terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Epístola Décima Nona:

Uma Leitura das perspectivas e prospectivas geopolíticas da África:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                        NP:

            A África tornou-se um actor geopolítico emergente, no âmbito das relações internacionais. Concretamente, à escala do Continente Africano se nos depara como matéria de análise e estudo, uma diversidade de actores (que, neste ponto se relacionam), os seus campos económicos, sociopolíticos e culturas.
            Tudo isto nos conduz (ipso facto) aos actuais relevantes desafios, designadamente:
            Paz e Segurança;
            Reptos/desafios alimentares;
            Desenvolvimento sustentável.

(I)
            A expressão Geopolítica (está na moda), após ter sido desvalorizado, corolário dos seus vínculos com o Imperialismo germânico. A Geopolítica (stricto sensu) é o estudo da influência dos factores geográficos sobre a Política. Pode, no entanto, de modo (mais lato) ser definida, como o estudo das forças (que operam), no campo político. Faz parte das relações internacionais. E, de um modo, mais explícito. Ou seja.
            Relações entre nações, entidades colectivas distintas, que se reconhecem (reciprocamente), o direito à existência.
            Relações, que dizem respeito a, uma pluralidade de actores não estatais, designadamente:
            Colectividades territoriais, firmas multinacionais, Organismos de solidariedade internacional (OSI), Igrejas, Migrantes, Diásporas (em interacção), num Espaço transnacional.

            E, finalmente, no atinente às relações assimétricas entre a África e as grandes potências, o hard power (que se exprime, historicamente), pela coerção e pela força (designadamente), militar tende à se combinar com um soft power, que persuade pela negociação, a propaganda, as ideias, as instituições e a sedução pelos valores e pela cultura.


(II)
            Antes de mais, se impõe perguntar se, na realidade, existe uma especificidade de uma Geopolítica da África? O que se pode, asseverar é que a África é o alesiano das obras de Geopolítica. Contudo, aquando da colonização directa dos anos 1870-1905, (ela) esteve no centro dos primeiros debates de Geopolítica e ilustrou os elos entre conquistas territoriais, redefinições das fronteiras e relações de potências. Ela se encontra, presentemente (de anotar: aparentemente) nas margens dos reptos estratégicos do Mundo, assumindo-se (fortemente) contrastada (primeira parte: Geopolítica da marginalidade ou das emergências).

(III)
             Vale a pena, sublinhar (outrossim), que os campos económicos, sociais, políticos, culturais ou simbólicos estão (fortemente) imbricados, se autonomizando (segunda parte: os jogos de poderes e de contra-poderes). Observa-se uma rapidez das mutações e uma amplidão de desafios internos nas sociedades africanas em inter-relações com o internacional (terceira parte: Reptos e desafios internos). Enfim, a África se tornou, desde as independências um actor geopolítico das Relações Internacionais, que pretende ter voz no capítulo (quarta parte: A África e a Sociedade Internacional).

(IV)
            Donde, se pode questionar (avisadamente, outrossim): É necessário falar das Africas (visto os seus enormes contrastes), ou de uma África, tendo em vista o seu papel (reduzido), no seio da Geopolítica Internacional? Respondemos: Não! A África é una e plural.
            b) Deve-se (por outro) fazer ressaltar as situações de crises ou os períodos normais? Porém, o que é facto (aliás) é que a delimitação das fronteiras (que permite) incluir e excluir é (sempre): uma construção arbitrária.

O
                                                            O      O      O
            Com efeito, após a queda do Muro de Berlim, os olhares europeus (e até os capitais), tiveram tendência a dirigir para Leste. A África já não constitui o repto de um sobrelanço ideológico, como aconteceu durante a “guerra-fria”, o que não significa, no entanto (antes pelo contrário), o fim das rivalidades diplomáticas e das lutas de facções apoiadas por potências estrangeiras.
            De sublinhar (aliás), que a escalada das tensões e dos conflitos (é, tanto mais) relevante que os desafios económicos (que dizem respeito), mais às captações de recursos naturais (temos os exemplos do diamante ou do petróleo) e, bem assim, o controlo dos tráficos (contrabando, drogas), que conquistas de mercados. A África volta ser estratégica por razões de segurança, pelo facto dos seus recursos em matérias-primas e da sua biodiversidade. Os reptos petrolíferos e ambientais se tornaram assaz crescentes.
           
            Eis porque, no âmbito desta dinâmica, as perspectivas oscilam entre o medo e a vontade de protecção, a assunção de responsabilidade e a ingerência para evitar catástrofes e, outrossim e, ainda, até de projectos de desenvolvimento. Os males da África podem assumir efeitos de boomerang (leia-se, outrossim: arma de dois gumes), em termos de fluxos migratórios, de contágio das epidemias, de exportação da violência ou de Estados desagregados (que constituem) “santuários para os terroristas”.
Lisboa, 13 Fevereiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).