária) e que só um território permite reatar entre elas, na base de uma condição revoltante comum (potencialmente), do mesmo modo, fazer existir os inexistentes (de feito, para todos os dos quais se pode mesmo ter a impressão que eles estão privados do corpo, a revolta é a oportunidade de se desembaraçar da sua invisibilidade). Enfim e (de modo), assertivo: Na revolta, o indivíduo isolado rompe a lei da sua miserável rotina revoltante!
(9)           Pode-se pensar, que, mesmo, na ausência da revolução, “um revolucionário é um revolucionário” (do mesmo modo que um escritor permanece provavelmente um escritor quando ele não escreve!). Em contrapartida, o “revoltado só é um revoltado no tempo da revolta”. Senão, ele se encontra debandado/destroçado na obscuridade/treva/olvido do é!... De feito, o revoltado não existe antes do evento que (ele) desencadeia. Não existe insurrecto/revoltado sem revolta! Na verdade, conquanto, o ser-revoltante concentre nele uma consistência ontológica do Humano, esta vocação/propensão, que partilha não importa qual forma de vida, não acede (forçosamente), à uma revelação mundana. Trata-se antes (muito pelo contrário) de um gesto envolto num nevoeiro da história. Não existe (por conseguinte), determinismo ontológico entre o ser-revoltante e a REVOLTA!
(10)         E, para terminar e, em jeito de Remate consequente, se nos afigura oportuno, avançar as seguintes pertinentes considerações:
a.     O instante da revolta determina a autorrealização imprevista da singularidade enquanto (ela) pertence à uma colectividade política (para além da) política concebida nos termos de uma constituição jurídica das relações Humanas.
b.    O revoltado aniquila todo formalismo do sujeito e, eis porque (ele) só existe na práxis da ação concreta.
c.     Demais, do mesmo modo, a especulação acerca do ser-revoltante só é possível se a revolta se realize.
d.    O tipo de elo/vínculo que existe entre si é da mesma natureza que (o) que prenderia a atenção do filósofo francês, Michel FOUCAULT (1926-1984) à propósito da Filosofia e da Política. Ou seja: A Filosofia não revela a verdade da Política (ela) verifica na Política a validade da sua atitude!
e.     Enfim e, em suma: É quando o pensamento que (a) pensa, separa disso o conceito e é quando (ela) se precipitou na experiência da revolta e que a verdade (que for necessária é dissimulada no Mundo), é que a verdade do ser-revoltante se revela. A revolta extrai de si mesma a sua verdade! Ela precede todo saber que a diz respeito, obviamente!

Lisboa, 23 Abril 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).