quarta-feira, 14 de setembro de 2011

II) Alors Que faire?

Prática de Actuação Segunda:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

                        Na verdade (quiçá) vivemos o tempo da “democracia”…

(1)     Vivemos o tempo da decadência da democracia, implicada pelo devir consumista das sociedades industriais. O advento da “defesa do consumidor” inscreve-se neste processo de transformação das sociedades que MARX denominou de capitalismo. Este (transformado em) capitalismo cultural no decurso do século XX (pretérito), manifesta-se (doravante), como tendência à liquidação do político (propriamente falando), isto é (em primeiro lugar) do Poder Público como Estado, mas (mais geralmente), como tendência à liquidação do que constitui o processo de individuação psíquica e colectiva, onde se formam e se permutam singularidades.
(2)     De sublinhar (antes de mais), que o referido processo: constitui (ele mesmo), a experiência da sua própria singularidade. Ou seja: melhor dito (outrossim da sua) incalculabilidade (ou ainda), da persistência do seu futuro num mero devir. Ora (transformado cultural), concomitantemente que hiper-industrial, o capitalismo é (identicamente), neste momento (integralmente computacional) e tende (nisto) a eliminar as singularidades que resistem à calculabilidade de todos os valores no âmbito do mercado das trocas económicas.
(3)      Esta tendência para a liquidação do político e da individuação (em que consiste), é necessário combatê-la sem (por essa razão) tentar manter uma ideia caduca do político, o que constitui o discurso da “resistência”. Demais (et pour cause), uma tal manutenção só pode (além disso) ser um artifício. De facto, é preciso lutar contra esta tendência (inventando), em vez de resistir. Eis porque, a resistência só pode ser reactiva e (como tal), ela pertence ao niilismo.

