Acho que tem passado um pouco despercebido que neste “fenómeno” da auto intitulada “Geração à Rasca” se misturam dois grupos de jovens (sei que ao dizer isto pareço maniqueísta; mas é apenas para simplificar as coisas e ater àquilo que é mais importante): por um lado os jovens provenientes e pertencentes às classes mais desfavorecidas, jovens com pouca preparação escolar e profissional, à procura de trabalho e sobrevivência para si e para suas famílias; por outro lado os jovens mais bem preparados escolar e profissionalmente, muitos deles licenciados, muitos deles bacharelados pelas “licenciaturas bolonhesas” (o embrião de uma futura classe média), também à procura de emprego e de uma saída profissional e social com benefício maioritariamente para eles próprios e já não para toda a família.
Ao que parece a iniciativa da manifestação do próximo dia 12 terá partido deste segundo grupo de jovens; mas acontece (como sempre aconteceu no passado) que os jovens do grupo dos mais desfavorecidos ganharam peso na organização da manifestação e transmitiram um carácter “perigoso” ao fenómeno pois o seu enquadramento natural na esquerda político-partidária não augura nada de apenas folclórico (o tal «é carnaval, ninguém leva a mal») à contestação que se inicia no próximo sábado.
Os partidos à direita do espectro político português (PSD e CDS) estão na expectativa e temem que se forme o embrião de uma “revolução” esquerdista a partir deste movimento de início amalgamado; os partidos à esquerda também estão na expectativa; mas de saberem com que linhas e com que força os jovens aparecerão, pois, o “controlo” do movimento é uma tentação forte, quase irresistível.
O Presidente da República, por sua vez, após ter apresentado a guia de marcha do governo, precisa de “uma razão” para a assinar e mandar embora essa trupe sócretina; e na impossibilidade de negociar essa “razão” com o PSD (cuja direcção não lhe é fiel) na forma de uma moção de censura no Parlamento, arrisca “surfar” a onda “à Rasca” pois pode sair-lhe a lotaria com que sonha.