sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

XXVIII) Alors Que faire?

Prática de ACTUAÇÃO VIGÉSIMA OITAVA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

(A)

            Com efeito (et pour cause), vendo bem com “olhos de ver”, a revolução é uma transformação do estado das coisas, que aspira em estabelecer (historicamente), contra o passado, um outro sistema de poder. O fim que prosseguem os revolucionários, a criação de uma nova autoridade política, pressupõe uma transformação da existência individual e colectiva.
            De sublinhar (antes de mais), que, se a revolução é um fenómeno susceptível de fazer evoluir a História, já a revolta (por seu turno), é um evento/acontecimento que rompe toda evolução objectiva dos eventos históricos. Ela não tem história e (quiçá mesmo), nada de verdadeira genealogia. Pode-se (quando muito, no máximo), associar-lhe uma cronologia que apenas faz um com o seu evento.
            Todavia (de anotar), que enquanto a revolução é uma manifestação (tipicamente), moderna, as revoltas surgem, desde que o homem existe. Elas acompanham o processo onto-genético e a expansão histórico-cultural da Humanidade. Donde e daí, não ser (por conseguinte), falso afirmar que a revolta promove e torna (ontologicamente), pensável o que abriga a ideia de um oximoro radical. Ou seja: Um “Evento/acontecimento permanente”.


(B)

            De facto, a revolta materializa uma concepção da temporalidade (que assume), uma relevância crucial na determinação da pertinência de uma política, enfim, exonerada das trajetórias da política moderna. Ou seja: O evento/acontecimento! Ela remete (destarte), ao seu legítimo lugar, a vulgarização desconcertante --- (elaborada na peugada de uma péssima leitura de HEIDEGGER), que faz do evento (político), a encarnação de uma figura do milagre. Na revolta o evento/acontecimento é bem mais um acidente físico (que se produz num espaço e num tempo específicos), capaz de condicionar (materialmente), o curso normal das cousas.

(C)

            Na verdade e porque (ela), se distingue desta pedra angular da política moderna que é a revolução, a revolta (em nada), é obra de uma vanguarda política suposta guiar a sedição do Ser (atuando de fora), da conflitualidade anónima do Mundo à partir de um outro lugar que (o), onde se agitam os revolucionários (sem nome e sem rosto). Ela faz (por conseguinte), voar em estilhaços toda a hierarquia consolidada e toda forma de transcendência política.
            Nunca é de mais (reiterar), que nada se produz, no âmbito da revolta, que não seja o corolário do que (ela) provoca: Ela derruba um postulado da ontologia clássica. Ou seja: O ser-revoltante é um predicado (efetivamente) real da revolta. Aliás, sem passado, nem futuro (ela) desenrola um evento/acontecimento espacial (inventado), uma temporalidade que surde no Mundo contra as injustiças deste mundo.
            Ela dá (por conseguinte) nascimento à uma percepção indecifrável do tempo (uma percepção densa: como se o tempo se consumisse sem se esgotar nem se escoar), enraizada no espaço concreto do que se faz aqui e agora. Deste modo, destituindo o valor de toda verticalidade do sentido (ela) desmantela a origem do comando político, condição teológica (pouco importa a sua forma histórica específica), dos caracteres da política clássica.

(D)

            De feito, enquanto a revolta exprime uma intenção política inconsciente, a revolução (à maneira de HEGEL e mas outrossim da Psicanálise), constituiria o “lugar”, onde a consciência se torna consciência de si. Ela simbolizaria uma projeção política da função do sujeito, que assimila e resolve a injustiça do Mundo na sua arquitetura ético-política. Ela seria (por conseguinte), a figura da explosão do tempo. Sim (efetivamente), o espaço da sua conversão. Eis porque, se compreende melhor (du coup), o porquê da peroração do filósofo francês, Michel FOUCAULT (1926-1984), na sua crítica da função epistemológica do continuum histórico em que não olvida de notar (de um ponto de vista fenomenológico), que: “des révolutions n’y sont jamais que des prises de conscience”---(Archécolgie du Savoir).



                        E já agora, para refletir (antes de mais).
Com efeito, o móbil da revolta é uma sede de justiça sem tempo. A sua batalha é concreta,
mas sem (um) fim. O desejo de justiça que a
conserva em alerta não conhece nem Pátria
nem vocação jurídica. A revolta constitui uma
brecha política na Política.

Lisboa, 31 Janeiro 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).