Prática
de ACTUAÇÃO QUINQUAGÉSIMA QUARTA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
No
cerne do modo de produção da metamorfose
do Mundo...
L’homme passe infiniment l’homme”.
Blaise PASCAL (1623-1662)
(1)
Mas (na
verdade), qual é (presentemente),
o modo de produção da metamorfose do Mundo? Agora que as
escolas políticas se tornaram inaceitáveis
à que critério deve responder a
realização/execução de uma subjetividade revolucionaria que permitiria
detectar no indivíduo uma transformação
potencial? Eis porque (obviamente),
com o crepúsculo da política, esta questão ora enunciada, se
impõe à todo pensamento da transformação e à toda lógica do múltiplo vinculado à um
exercício singular da subjetividade não formal. Destarte, de tudo isto,
se arvora o “contorno teórico e conceptual donde surde a disposição do
“ser-revoltante”.
(2)
Donde, com efeito (et pour cause), no momento em que a possibilidade de um modelo
alternativo ao capitalismo se
desmoronou (materialmente), o eclipse
da ideia que faz do processo revolucionário o motor da inovação
social, institui uma época da desgraça/calamidade/catástrofe (como, aliás, atesta extraordinariamente a
crise financeira do capitalismo global, a
derradeira, porém, a mais grave cuja origem reside no papel túrbido/confuso da moeda).
(3)
No entanto (infelizmente), a afasia colectiva e a amnésia dos adversários
do capitalismo (ainda não
libertos do sentimento de culpabilidade que a experiência histórica do
capitalismo do Estado, no século XX pretérito,
que os atingira deleteriamente),
engendra entre todos os que deveriam continuar à pensar, numa outra
forma de relações humanas, um pathos
assaz grave e até surpreendente e indecente mesmo.
(4)
Na verdade, vale a pena, sublinhar (antes de mais), que (sem sombra de dúvidas), a catástrofe
é a ruína de uma revolução impossível! Ela marca a dissipação de toda possibilidade
de movimento orientado para a edificação de uma Sociedade mais equitativa e
justa. No fundo, no fundo é esta ausência/privação que torna obscenas as
sociedades hiperindustrializadas e faz do Mundo um lugar (assaz), triste e melancólico!
(5)
Sim (efetivamente), encarnamos a desgraça teórica e humana deste tempo!
Um
tempo que não está disposto em mudar a Justiça do tempo. Donde, de
questionar (avisada e assertivamente),
como
uma revolução política seria efetivamente possível sem um sujeito que se
reconhecesse (ele mesmo), como
o próprio a mudar o Mundo?
(6)
Todavia, de anotar, que a catástrofe
não transporta (outrossim), a
marca de um sublime evento de ruptura (entendendo-se sublime, na avisada acepção de
KANT: o que coage a pensar)? Não é este frémito político invocado pela dor
revoltante do Homem? Não fornece
ela potencialmente, o móbil de uma outra condição? Se tudo
isto for verdadeiro, não deveríamos acelerar o curso das cousas?
Não deveríamos optar (resolutamente),
para a catástrofe geral, que
nenhum processo político, ou
seja, um projeto (que exclui),
a política
do evento orientado para uma outra natureza do Mundo (presentemente sustado de ser verosímil) e quiçá mesmo, de ser desejável?
(7)
Donde e daí e (sem demais delongas), se impõe ponderar o seguinte: “É possível
pensar uma ontologia política, enquanto práxis
da defecção?” Com efeito (et pour
cause), na época do Bio-poder, no momento em que a existência,
enquanto tal se torna fonte de produção de riqueza à escala
industrial, quiçá seja permitido conceber a oportunidade de uma
ontologia-política do niilismo que
manifestaria o carácter revoltante do
Ser? Na revolta aglomera-se a comunidade disforme dos que expostos à fatalidade histórica e à prescrição da Lei,
deixam entrever uma situação que já não
permitiria, seja quem for, discernir a sua própria diferença no Mundo.
(8)
De feito (et
pour cause), se afigura necessário consignar, que a revolta carcome e mina (a pouco e pouco), o estado que priva a nossa história/tragédia
biográfica do seu carácter singular e faz disso
um episódio histórico anónimo e
inexorável. Ela despedaça a
solidão individual da dor e aterroriza a autoridade do governo político, invocando uma singularidade que torna o vinco
da ação imprevisível de uma pluralidade de alheios! Se (com efeito), a cultura neoliberal não
entende deixar nenhuma diferença da
diferença, a revolta (pelo contrário),
conta com a sua própria dissonância para (efetivamente),
inventar
a diferença no Mundo (uma
diferença por conseguinte que cria a diferença).
(9)
E, para terminar, de modo (dialecticamente), assertivo e
consequente e, em jeito de Remate avisado, temos (então) que:
a.
A revolta é uma eventualidade fundamental do
ser-revoltante. Ela manifesta-se no Mundo todas as vezes que os elóquios do saber ordenado consoante regras
disciplinares, assim como os processos de captura institucional (policial da existência), mostram que a
sua deterioração analítica e desmascaram
a sua violência estrutural.
b.
E (por
outro), na época da mutação onto-genética do Humano, enquanto a vida
se torna (materialmente), um problema
e que a guerra permanente se
revela constituir a fonte maior de
simbolização do Mundo, só o tumulto da revolta pode fazer erguer um
fragmento da existência, um fragmento (concomitantemente), singular
e plural, susceptível de frustrar e
complicar toda a imagem homogénea e cristalizada do existente.
c.
De facto e, em síntese: O ser-revoltante
se assume como “uma ontologia política que reflete a variação e a
hibridação contínuas dos processos de subjetivação. Por seu turno, a revolta
constitui uma “ocasião de agitação radical do princípio da
estabilidade”. Ela abala e enfraquece
toda posição histórica, natural e social consolidada.
d.
Donde, enfim: O ser-revoltante é o que no seio do
Humano, permanece (eternamente),
indefinível. Ele designa uma tensão sem fim na finitude própria ao que é
Humano. Ou seja: Uma disposição inesgotável à mudança (a alterações do Humano, mesmo quando a vida
já não se opõe à morte). Testemunha do carácter inexaurível da
disposição revoltante do Homem: O
cadáver modifica-se até ao ponto de se disseminar no Mundo.
e.
Finalmente, para concluir (de modo assaz) eloquente: Na verdade (et pour cause), o ser-revoltante evoca, numa óptica (claramente) “alucinada” em relação ao seu horizonte de sentido originário (aliás assaz misterioso em si), assestado
num pensamento
memorável da lavra do matemático, físico e filósofo francês, Blaise
PASCAL: “L’homme passe infiniment
l’homme”.
Lisboa, 16
Abril 2012
KWAME KONDÉ