quinta-feira, 24 de março de 2011

Epístola Vigésima Sétima:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

                        NP:
                                    Na verdade (et pour cause), a África abre neste início de século, um novo Capítulo, no âmbito da sua História. Como em toda mudança de época, a página se encontra em branco (quiçá virgem!), pois que a parte do romance permanece (ainda), para escrever.
                                    Com efeito, o rio tumultuoso da história africana deixa um lugar à sabedoria das escolhas humanas.

                                    Na sua história africana, a Europa ganha uma intimidade com a África. Ora, se a Europa do fim do século XX soube reconhecer o ensejo de investir (a seu Leste), ela se esforça em realizar que o espaço de (aproximadamente) de dois mil milhões de habitantes (em vias e em curso de estruturação), a (seu Sul), no horizonte 2050 constitui uma aposta fundamental de competitividade e de influência, num século XXI, que se anuncia multi-polar.
                                    Economia, Clima, Saúde Internacional, Antagonismos, Energia, Migrações constituem (com efeito), o elenco dos ingredientes (reunidos), para uma parceria virada para o Futuro e os assuntos de interesse comum…Todavia, a Europa (decadente), envida (em pôr em causa), os esquemas do passado, sem realizar, que as Nações Africanas avançam (à toda velocidade) e não a esperarão (obviamente).

(I)
                                    Vendo bem (com olhos de ver), não há dúvida nenhuma, que alguns actores da cena Internacional nada perderam com esta mudança. O lugar do Continente reavaliado nas suas políticas estrangeiras e comerciais se apressam em construir vínculos com as Nações Africanas. A despeito das imperícias dos primeiros amores, seduzem a África, falando-lhe do seu futuro, de interesses mútuos, do caminho a percorrer (em conjunto).
                                    De anotar (antes de mais), que as relações que estabelecem com (ela) interpelam os interlocutores tradicionais do Continente. Dois anos após a realização em Pequim da Terceira Cimeira Sino Africana, a Índia organizava a sua Primeira Cimeira, a Coreia a sua Segunda e o Japão o seu Quarto Fórum de Cooperação com a África.
                                    Donde (de sublinhar), que a multiplicação das “parcerias estratégicas”demonstra a atracão nova que (ela) exerce. Se não constitui nenhuma dúvida, que a África entrou no Mundo, todavia, a crónica diplomática dos anos 2000 mostra que o Mundo (por seu turno) penetra em África.


(II)
                                    A “irrupção chinesa” no Continente Africano fez correr muita tinta (de um e de outro lado) do Atlântico. Eis porque se impõe asseverar que a Terceira Cimeira do Fórum de Cooperação Sino Africana (A Missa Cantada) da China África, que teve lugar, no Outono 2006, conseguiu reunir os representantes de Quarenta e oito Estados, em Pequim, revelando uma evolução (assaz) profunda das relações Internacionais.

(III)
                                    A relação entre China e África nada tem (evidentemente) de novo. Os chineses gostam recordar aos seus interlocutores europeus, que as suas primeiras relações com o Continente precederam as explorações portuguesas.
                                    Com efeito, uma expedição marítima do Império MING, conduzida pelo marinheiro chinês ZHENG HE, tinha percorrido as costas africanas no século XV e pisado a ponta da África alguns decénios antes que Bartolomeu Dias “descobre” o Cabo de Boa Esperança.

(IV)
                                    Todavia (de sublinhar, aliás), o que impressiona, no âmbito das relações entre Pequim e as capitais africanas é (sobretudo) a sua notável continuidade. A China e alguns Países independentes da África compartilham os assentos da Conferência de BANDUNG (Cidade Indonésia da Ilha de Java), em 1955, antes que cada uma das vagas de independência africana não engrosse as fileiras de um “Terceiro Mundo” (amplamente) Afro-asiática. Desde este momento, milhares de engenheiros agrónomos chineses e de “médicos descalços” auxiliam as jovens nações africanas (recentemente) libertas do jugo colonial. E, para preservar o seu grupo frente a potências ocidentais e à vizinha Rússia, a China (então) ajudava países mais ricos que (ela própria), em termos do PIB por habitante!

(V)
                                    Eis porque (se pode afirmar), que o “Safari” africano de ZHOU ENLAR, em Dezembro 1963 e Janeiro 1964 selou esta nova parceria. E foi (nesta ocasião), que o Primeiro-Ministro de MAO anunciou, num discurso proferido no Gana: Os oitos Princípios fundadores da Cooperação chinesa com as Nações Africanas.
                                    Entre esses figuravam: a Igualdade entre parceiros, a continuação de benefícios mútuos e o respeito da soberania nacional. Três Princípios: que continuam a marcar a retórica das relações Sino Africanas (presentemente).
                                    Cada um de entre (eles), simboliza a ruptura com as relações unilaterais, que (durante muito tempo) mantiveram as Nações Africanas com os seus parceiros ocidentais.
                                    Interessante consignar, que, no âmbito das permutas com a África, a China (com efeito) não se preocupa com o “fardo do homem branco”, pois que País em desenvolvimento (ela) se apresenta como alter-ego. Vem a África para fazer negócios, sob o signo do “vencedor/vencedor”. Esta postura (simultaneamente), humilde e (eminentemente), pragmática leva muitos Africanos a julgar a Cooperação chinesa menos hipócrita que a assistência económica ocidental (pretensamente) desinteressada.
                                    A ausência de condicionalismo político da ajuda chinesa ao desenvolvimento, que contrasta com as exigências de “democracia” e de “boa governação”provenientes dos Estados europeus e norte-americano, permanece (ela outrossim), uma das “marcas de fabrico” da oferta chinesa. Ela se encontra no cerne do que se baptizou de (o) “consenso de Pequim”, em oposição ao “consenso de Washington” e a sua panóplia de condicionalismos (frequentemente) percebidas como doutrinários.

                                    Enfim, a continuação se encontra (identicamente), na eficácia da ajuda chinesa, celebrada com numerosos dirigentes Africanos.
                                    De anotar (todavia), que se algo evolui, no âmbito da relação China África, é a sua brusca mudança de escala. O seu investimento massivo e multiforme contrasta (de modo impressionante), com o descomprometimento das antigas potências coloniais. A penetração da China em África desde o início do século é notável, tendo em conta, a robusta assunção da descolagem da ajuda, dos fluxos comerciais ou da imigração chinesa.

Lisboa, 23 Março 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).