terça-feira, 19 de abril de 2011

O NOSSO QUERIDO PREGO

A vida moderna não se compadece com perdas de tempo pelo que começo e termino já esta história.
Na minha infância tínhamos lá em casa um prego que não era bom da cabeça. Umas vezes estava muito bem no seu lugar no soalho, outras vezes saía um pouco obrigando-nos a tropeçar nele, e outras ainda saía mesmo de todo e íamos encontrá-lo no quintal a apanhar sol, por exemplo.

Certo dia desapareceu de casa originando que minha mãe desse o alerta e oferecesse uma compensação a quem desse alvíssaras do nosso estouvado mas querido prego (fora herdado de um meu bisavô paterno, muito viajado, que o obtivera num leilão na Índia).

Foi então que muitas horas passadas, aí pelo lusco-fusco da tarde, apareceu lá em casa um grupo de pescadores que em grande algazarra nos trazia o famoso prego dizendo um deles a minha mãe: «Encontrámo-lo no mar, D. Natércia! No mar... a nadar tranquilamente numa zona infestada de tubarões!... E imagine a senhora o perigo que este prego corria!... Aquilo era um cardume de Tubarões Martelo!...»

E acabou a história. [Estou tão senil como o nosso querido amigo Galopim].

Sei que esta história não tem piada nenhuma; mas trouxe-a aqui por uma questão didáctica: dizer aos mais jovens que já houve tempo em que as casas tinham um chão a sério: não o chão de hoje coberto de porcarias como o soalho flutuante e outras tretas fixadas com cola para enganar papalvos ― as casas antigas tinham e têm um chão de madeira verdadeira fixada com pregos enormes! Com pregos com cabeças pensantes ― o que é que julgam!?

O nosso velho prego ainda hoje lá está. E vou vê-lo dentro de poucos dias. Estou em pulgas!...