sábado, 3 de dezembro de 2011

(XVII) Alors Que faire?

                         Prática de ACTUAÇÃO Décima Sétima:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

            Com efeito (et pour cause)
MUNDO BENBA KA PUR’SI!...

                        NP:

                                    Numa época em que (concomitantemente), asseveramos que o Mundo é (efetivamente), sempre, cada vez mais “globalizado”(leia-se outrossim e por conseguinte: unificado) e que os nossos modos de vida, de cultura, são (sempre), mais heterogéneos, se impõe recolocar em obra esta questão: continuamos à considerar-nos como vivo num Mundo enquanto, já não é evidente e seguro que possamos usar (ainda), estas expressões/termos?
                                    Com efeito, já não nos encontramos, nem “em”, nem “perante” o Mundo, porém este extorque e degreda de forma vertiginosa a consistência da sua realidade “em si”. E (quiçá, aliás), já não vivemos num Mundo ou em vários mundos que (o) ou os mundos não se manifestam, divergem ou se recortam em (nós) e (por nós).

                                    Mas (na verdade), “em que mundo vivemos?” Antes de mais, convém sublinhar, que (a maior parte das vezes), no âmbito da problemática que enforma, em substância, esta questão, o ponto de interrogação vale tanto como um ponto de exclamação. Ela ressoa (concomitantemente), no modo da revolta e na resignação. Na prática (deste modo), faz vocábulo (ou ideia) de “mundo”, escondendo o valor (mais robusto), a que se lhe possa vincular: O do Cosmos, conjunto harmonioso de corpos celestes cujas órbitas carreiam as conexões da ordem universal, isto é voltado para uma unidade integral. É o sentido e a metamorfose desta ordem e deste (um), que se encontram (por conseguinte, implicitamente), interrogados (ipso facto), por esta magna Questão.


            Acontece que (presentemente), a experiência (tanto científica como existencial do Mundo), frustra (fazendo abortar), a postulação “cósmica” na qual o pensamento parecia (inevitavelmente), dever desenrolar-se. Demais (e não obstante), se (por um lado), o mundo-cosmos se encontra espatifado ou desjungido e (por outro), a própria ideia de “mundo”(leia-se: um/conjunto), já não corresponde, nem à investigação física, nem à interrogação metafísica: “pluriversos” e “multiversos” atravessam as sociologias tanto como as ontologias.

            E (antes de mais et pour cause), para refletir, de modo avisado:
            (...) Ao mesmo tempo, que a Ciência progride, ela nos convence que nos tornamos, cada vez menos, capazes de domínio pelo pensamento de fenómenos que, pelas suas ordens de grandeza espacial e temporal, escapam às nossas capacidades mentais. Neste sentido, a história do Cosmos se torna, para o comum dos mortais, uma espécie de grandes mitos e consiste no desenrolamento de eventos únicos, dos quais porque só são produzidos uma única vez e jamais poder-se-á provar a realidade. CLAUDE LÉVI-STRAUSS, In L’Antrhopologie face aux problèmes du monde moderne (Texto escrito e pronunciado em 1986).

(A)
            Não há dúvida nenhuma, que o lexema Mundo (este termo/expressão, quão lato e, outrossim, tão polissémico), conhece (atualmente), três (3) transformações de muito enorme alcance. Ou seja:
            --- Já não pode ser representado como um “Cosmos”(ordenação/organização de um conjunto bem composto), visto que (ele) entrou, no âmbito de uma ausência de ordem definida e refreável (tanto à escala universal”), como à todos os escalões da “Natureza” e da “Cultura”.
            --- Enfim (ele) é diversificado e pluralizado como jamais, tanto no atinente à complexidade das interações com o dado (matéria, vida, espaço e tempo), como nas mudanças que afectam todas as formas de civilização (saberes, poderes, valores).
            Eis porque, por esta tripla razão, o sentido de “mundo” já não é (unicamente), indeciso nem múltiplo: Ele torna-se o ponto crucial, onde vêm enredar-se todos os aspectos e todos os reptos do “sentido” em geral.

(B)
            Todavia, o que se afigura relevante sublinhar é que (ao mesmo tempo), o Mundo conhece três possibilidades. Ou seja: Três riscos e três oportunidades (simultaneamente). Ele entra num movimento de expansão indefinida, tanto à escala “cósmica” como à dos nossos meios de saber e de agir sobre ele ou nele. Ele oferece uma diversidade de facetas (ela outrossim), indefinidamente multiplicada.
            Donde, enfim e, em suma: Já não é (absolutamente), certo que possamos assentar numa distinção entre o “mundo” e “nós”, entre algo em presença (à vista) ou em torno de nós próprios como “sujeitos” deste objecto. Quiçá, já não existe lugar para falar de nós “no” Mundo como de um conteúdo e de um continente. Sim (efetivamente), devemos aprender a existência (simultaneamente), única e não unificada, universal e multi-versal (de todo conjunto).

(C)
            De feito (evidentemente), acontece que (presentemente), o Cosmos que estuda ou que inventa a Cosmo-física (leia-se: Ciência que congrega simultaneamente a Cosmologia e a Geofísica), já não corresponde à esta imagem de uma concordância absoluta e unitária. O que a Metafísica considera ou suputa sob o nome de mundo (no singular ou no plural), como mundo “real” ou “possível” corresponde nisso (sem dúvida), menos ainda. E a projeção que se julgava poder fazer do Cosmos uma história ordenada para qualquer fim última, parece (radicalmente), desacreditada.

