quarta-feira, 18 de abril de 2012

(LIV) Alors que faire?


 Prática de ACTUAÇÃO QUINQUAGÉSIMA QUARTA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

No cerne do modo de produção da metamorfose do Mundo...

L’homme passe infiniment l’homme”.
Blaise PASCAL (1623-1662)

(1)           Mas (na verdade), qual é (presentemente), o modo de produção da metamorfose do Mundo? Agora que as escolas políticas se tornaram inaceitáveis à que critério deve responder a realização/execução de uma subjetividade revolucionaria que permitiria detectar no indivíduo uma transformação potencial? Eis porque (obviamente), com o crepúsculo da política, esta questão ora enunciada, se impõe à todo pensamento da transformação e à toda lógica do múltiplo vinculado à um exercício singular da subjetividade não formal. Destarte, de tudo isto, se arvora o “contorno teórico e conceptual donde surde a disposição do “ser-revoltante”.
(2)           Donde, com efeito (et pour cause), no momento em que a possibilidade de um modelo alternativo ao capitalismo se desmoronou (materialmente), o eclipse da ideia que faz do processo revolucionário o motor da inovação social, institui uma época da desgraça/calamidade/catástrofe (como, aliás, atesta extraordinariamente a crise financeira do capitalismo global, a derradeira, porém, a mais grave cuja origem reside no papel túrbido/confuso da moeda).
(3)           No entanto (infelizmente), a afasia colectiva e a amnésia dos adversários do capitalismo (ainda não libertos do sentimento de culpabilidade que a experiência histórica do capitalismo do Estado, no século XX pretérito, que os  atingira deleteriamente), engendra entre todos os que deveriam continuar à pensar, numa outra forma de relações humanas, um pathos assaz grave e até surpreendente e indecente mesmo.

(4)           Na verdade, vale a pena, sublinhar (antes de mais), que (sem sombra de dúvidas), a catástrofe é a ruína de uma revolução impossível! Ela marca a dissipação de toda possibilidade de movimento orientado para a edificação de uma Sociedade mais equitativa e justa. No fundo, no fundo é esta ausência/privação que torna obscenas as sociedades hiperindustrializadas e faz do Mundo um lugar (assaz), triste e melancólico!
(5)           Sim (efetivamente), encarnamos a desgraça teórica e humana deste tempo! Um tempo que não está disposto em mudar a Justiça do tempo. Donde, de questionar (avisada e assertivamente), como uma revolução política seria efetivamente possível sem um sujeito que se reconhecesse (ele mesmo), como o próprio a mudar o Mundo?
(6)           Todavia, de anotar, que a catástrofe não transporta (outrossim), a marca de um sublime evento de ruptura (entendendo-se sublime, na avisada acepção de KANT: o que coage a pensar)? Não é este frémito político invocado pela dor revoltante do Homem? Não fornece ela potencialmente, o móbil de uma outra condição? Se tudo isto for verdadeiro, não deveríamos acelerar o curso das cousas? Não deveríamos optar (resolutamente), para a catástrofe geral, que nenhum processo político, ou seja, um projeto (que exclui), a política do evento orientado para uma outra natureza do Mundo (presentemente sustado de ser verosímil) e quiçá mesmo, de ser desejável?
(7)           Donde e daí e (sem demais delongas), se impõe ponderar o seguinte: “É possível pensar uma ontologia política, enquanto práxis da defecção?” Com efeito (et pour cause), na época do Bio-poder, no momento em que a existência, enquanto tal se torna fonte de produção de riqueza à escala industrial, quiçá seja permitido conceber a oportunidade de uma ontologia-política do niilismo que manifestaria o carácter revoltante do Ser? Na revolta aglomera-se a comunidade disforme dos que expostos à fatalidade histórica e à prescrição da Lei, deixam entrever uma situação que já não permitiria, seja quem for, discernir a sua própria diferença no Mundo.
(8)           De feito (et pour cause), se afigura necessário consignar, que a revolta carcome e mina (a pouco e pouco), o estado que priva a nossa história/tragédia biográfica do seu carácter singular e faz disso um episódio histórico anónimo e inexorável. Ela despedaça a solidão individual da dor e aterroriza a autoridade do governo político, invocando uma singularidade que torna o vinco da ação imprevisível de uma pluralidade de alheios! Se (com efeito), a cultura neoliberal não entende deixar nenhuma diferença da diferença, a revolta (pelo contrário), conta com a sua própria dissonância para (efetivamente), inventar a diferença no Mundo (uma diferença por conseguinte que cria a diferença).
(9)           E, para terminar, de modo (dialecticamente), assertivo e consequente e, em jeito de Remate avisado, temos (então) que:
a.     A revolta é uma eventualidade fundamental do ser-revoltante. Ela manifesta-se no Mundo todas as vezes que os elóquios do saber ordenado consoante regras disciplinares, assim como os processos de captura institucional (policial da existência), mostram que a sua deterioração analítica e desmascaram a sua violência estrutural.
b.    E (por outro), na época da mutação onto-genética do Humano, enquanto a vida se torna (materialmente), um problema e que a guerra permanente se revela constituir a fonte maior de simbolização do Mundo, só o tumulto da revolta pode fazer erguer um fragmento da existência, um fragmento (concomitantemente), singular e plural, susceptível de frustrar e complicar toda a imagem homogénea e cristalizada do existente.
c.     De facto e, em síntese: O ser-revoltante se assume como “uma ontologia política que reflete a variação e a hibridação contínuas dos processos de subjetivação. Por seu turno, a revolta constitui uma “ocasião de agitação radical do princípio da estabilidade”. Ela abala e enfraquece toda posição histórica, natural e social consolidada.
d.    Donde, enfim: O ser-revoltante é o que no seio do Humano, permanece (eternamente), indefinível. Ele designa uma tensão sem fim na finitude própria ao que é Humano. Ou seja: Uma disposição inesgotável à mudança (a alterações do Humano, mesmo quando a vida já não se opõe à morte). Testemunha do carácter inexaurível da disposição revoltante do Homem: O cadáver modifica-se até ao ponto de se disseminar no Mundo.
e.     Finalmente, para concluir (de modo assaz) eloquente: Na verdade (et pour cause), o ser-revoltante evoca, numa óptica (claramente) “alucinada” em relação ao seu horizonte de sentido originário (aliás assaz misterioso em si), assestado num pensamento memorável da lavra do matemático, físico e filósofo francês, Blaise PASCAL: “L’homme passe infiniment l’homme”.


Lisboa, 16 Abril 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).