Prática de ACTUAÇÃO VIGÉSIMA SEXTA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Continuação da posta anterior:
Tendo em conta, o conteúdo de verdade que enforma (em substância) todo o arrazoado assumido na posta anterior, se nos afigura pertinente, estudar os Questionamentos seguintes:
--- Ao fim de conta existe (efetivamente), uma relação estreita entre a evolução dos costumes e a das técnicas?
--- Existe entre (elas), um elo/vínculo de causalidade?
--- A Sexualidade separou-se da procriação tão (definitivamente), como o exprime (aliás) o pensamento comum?
--- A Igreja e o elóquio do cidadão estariam sepultados sob forma de uma memória demasiado pesada para continuar a fazer do casamento, uma mera finalidade reprodutora?
Donde e daí (evidentemente), se (realmente), a dissociação é evidente, a ferida que daí resulta, todavia, não menos. Isto não significa (para tanto), que, num plano moral, o encontro fecundante de dois corpos está (naturalmente), investido de uma espécie de IMPRIMATUR recusada aos demais outros. Demais, não é (quiçá, por acaso), que se sustenta, apresentando como provas (nomeadamente), a perversão incestuosa, a violação/estupro, a penetração não consentida por um indivíduo sob a influência do álcool (nada dissemelhante de um estupro). A idealização do coito como único modo aceitável de procriação comporta uma enorme indiferença à vulnerabilidade e ao sofrimento da mulher. É (por vezes), trágico que a “moral” força irrupção no desejo de criança, como se houvesse uma boa e uma má forma de conceber.
Aliás, esta ferida (tão pouco), significa, que o desejo de criança não é menos forte, num casal, heterossexual ou homossexual, tendo recorrido à (fecundação in vitro), até à adopção, como, no caso de um casal heterossexual (que leva) uma vida sexual dita natural. Isto (por conseguinte), é (neste ponto), questão que não releva, nem da simples relação entre reprodução e sexualidade, nem de uma conotação moralizante, nem de uma escala, no âmbito do desejo de criança, mas (simplesmente), de uma aliança inconsciente de termos cuja ruptura, é mais fonte de incompletude que de serenidade.
E, em jeito de Remate assertivo, vamos expor as grandes Ideias que enformam (em substância), esta atual Temática, que temos vindo a analisar e estudar:
(1) Estamos ante o término de uma aliança (naturalmente) estabelecida entre a Sexualidade e a Reprodução? A Medicina transporta, neste domínio uma opressiva responsabilidade, que (ela) assume com um certo e determinado júbilo. Com efeito, fazendo malabarismos e habilidades com os dissemelhantes parentescos biológicos (ela) tenta agarrar-se à derradeira esperança da “conveniência” para afastar o que (ela) considera como “hors norme”.
(2) De sublinhar (antes de mais), que esta noção (mesmo de conveniência), permanece assaz delicada na opinião da diversidade e das pessoas cruzadas.
(3) De feito (e, neste sentido), basta que se fale de uma gestação numa mulher de 60 anos ou da edição de um livro provocador acerca do útero artificial, para que o imaginário se ponha em marcha, com tanta indignação, qual secreto fruição/orgasmo da transgressão. A finalidade já não é uma evidência! Ela torna-se uma construção (por vezes), assaz complexa, que a Biologia contribui para diversificar indefinidamente. Maternidade e Paternidade permutam-se!
(4) Na verdade e (na realidade), a mudança de estatuto da mulher constitui (quiçá), a maior subversão cultural do término do século XX pretérito.
(5) No meio de tudo isso, o pai é o que mais perdeu do seu estatuto natural de autoridade. Donde (ipso facto), lhe é preciso (presentemente), construir e ocupar um lugar cultural de pai que a sociedade jamais declinou em reconhecer-lhe. Todavia, se (se) pergunta algumas crianças, como se faz para ser pai? Hélas! De facto, atrás desta questão (outrora reservada aos órfãos), se esconde (quiçá), senão a nostalgia de um tempo volvido (pelo menos no atinente à procura), sempre presente de um união amorosa que constitui uma família. É, na verdade, se seguro, que o desejo de criança/filho autónomo do desejo sexual não abre a porta à uma barbárie sem limites?
(6) Enfim, enfim!... Don Juan est mort! Narciso ocupou o seu lugar! A visibilidade excessiva da intrusão médica, que terminou por influenciar a sociedade ao ponto que esta o exige (doravante), mascara o iceberg subterrâneo desta humanidade que está longe de estar despojada (tanto como ela o crê do elo/vínculo Sexualidade-Reprodução. O que é facto (aliás), esta questão fundamental da aliança sexo-criança/filho permanece no cerne do desejo do Ser Humano, sem que disso ele tenha consciência.
(7) Finalmente, para de modo (dialecticamente consequente e assaz avisado), terminar este nosso Estudo ensaístico, se nos afigura relevante exarar o seguinte:
a. SIGMUND FREUD (1856-1939), fez da Sexualidade o fundamento maior do comportamento psíquico humano.
b. Entretanto e (por seu turno), o nascimento de Louise BROWN a 25 Julho 1978 (a primeira criança concebida após fecundação in vitro), abrindo a porta da fecundação in vitro, permitiu que um pensamento novo surgisse desta brecha sem colmatagem quiçá possível ? Aliás, já afirmava MARTIN HEIDEGGER (1889-1976), que “A Ciência não pensa”.
c. Com efeito, só a consciência distingue o homem da pura matéria viva! Eis porque, outorgar-lhe permissão, na embriaguez de traumatismo técnico, significaria a vitória do eu sobre o nós, a vitória do prazer sexual instantâneo encorajado à porfia (VIAGRA), desatado da construção de um porvir, de uma promessa, de uma vida e existência, ou seja de uma espiritualidade que nos convoca no coração mesmo do Humano.
Lisboa, 27 Janeiro 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).