quarta-feira, 30 de março de 2011

Epístola Vigésima Oitava:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

CONTINUAÇÂO da Epístola anterior:

(I)
            O “Plano de acção de Pequim” previa uma duplicação da ajuda da China aos Países Africanos entre 2006 e 2009. É, no âmbito deste quadro, que Pequim anunciou em 2007 um pacote de 8 mil milhões de dólares de ajuda à República Democrática do Congo (RDC) para as suas infra-estruturas, ou seja, o equivalente ao Produto interno do País!
            A Assistência financeira acordada pela China (suspensa), num estilo delicado e envolto por um véu burocrático, se afigura (notoriamente) difícil de avaliar e medir. Não vai mais longe (nada mais nada menos), que Pequim poderia bem se tornar (daqui a pouco), o primeiro investidor da África, enquanto os países do G8 não conseguiram honrar a sua promessa solene de duplicar a sua ajuda ao desenvolvimento entre 2005 e 2010.

(II)
            O crescimento desta ajuda económica se acompanha desde a viragem do século de um impulso das permutas comerciais entre a China e a África (uma verdadeira demonstração), pela prova da teoria dos interesses mútuos.
            A secularização do acesso ao petróleo Africano representa uma aposta estratégica acerca de importações petrolíferas (que irá) crescendo, no decurso dos próximos decénios. O País importa (doravante), mais bruto proveniente de Angola que da Arábia Saudita. No entanto, a relação entre Pequim e o sub continente não se resume ao petróleo.
            De feito (sem dúvida), a China se encontra (com efeito), num estádio do seu desenvolvimento em que (ela) pode propor aos Africanos os dois sentidos da permuta. Pequim assegura os seus aprovisionamentos estratégicos em matérias-primas, enquanto as economias africanas ganham uma fonte de rendimentos indexada ao impressionante crescimento chinês. Porém (outrossim), graças à importação de mercadorias (por muito pouco), um bilhete de ingresso, no consumo de massa.


(III)
            O exército de comerciantes chineses sabe aproveitar (com brio) desta janela de oportunidade histórica. Opostamente, à uma ideia propalada, se implantaram, investindo nichos (frequentemente) abandonados pelos seus equivalentes europeus. Muito presentes nos sectores da construção, das explorações mineiras, petrolíferas, silvícolas e mais (recentemente), agrícolas, através de um milhar de empresas chinesas instaladas no sub continente e que conta (entre elas), alguns dos maiores grupos mundiais. De anotar, que (elas) exigem margens (muito menos importantes) que os seus equivalentes europeus e dispõem de uma mão-de-obra imigrante (que trabalham) a remunerações e condições de trabalho chineses, deste as empresas de construção fazem baixar (consideravelmente), o custo das infra-estruturas. E, com o perigo de alimentar uma queixa legítima dos jovens africanos, aproveita pouco a mão-de-obra local, tendo em conta este ardor de construir.

(IV)
            Para a China, este continente é um eldorado (um Far Wet), abandonado, no centro da tormenta, por empresas europeias fartas da África.
            Com efeito, com todas as gradações que impõem as ambiguidades de uma presença (ainda recente), estas grandes firmas chinesas, como se fosse a maré das lojas individuais que florescem nas capitais africanas (donos de restaurantes, pequenos comerciantes), mostram (bem), que a África “terra de oportunidades”, nada possui de um delírio fantasmagórico, de um doce sonho de “Afro optimistas”. O comércio sino africano roçava os 100 milhares de dólares em 2008, seja o dobro das permutas franco africanas (por exemplo).

(V)
            Primeiro fornecedor do Continente à frente da França e da Alemanha, a China representava (), no fim dos anos 2000, o segundo destino (leia-se, outrossim, mercado) para as exportações Africanas à seguir aos Estados Unidos da América do norte. A criação de zonas económicas especiais” (as ZES), nas costas africanas, semelhantes às ZES, que floresceram na Ásia do Sudeste, aquando da descolagem dos “Tigres asiáticos”, deveria confortar estas tendências.
            Nota: Os ZES são zonas industriais que beneficiam de vantagens fiscais. Originariamente, foi DENG XIAOPING que tivera a iniciativa, no início dos anos de 1980.
            A primeira ZES foi estabelecida, na Tanzânia e inaugurada (com grande pompa), pelo Presidente HU JINTAO em 2007. Estas novas relações comerciais permitem a África se avir ao novo motor do crescimento Mundial. Incremento das exportações, baixa dos preços ao consumo, novos capitais (que afluem), no sector dos Serviços, como os ateliers emergentes constituem: Um novo motor de crescimento, que (brilhantemente) se alumiou no horizonte.

(VI)
            Todavia, por muito dinâmicas e estruturantes que pareça, estas permutas comerciais não constituem o todo da relação entre a China e a África. O investimento de Pequim, no Continente se inscreve numa estratégia de longa duração. Prova (disso) são os novos “Institutos Confúcios”, estes Centros culturais chineses que floresceram no Quénia, no Zimbabwe, no Ruanda e nas Ilhas Maurícias, no decurso da década de 2000. Os estudantes africanos podem aí aprender o chinês (gratuitamente). Os melhores (de entre eles) são escolhidos para concessão de bolsas para estudar nas Universidades de Pequim, Shangai ou Guangxi.

(VII)
            Eis como, em poucos anos, a China (deste modo), se tornou um dos primeiros destinos para os estudantes Africanos. Em 2007, o país registava 21 000 entradas de estudantes Africanos (que beneficiam) de uma bolsa do governo chinês. Durante os cinco anos precedentes, o número de Africanos (que demandam) a China para estudar, teria aumentado de 20% por ano. Mais que uma estratégia mercantil, a China conduz (por conseguinte), uma verdadeira política educativa e cultural, tendo como destinatário a África.
            Enfim (de sublinhar), que Pequim encoraja (identicamente), o movimento dos homens entre os dois Continentes. Se o número de chineses estabelecidos em África descolou, desde a viragem do século, para atingir 750 000 pessoas em 2009 (em contrapartida), o número de Africanos, na China multiplicou por seis, em dez anos, tendo as autoridades chinesas recenseado 230 000 em 2006.

Lisboa, 29 Março 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).