(4)     A “política” (se necessário for conservar esta designação) o que (aliás, não é algo garantido), deve ser (resolutamente) e ao mesmo tempo, assumido por um idêntico movimento, no entanto (distintamente), da invenção de uma política científica e tecnológica (obviamente e outrossim) de uma política industrial e de uma política da cultura. De sublinhar, todavia, que o sentido deste último vocábulo (“cultura”), deve ser (inteiramente), revisitado. Trata-se de uma tarefa nova e anterior à toda outra. É (unicamente), através de uma medida deste teor, que a política pode e deve conduzir (com êxito) à elaboração de um novo modelo de organização industrial das sociedades humanas.
(5)     Combater uma tal tendência (num processo) só é possível a pensar (em primeiro lugar), este processo coma a articulação de uma dupla tendência (que constitui), a sua peculiar dinâmica interna. Dito (de outro modo), o processo é uma conjunção de tendências tais que uma é indispensável à manutenção da outra. Esta organização dinâmica constituída por uma dupla tendência (em conjunção), de duas tendências (que a compõe em substância), é uma estrutura inscrita no cerne da individuação (como o que lhe confere o seu próprio movimento), isto é (deste modo), visto que isto o move (constituindo o seu peculiar motivo), um motivo que é (por conseguinte) sempre (duplo) e (neste sentido), dúplice (leia-se, outrossim, ambíguo9.
(6)     Com efeito, o processo de individuação é (sempre) e já (concomitantemente), o que tende a se unificar, a tornar-se um (ou seja), indivisível. No fundo (no fundo) é o que significa (literalmente), o vocábulo in-dividuo e que é: “jamais acabou”, porém, permanece (sempre) a vir (no futuro). Donde e daí: O indivíduo (individualizando-se) está vivo (é outrossim) verdadeiro, no âmbito das Civilizações (que não são mortais”), donde, nesta medida (quando o indivíduo finou é porque está morto), visto que (a falta de acabamento) constitui nisso um traço irredutível do indivíduo acção (enquanto processo) e que como (devir outro do um) é (identicamente), o devir múltiplo deste um.
(7)      Em suma: O indivíduo jamais consegue individualizar-se. Donde, se impõe raciocinar (em termos de) processo e não de êxtase ou de estado. A contradição originária da individuação, a tensão que a constitui como o seu motivo duplo (que encara a individuação) como um equilíbrio meta estável, ou seja, como um processo (que está em movimento), na medida em que (simultaneamente) é (quase estável), próximo do equilíbrio (e mantém a sua forma) como um turbilhão se mantém numa corrente constante (cessando completamente de se transfigurar e se evolucionar), onde (ela) é quase instável sendo (precisamente) neste aspecto (que esta forma não cessa de se tornar outra, que (ela) não é (efectivamente).
(8)     De feito (e para asseverá-lo de outro modo): Uma tendência é jamais má em si, visto que (ela) é a condição da tendência à qual (ela) parece se opor, enquanto (ela) não cessa (na realidade) se compor com ela. De facto, as tendências formam (neste sentido), uma relação translúcida, uma relação que constitui os seus termos, em que um termo não existe sem o outro. Em contrapartida, pode haver arrebatamento de tendências que (se tornando), hegemónicas, tendem a eliminar a tendência contrária (e de uma pancada) a destruir a conexão em que (elas) se constituem e (com isso) em se destruir (outrossim), elas próprias.
(9)     Demais, a racionalização descrita pelo economista e sociólogo alemão, MAX WEBER (1864-1920) e a separação do capital e do trabalho descrita por KARL MARX, o capitalismo exprime uma tendência no âmbito da exteriorização maquinista do que caracteriza as singularidades que compõem o processo de individuação. Donde, enquanto tal (ele) constitui a época maquinista. Todavia, esta tendência (como exteriorização maquinista) produz uma estandardização e uma formalização que submete tudo quanto (ela) formaliza à calculabilidade, prosseguindo (deste modo) a racionalização na acepção Weberiana e (ela) tende (com isso mesmo) em sincronizar as diacronias em que estas singularidades consistem. Esta sincronização, enquanto tal é maquinista e calculada, tal como ela faz do tempo das consciências uma mercadoria. No entanto, é uma híper-sincronização e o capitalismo (deste modo) constitui (aparentemente) o que se opõe às singularidades.
(10)  E contudo (além do facto de) toda diacronia se constituir (sempre), sobre um fundo de sincronia, as singularidades podem e devem voltar à cena num novo plano através deste estádio capitalista e híper-industrial da exteriorização (por falta de quê) é o processo capitalista (ele próprio) que se esmoronará, o que não é desejável. Isto seria (de sublinhar com ênfase), prematuro, pois que a conclusão da individuação do capitalismo não está (suficientemente) adiantada. Donde (por conseguinte), o próprio capitalismo não se encontra maduro para dar lugar à uma nova organização. Deste modo (evidentemente) resultaria daí (imediatamente) inumeráveis guerras e (outrossim), um imenso caos e (até mesmo), o desaparecimento da espécie humana. De sublinhar que isto não significa (por essa razão) que o capitalismo seja uma forma eterna de Organização Humana. Tal forma não existe!
(11)  De feito (sem dúvida nenhuma), a História da Humanidade é um processo de individuação, que não cessa de inventar formas novas de Organização e é por isso mesmo que não se sabe (ainda bem), conceber (a despeito de dois séculos de Pensamento Evolucionista) , quão necessário (doravante), nos é reaprender a pensar. Ou seja (melhor dito), decidir (segura e adequadamente).
(12)  E, em jeito de Remate, temos (então) que:
a.     A Gramaticalização (leia-se outorga à um elemento nocional a função de elemento gramatical) que esteve na origem da invenção da figura do cidadão constitui desde esta época uma expropriação das singularidades pela exteriorização das suas características e que desembocou na liquidação das tribos (sendo estas substituídas pelos demos, na acepção de conjunto de indivíduos vivendo colectivamente) e (outrossim) na transferência dos pontos de singularidades (mais intensas) do nível tribal, representado pelos seus chefes (no âmbito do indivíduo político isónomo. Ou seja: Tal que cada indivíduo constituía (em direito), uma singularidade cuja Polis e (como processo), a expressão (sem interrupção) renovada deste direito e (identicamente), o teatro da sua individuação.
b.    Donde e daí (para tanto) o devir social (deste modo) induzido pela gramaticalização e como advento da Polis. Ou seja: O processo de individuação ocidental constituía já no seu tempo, o objecto de um combate, que exprimiu a luta entre sofística e filosofia e esse (por seu turno), em torno do estatuto da mnemotécnica de estão (e que se denominou outrossim de orto grafia), que Platão designou de hipomnese e logografia (à qual), ele julgou dever opor o que (ele), denominou (por sua vez) a anamnese. Donde, a parada foi (por conseguinte), desde o momento do nascimento do Ocidente, de saber qual interpretação se afigurava necessário outorgar a gramaticalização em curso.
c.     Enfim e, em suma: De feito (presentemente), esta questão permanece intacta. E, eis porque, a análise do bloqueio metafísico que constitui a Filosofia platónica sobre este ponto (em particular) é o que requer como exórdio à crítica do capitalismo.
Lisboa, 14 Setembro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).