“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Algumas ideias (quão pertinentes) sobre o Processo de redefinição dos conceitos de culturas nacionais homogéneas e de...
Não há dúvida nenhuma, que os Conceitos de:
---Culturas nacionais homogéneas
---De transmissão consensual ou contiguidade de tradições históricas
---(Ou ainda), de Comunidades étnicas “orgânicas”(como o próprio esteio do comparativismo cultural)
Atravessam (atualmente), um profundo Processo de redefinição. E explicitando (adequadamente) as ideias, temos que:
a) O hediondo (e levado ao extremo), nacionalismo sérvio demonstra que a própria ideia de uma identidade nacional pura (“etnicamente limpa”), só se pode atingir pela morte (na acepção literal ou figurada), do entrelaçamento complexo da História e das fronteiras (culturalmente), contingentes da nação moderna. De sublinhar (antes de mais), que este aspecto da psicose de fervor patriótico, leva a pensar (sobremaneira), visto que se trata de uma prova manifesta de um sentimento mais tradicional e de transição do hibridismo das comunidades imaginadas.
b) O teatro SRI-LANKA contemporâneo representa o conflito (mortalmente) entre tâmules e cingaleses, por referencias alegóricas à brutalidade do Estado na África do Sul e na América Latina
c) O cânone anglo-celta da literatura e do cinema australianos é (presentemente), reescrito (do ponto de vista), dos imperativos políticos e culturais aborígenes
d) Os romances de Richard RIVE, Bessie HEAD, Nadine GORDIMER, Jonh COETZEE são os depoimentos de uma Sociedade dividida pelos efeitos do Apartheid, que convidam a comunidade intelectual à meditar sobre os mundos desiguais, assimétricos, que existem algures.
e) Salman RUSHIDE escreve sob forma de fábula historiográfica da Índia e do Paquistão após independência em: As Crianças da meia-noite e a Vergonha (para melhor), nos recordar (trazendo à memória), nos Versículos satânicos que o olho (mais verídico), é (quiçá), doravante, o da dupla visão do migrante.
f) Enfim (e ainda), o romance de Toni MORRISON (BELOVED), faz reviver o passado da escravatura e os seus rituais mortíferos de possessão e de auto-possessão para projetar uma fábula contemporânea. Concretamente, narra a história de uma mulher, que é (simultaneamente), o relato da memória afectiva e história de uma esfera pública emergente de homens e de mulheres.
Uma vez posto isto, eis porque, o que se nos afigura impressionante (e de relevar), no âmbito do “novo” internacionalismo, é que o movimento (do específico ao geral, do material ao metafórico), não é uma tranquila passagem de transição e de transcendência. A “passagem do centro” da cultura contemporânea é, como a escravatura (ela mesma), um processo de deslocação e de disjunção que não totaliza a experiência. As culturas “nacionais” são (cada vez mais e mais), produzidas (do ponto de vista), das minorias excluídas. O efeito (mais significativo) deste processo não é a proliferação de “histórias alternativas de excluídos” que não produzia, como o têm pretendido (alguns), uma anarquia pluralista. Os exemplos apresentados mostram a transformação da própria base a qual se estabelecem as conexões internações.
De anotar (outrossim), que a moeda corrente do comparativismo crítico (leia-se outrossim, juízo estético), já não é a soberania da cultura nacional concebida como uma “comunidade imaginada”, enraizada no “tempo homogéneo e vazio” da modernidade e do progresso. As grandes narrativas associadas do capitalismo e da luta de classes constituem os motores da reprodução social (no entanto), elas não fornecem (nelas mesmas), um quadro fundador para estes modos de identificação cultural e de afecto político que se constituem (em torno de) questões como a sexualidade, a raça, o feminismo, o destino/fortuna dos migrantes, ou a mortal sina social do SIDA.
Vale a pena (relevar), que a mensagem que ressuma (em substância) dos exemplos, que temos vindo a apresentar, representa uma revisão radical do próprio conceito de comunidade Humana. Eis porque, se impõe interrogar e reconciliar, o que se pode ser este espaço geopolítico (enquanto realidade local ou transnacional).
Donde, de sublinhar (antes de mais), que o corpo político (já não), pode (e nem deve, aliás), enxergar a Saúde da Nação, como uma mera virtude cívica. Deste modo (ele) deve repensar a questão dos direitos para toda a comunidade nacional e internacional (do ponto de vista), do SIDA, em concreto e (em particular).
Demais (e por outro), a “metrópole ocidental” deve enfrentar a sua história pós-colonial, narrada pelo seu afluxo de migrantes e de refugiados de guerra, como um relato indígena interno no atinente à sua identidade nacional.
Donde e daí (efetivamente), no que lhe diz respeito, o pós-colonialismo, constitui uma revocação/restituição salutar das relações “neo coloniais”, que persistem (no seio) da “nova” ordem mundial e da divisão multinacional do trabalho. Uma tal perspectiva permite antecipar histórias de exploração e da evolução de estratégias de resistência.
Com efeito (et pour cause), todavia (o além), a crítica pós-colonial testemunham acerca destes países e destas comunidades (do Norte e do Sul, urbanos e rurais), constituídos (leia-se outrossim “: modernidade”). Estas culturas da contra-modernidade pós-colonial podem ser contingentes à modernidade, descontínuas ou em rivalidade com ela, resistentes às suas tecnologias opressoras (assimilacionistas). De anotar (entretanto), que (elas) ostentam (outrossim), o hibridismo cultural das suas condições limites para “traduzir e (disposto) a reinscrever o imaginário social da metrópole e da modernidade.
Donde (evidentemente), o trabalho da cultura exige um encontro com a “novidade” que não se inscreve no continuum do passado e do presente. Ele cria um sentido do movimento como acto (que insurge), de tradição cultural. Uma tal arte não se limita a recordar o passado como uma causa social ou um precedente histórico. Ele renova o passado e o reconfigura como um espaço “intersticial” contingente, que inova e interrompe a performance do presente. O “passado-presente” torna-se um aspecto da necessidade e não da nostalgia de viver.
Enfim e, em suma:
De facto, é o desejo de reconhecimento “para algures e para outra coisa”, que impele a experiência da história para além da hipótese instrumental. Uma vez (ainda mais), é o espaço de intervenção (que emerge), nos interstícios culturais que introduz a invenção criadora à existência. E, uma última vez, há um retorno à performance de identidade como iteração (recriação do Si no mundo da viagem), reinstalação da comunidade limite d MIGRAÇÃO. Tudo isto nos transporta (avisadamente) ao desejo de FANON de reconhecimento de presença cultural como “atividade negativa” que ressona com a ruptura da barreira-tempo de um “presente” (culturalmente) colusório.
Lisboa, 13 Outubro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista ---Cidadão do Mundo).