Peça Ensaística Quarta:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
(I):
Na verdade:
O compromisso estabelecido (nos anos do após guerra), em torno do Tema da escalada das “classes médias” e dos “quadros”, que tinha constituído uma escapatória aceitável às inquietações da pequena burguesia, se vê posta em perigo pelas profundas mudanças operadas na dinâmica evolutiva do modelo de Sociedade vigente.
De feito, “pequenos patrões e independentes empobrecidos” (até arruinados), pela crise de 1929 ou ocupantes de empregos intermediários nas empresas (ameaçados pelo desemprego), os membros de categorias sociais médias, amedrontados (além disso) pela escalada do “comunismo” cujas greves de 1930 tinham tornado a ameaça tangível, tinham sido numerosos, na segunda metade da década dos anos 1930, a ver no fascismo, o único baluarte contra os excessos do Liberalismo.
Por seu turno, o desenvolvimento do papel do Estado no término da Segunda Guerra Mundial e o advento das grandes empresas, ofereceram uma nova possibilidade de viver (“burguesmente”) e compatível com o assalariamento crescente da Economia.
(II)
Sabe-se (com efeito), que, até meados do entremeio das guerras (aproximadamente), o ordenado/vencimento constitui (escassamente), o recurso único ou mesmo o recurso principal dos membros da burguesia, que beneficiavam (outrossim), de relevantes rendimentos patrimoniais e que o dinheiro que recebiam (na qualidade) da sua pertença à uma organização privada e (por isso mesmo), não eram considerados como um “salário”. Aliás, os termos de “salário” e de “assalariados”, estavam (praticamente), apenas reservados aos operários.
De feito, estes patrimónios, compostos por bens imobiliários (sobretudo) e (outrossim e ainda), por uma fracção crescente (durante o período, que decorre entre as duas Grandes Guerras), de valores imobiliários (rendas, obrigações), a pouco e pouco, são laminados (em primeiro lugar), pela desvalorização da moeda, nos anos 1920, depois pela crise dos anos de 1930.
Os engenheiros e (com eles), fracções (cada vez mais e mais), extensas da burguesia, entram (então); na esfera do assalariamento (o que), corresponde (antes de mais), para eles a uma baixa importante de nível de vida, período que vai até à implantação (nos anos do após Guerra), de uma nova ordenação dos recursos económicos, que acarreta um novo estilo de vida para as profissões superiores, apoiadas em novos dispositivos de segurança (não mais), patrimoniais, porém sociais. Ou seja: reforma dos quadros, importância crescente dos diplomas na determinação dos salários e das carreiras, incremento singular das carreiras, no decurso da vida e da existência (que facilita o acesso ao crédito), sistemas de Segurança Social reforçados por mutualidades, estabilidade dos rendimentos salariais pela institucionalização de procedimentos de revisão dos salários (em função) da evolução passada dos preços ao consumo, quase garantia do emprego em grandes organizações (que asseguram) aos seus quadros “planos de carreira”, ofertando serviços sociais (cantinas, cooperativas de compra, colónias de férias. clubes desportivos). Deste modo, despontou uma nova possibilidade de viver (“burguesmente”), desta vez, no interior do assalariamento.
(III)
Sem beneficiar (em idêntico grau de mecanismo) que tinha sido (contudo) inspirado pela preocupação de favorecer o seu acesso ao consumo e melhor os integrar no Ciclo económico e como os desviar do “comunismo”, desta forma, as classes populares viam (no mesmo tempo), o seu poder de compra e (outrossim), sobretudo à partir da década de 1960, as oportunidades para os seus filhos serem escolarizados no Ensino Secundário, aumentar, de modo regular.
(IV)
De anotar (antes de mais), que os elementos fundamentais deste compromisso (à saber: o diploma, a carreira e a reforma), foram desacreditados, no decurso dos vinte últimos anos. Os efeitos destas mudanças foram lamentáveis (por certo), no entanto não modificaram (realmente) a certeza das elites dirigentes que constituíam o resultado de uma imperiosa necessidade, enquanto atingissem (apenas), os membros (mais débeis), das classes populares (mulheres, imigrantes, deficientes ou jovens sem diploma: os “deixados por conta do progresso”), na década dos anos 1970; os indivíduos incapazes de “se adaptar” ao endurecimento da concorrência internacional, na década dos anos oitenta do século XX. Em contrapartida, foram reputadas (como francamente alarmantes), quando, na década dos 1990, a própria burguesia se encontra atingida.
(V)
O incremento do desemprego dos diplomados e dos quadros se tornou patente, conquanto sem que nenhuma medida fosse tomada em conta, em relação ao caso (concreto) dos menos privilegiados. Demais, se as empresas continuam a oferecer perspectivas de carreira aos seus elementos apreciados (como os mais talentosos), elas preservam (doravante), a ideia de os garantir uma situação de longa duração. O desemprego e as reformas antecipadas dos mais de 55 anos (que é um dos aspectos marcantes do desemprego “à la française”), atestam essa situação.
As garantias oferecidas pelos diplomas, que contudo, constituem (sempre), uma boa segurança contra o desemprego, foram (identicamente), incriminadas ante a verificação (que à diploma igual), os jovens acedem (a maior parte das vezes) a posições inferiores às dos seus mais velhos (na mesma idade) e se encontrando (este), frequentemente, no término de uma sequência de empregos precários que marca (doravante), a entrada na vida activa das novas gerações: Aos receios para a não consecução de emprego, vieram se ajuntar, inquietações (que dizem respeito), ao nível das reformas, que serão pagas.
Continua…
Lisboa, 13 Julho 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).