(D)
            Eis em quê, física e metafísica, se articulam doravante uma na outra, seguindo um novo modelo, o mundo, a experiência do mundo (leia-se: a experiência tanto cósmica como existencial), desmancha a postulação “cósmica” à qual estamos habituados. Donde (efetivamente): “Em que mundo vivemos?” já não é a exclamação de uma indignação, mas pode se tornar, um verdadeiro questionamento: “Que podemos”, “que devemos” pôr (doravante), sob o vocábulo que denomina o espaço-tempo, o  elemento, o congregante das nossas presenças, o “Todo-conjunto”.

(E)
            Eis porque, se impõe sublinhar (antes de mais), que (por um lado), o mundo-cosmos se encontra espatifado, (por outro lado), a própria ideia de “mundo” (leia-se: UM, CONJUNTO), não corresponde, nem à investigação física, nem à interrogação metafísica. “Pluvers” ou “multivers” estão na ordem do dia dos Físicos e enquanto “multiplicado” e “quantidade” atravessam as sociologias (tanto como), as ontologias. Porém, passar da unidade à pluralidade não pode consistir (meramente), em desmultiplicar, em aumentar a quantidade de unidades discretas (como por exemplo, quando se repisa a multiculturalidade”). De anotar, enfim, que numa tal transferência ou numa tal transformação, são os paradigmas de “um” e da composição ou estruturação das unidades que são postos em jogo.

                        E (um tanto ou quanto), em jeito de Remate, temos que:
            --- Numa época em que asseveramos (simultaneamente), que o Mundo é (sempre ), mais “globalizado” ou “mundializado” (por conseguinte unificado) e que os nossos mundos e os nossos modos de vida, de cultura estão (sempre), mais difratados, dispersos, heterogéneos (até identificáveis), impõe-se remeter em obra a questão do mundo.  Ou seja: Da ideia de “mundo”, da “realidade”, da sua textura ou da sua dissociação.
            --- Todavia, o que é facto, é que “continuamos a considerar-nos como vivo, num mundo, enquanto já não é certo que possamos falar em termos (nem de um “mundo”, nem aliás, de viver”), porém, isto seria uma outra consideração a ter em conta.

            Com efeito, o que vale a pena, acentuar, é que (na verdade), não é o “mundo” (em si), que evolui de tal modo que (ele) modifica os nossos saberes e os nossos pensamentos. É bem antes que o “mundo” extorque e deporta, de modo vertiginoso a consistência da realidade “em si”. Ele não é nem real, na acepção de uma exterior objetiva, nem real na acepção de um sonho. O que é facto: Mais que “real” ou “irreal” (ele) possui a efetividade da interação e da intersecção entre “nós” e “ele”.
            No entanto, esta interação é (outrossim), a de onde procedemos (“nós”) e (“ele”). Demais (no fim de contas), nascemos da “Natureza”, que (por seu turno), recebe de nós a sua consistência, ora “física” (se entendemos este vocábulo, como Aristóteles entende o lexema phusis: o que se cumpriu de si próprio) e ora “natural” se {se) entende com isso o que se obteria fora da “cultura”. Estas significações e (as) que podem decorrer como variações sobre as “origens” ou os “fins” do mundo, ou sobre a sua constituição “material”, os seus tributários da nossa “cultura” e esta se transforma (concomitantemente), como se transforma a intimidade da nossa penetração “em” a dita “matéria” do Mundo.

            De feito (et pour cause), penetrando nela fazemos (de qualquer modo), sempre mais irrupção (exteriormente): Lá (precisamente), onde já não existe oposição entre “no interior” e “no exterior”, entre “mundo” e “não-mundo”. Deste modo, já não encontramos, nem na participação à uma animação universal, nem na consideração de um objeto. Ou seja (e dito, aliás, de um modo mais explícito): Já não estamos nem “em”, nem “em presença de” o mundo. Sim (efetivamente), somos o Mundo e o Mundo embute-se em nós (à ele próprio). Isto (não que dizer absolutamente), que seríamos a subjetividade do Mundo, mas antes que é (ele), o “sujeito” do qual somos um efeito.
            Todavia (de anotar, antes de mais), que um tal “sujeito” não pode ser representado como uma “relação à si” sem abrir nele o desvio, a distância e a não-coincidência que implica toda conexão à si como ao outro (se é mesmo possível estabelecer esta diferença). Donde, enfim e, em suma: Somos (deste modo), nós próprios, a não coincidência do Mundo com ele próprio.

            Finalmente, vale a pena, sublinhar (com ênfase), que este desvio se apresenta na linguagem da nossa cultura., como o desvio entre a Física e a Metafísica. Porém (e não obstante), já não se deixa compreender como oposição entre “Ciência” e “subjetividade”. Ao contrário, estas distinções se desvanecem  e cada termo passa no outro: A matéria esquiva-se a sua mera atribuição na impenetrabilidade e  o espírito se esquiva à sua simples sublimação no impalpável. Este duplo movimento, esta evanescência dual possui um ponto de cruzamento.
                                    E, em jeito de Remate pertinente:
            É, neste ponto (poder-se-ia dizer, com efeito), que nos encontramos. Sim (efetivamente), neste ponto situado (em parte alguma), ou bem em inumeráveis lugares, em inumeráveis mundos!...

Lisboa, 01 Dezembro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).