Prática de ACTUAÇÃO VIGÉSIMA TERCEIRA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
Para refletir:
O ACTO SEXUAL (parece) não ter (presentemente), outra finalidade que a sua própria satisfação. A dimensão hedonista triunfa (levando a melhor) sobre a função reprodutora! HÉLAS!
Eis-nos (quiçá)
Ante o término do conúbio:
Sexualidade e Reprodução!?...
(1)Com efeito, o desvio é considerável entre a ideia que a Sociedade se faz da Sexualidade, da criação/concepção/geração e a realidade concreta. Neste ponto, a Cultura sublimou esta pulsão (como nunca), deixando ao único elóquio literário, religioso (cresceis e multipliqueis), político ou trivial, o monopólio da Verdade. Cada um (uma) se conforma ou se opõe à este dito colectivo, proclamando valores “morais” aos quais (ele/ela), se identifica ou que (ele/ela), transgride com um sentimento de alforria/libertação e de marginalidade/delito. E isto (tanto mais facilmente), que a Sociedade contemporânea remova a ordem arcaica da lei do interdito em benefício de “tout voir, tout faire”.
(2) Todavia, o que é facto é que a Sexualidade tal como a exprime o elóquio colectivo só tem pouco a ver com o íntimo de cada um. A “perversão” estigmatiza no outro, faz o impasse sobre cada vivência pessoal. Para demonstração, a revelação pela enfermidade (o SIDA, no caso presente e nesta circunstância), de um comportamento sexual, que (sem esta maldição/anátema), permaneceria submersa no segredo das alcovas.
(3) Eis porém, que (desconchavada e inopinadamente), o adolescente amante homossexual generoso, ou cativo da sua ligâmen amorosa, se torna o filho adoptivo. A sociedade baixa (pudicamente), os olhos e se deleita, que este elo/vínculo transmutado social, camufla uma vida sexual ativa, visto que existe tantos discursos normativos acerca da sexualidade (conforme ou não), como acerca da procriação dita natural ou assistida. AS convenções sociais idealizam a sexualidade, ignorando (de bom grado), o que (elas) julgam como um desvio. Todavia, atenção ao ou à que coloca a sociedade perante à sua própria realidade de ignomínia/obscenidade!
(4) Com efeito, é de bradar os céus! Na verdade, quão esquisita e quão singular (ela é), esta humanidade que (por um lado), se firma por uma visão tão caricata como falsa e (pelo outro), vive, de modo esquizofrénico ao sabor das suas pulsões (mais inconfessas!). Uma explicitação simultânea de cada comportamento sexual a deixaria estupefacta e (profundamente), chocada, como se lhe fora preciso, para manter o elo/vínculo social, assumir (ao mesmo tempo), os dois planos: o plano do corpo (obsidiado pela sua própria fruição/orgasmo), sem limites e o plano do espírito (submisso ao esforço permanente), de uma colocação à distância desta atividade.
(5) Vendo bem “com olhos de ver”, é (quiçá), no âmbito desta décalage que tenha surgido o “erotismo”: Desde sempre, o que é secreto suscita a cobiça/desejo. De feito, uma sociedade na qual cada um dos membros exprimiria (incessantemente), os seus fantasmas acabaria por ser (profundamente), enfadonha. OH! OH! “Enquanto um joelho avistado de relance, um pé (inopinadamente libertado) do seu calçado, uma prega nadegueira (bruscamente), visível, a visão fugaz de uma calcinha posta a descoberto aquando de um movimento de pernas, um tee-shirt que valoriza um busto musculado ou um baixo-ventre orgulhoso da sua convexidade”, desencadeiam (por vezes), um desejo inopinado (de imediato), num homem ou numa mulher. O erotismo jaz (por conseguinte), no imaginário do desejo, que ameaça a inflação erótica sem mistério.
(6) De anotar, que o imaginário (ora enunciado), se encontra (identicamente), presente na relação quão evidente como ambivalente entre sexualidade e procriação. Evidente porque o ACTO SEXUAL permanece o modo de procriação mais habitual. Ambivalente porque a sociedade experimenta (doravante), o sentimento que a sua finalidade é mais a satisfação do desejo que a geração/criação. Donde, eis-nos ante um acto voluntário (“ainda por cima”), que já não relevaria do acaso. Sim (efetivamente), da única vontade.
(7) Finalmente, para rematar (adequadamente), esta nossa Peça ensaística, se impõe sublinhar (com ênfase), que a verdade, no âmbito desta problemática, é (provavelmente), muito mais complexa. Dito (de outro modo): O imaginário da sexualidade e da procriação remete para uma contradição. Ou seja: Uma sexualidade “normal” constituiria o lote comum, porém estaria (doravante), dissociada da procriação. Estas duas asserções são (provavelmente), a remeter em causa, visto que, o íntimo de cada um é incomunicável. E, acreditando nos ensinamentos do psiquiatra francês, Jacques LACAN (1901-1981), concretamente quando afirma: “Peut-être l’acte sexual n’existe pas”, neste sentido, a geração/criação permanece o cerne subterrâneo da vida sexual.
Lisboa, 18 Janeiro 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).