sexta-feira, 11 de março de 2011

Epístola Vigésima Quarta:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

A Hora do Continente Africano
(O Continente Berço da Humanidade):


                        NP:
                        O século XXI será o da África. Eis uma asserção que (na verdade), se impõe (mais que nunca), estudar adequadamente.
            De facto, julgava-se a África: vazia, rural, animista, pobre, olvidada do Mundo.
            Todavia, cinco décadas após as Independências, eis que (ela) se apresenta (a rebentar pelas costuras), urbana, monoteísta. Se miséria e a violência aí causam (ainda) estragos, no entanto, o crescimento económico recuperou sobremaneira. As classes médias se desenvolvem. (Ela) se encontra (doravante), no centro de novos egrégios desafios Mundiais.
            Enfim e, em suma: (Ela) estava “mal partie”. Eis de retorno: à grande velocidade!

                        De feito (sem sombra de dúvidas), a Europa gorou a mudança de direcção de um Continente, que já não a espera (antes pelo contrário).     
                        Estamos (efectivamente) ante uma “nova África” (dentro de pouco tempo), multimilionária (a meio caminho) do processo de povoamento (o mais fulgurante), que tenha conhecido a Humanidade. Donde e daí, que sem passar (sob silêncio), os riscos da sua metamorfose, faz sobressair as forças e as esperanças, que (ela) encerra.

(I)
            Um facto é certo. Ou seja:
            Inúmeras obras tratam da África (a da História europeia). Donde, as de leitura (obviamente europeias) estão (presentemente) ultrapassadas, pois que não conduzem à uma descodificação (consequente) dos Eventos que abalam o sub continente e o transforma (à olhos vistos). Dois sub Sarianos sobre três têm menos de 25 anos.
            Ao contrário das sociedades europeias (adormecidas), o dinamismo demográfico Africano assume uma cadência desenfreada às mutações do sub continente.

(II)
            A África muda (por conseguinte), precipitadamente de escala e de cabo. Eis porque, tendo em conta, a velocidade e a amplidão da metamorfose em curso, deve-se esquadrinhar a estrada, vários quilómetros para frente. Na verdade, a decalage é impressionante entre o olhar que se assesta sobre a África (quedada como entorpecida), no século último e nas suas realidades coevas.


(III)
            No Contingente dos invisuais, o pelotão europeu figura, na primeira fila. Ao longo dos debates públicos, o espaço ao Sul do Sara é apresentado como uma terra maldita, marginalizada, afastada (à distância) da mundialização. A África é percebida como um objecto de compaixão, que se denomina (o melhor possível), a caridade. Ou (o pior possível), a presa. Os seus habitantes estão prometidos um futuro funesto cuja solidariedade internacional (tal uma perfusão de anti-álgicos), deveria atenuar os sofrimentos ou reduzir as convulsões. A caridade foi (amplamente) subcontratada a organizações humanitárias e filantrópicas. Por seu turno, a presa confiada às ONG (S) e aos próprios Estados Africanos.

(IV)
            Este olhar (que se pretende), caridoso ou “lúcido” não existe (obviamente), sem conexão com as realidades de uma África (que emerge), dolorosamente de vários decénios de crises. Todavia, (ele) ignora as subversões a operar no Continente. Sem surpresa, são os actores (os mais jovens”) da Sociedade Mundial (Chineses, Indianos, Brasileiros), que agravam as oportunidades desta aventura inaudita.

(V)
            A época não se encontra (contudo), tão longínqua, em que os europeus tiveram a impressão de “conhecer” a África e, em que os países europeus detectavam aí “interesses”. Desde o término da guerra-fria, a Europa se desviou, entretanto, visto que mergulhada numa história pesada e ofuscante, o seu grande vizinho do Sul caiu abaixo do esteio das suas políticas públicas. Neste início do século XXI, enquanto actores emergentes das relações internacionais se interessam para as evoluções da África e às suas conexões com Continente, a Europa parece se abdicar, deixando de ter pensamento público reflectido, coerente, prospectivo em relação à África.

                        Donde e daí (por isso e não só), é o momento asado de reconhecer a África. Vejamos então (de modo), avisado o seguinte:
                        O juízo de valor a ter em relação a África hodierna deve-se assentar num pensamento que parte da rejeição dessa ideia de se deixar enredar na armadilha escudada pelas evidências do passado. Deve assentar, ipso facto, na observação das mudanças que se desenrolam ante os nossos olhos. E deve se fixar (enfim), em alguns pontos de referência que temos no futuro.
                        Sabemos (doravante), que a população do sub continente duplicará no espaço dentro (unicamente), de alguns decénios. Sabemos (outrossim), que (ela) será (maioritariamente) urbana. Ora, o modo como os Africanos viverão, se movimentarão, se definirão e interagirão com o seu Ambiente, determinará a trajectória das suas sociedades, mas (identicamente) das demais outras sociedades.

                        Não se trata (neste caso) de predizer se a África de amanhã irá “bem” ou irá “mal”, nem de determinar que convirá, então louvar ou censurar. O que é relevante (sublinhar) é o momento asado para pensar as consequências destas mutações de intensidade sísmica sobre a África, os seus vizinhos e sobre o Mundo. O que se percebe, interrogando o presente e o futuro, é a re-emergência estratégica da África, nos riscos como nas oportunidades que aí se encontram vinculados.

Lisboa, 10 Março 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).