quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Epístola Vigésima Primeira:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)


            Sim, efectivamente, explosões não controladas ou fogos do mato podem se propalar à partir de algumas faíscas, na ausência de acções pro-activas ou pré-activas consoante estratégias. Uma deficiência pode relevar do desafio e do trunfo, como mostra (aliás), o exemplo das pressões demográficas nos planaltos Bamiléké ou Quenianos. Identicamente, um trunfo pode se tornar uma deficiência. Estamos a pensar, na “maldição petrolífera”, na Nigéria, no Chade, na Guiné Equatorial, em Angola, na República Democrática do Congo (RDC), que constituem um exemplo (assaz) convincente.
            De facto (sem dúvida nenhuma), o desenvolvimento consiste (como o afirma, avisadamente), o influente economista alemão, A. HIRSCHMAN (n-1915), em 1958 em “navegar por zig-zag para atingir o cabo escolhido, utilizando ventos favoráveis e contrários”. Donde, efectivamente, a questão de fundo se prende com o gerir passos de tempo dissemelhantes: Deste modo, a Política indispensável de domínio da fecundidade só terá efeitos significativos para além de três (3) lustros (aproximadamente).

(II)
            Todavia, o que é facto é que os actores que pesam (fortemente), no devir da África são (em parte) do exterior da África (Instituições Internacionais, antigas potências coloniais, firmas transnacionais, redes das diásporas…) e que actuam (fundamentalmente), dentro dos próprios países, onde exercem o seu peso hegemónico. Donde, se afigura pertinente colocar as interrogações seguintes:
            --- Haverá conversão do capital mercantil em capital produtivo?
            --- Os micros produtores tornar-se-ão pequenos empreendedores, com o desenvolvimento de uma rede de PME-PMI?


(III)
            No entanto e (sem mais delongas), temos que as Estratégias de Integração positiva na Economia Mundial supõem novas alianças (que privilegiam) o capital produtivo e investimento de risco. Isto só é possível (a curto prazo), provocando uma queda brusca das rendas, facto que constituem (frequentemente) factores de equilíbrio sociopolítico e que desoneram os “audaciosos” ou empreendedores dos constrangimentos sociais ou políticos.

(IV)
            Enfim, vale a pena, colocar ainda, mais duas questões (assaz) pertinentes. Ou seja:
(1)     Os conflitos militares constituirão factores de formação dos Estados e de recomposição dos territórios e das identidades?
(2)     A África (quedando entregue à sua própria historicidade), ou (pelo contrário) as guerras devem ser analisadas em relação com um processo de integração à uma economia especuladora e de negociata até criminosa (que desintegra) o Estado e a Cidadania?

(VI)
            Tendo em conta, tudo quanto temos expendido, no âmbito deste nosso Estudo sobre a Geopolítica da África, vamos (por uma questão metodológica e de ordem didáctico pedagógica), abordar os Cenários, que (por consenso) se consideram (actualmente), como elenco elucidativo, no plano de uma classificação, que se pretende (prenhe) de Ensinamentos.
            Eis, então (em traços significativos), os Cinco Cenários, que por sua vez, podem ser diferenciados em função destas tendências pesadas e das opções estratégicas dos Actores:
(1)    O Cenário de uma África dessincronizada do tempo Mundial: A Largada:
a.     Haveria gestação da longa duração braudeliana (parêntese da colonização e da modernização), necessidade de tempo longo para gerir os reptos que as sociedades industriais levaram séculos a dominar e a impossibilidade de inserir (positivamente), num mundo organizado fora da África.
b.    Nesta óptica, as trajectórias históricas africanas seriam caracterizadas pelas dinâmicas de povoamento, das transformações de ocupação do espaço, as reconfigurações territoriais e as modificações das fronteiras herdadas da colonização.
c.     Por outro, o cenário pode ser declinado (politicamente), sobre o modo positivo (a guerra edifica o Estado e este se recompõe), ou negativo (deixada entregue a si própria, a África (a África se entre dilacera) e os Estados se decompõem).
d.    Pode sê-lo (economicamente) sobre o modo positivo (dinamismo da economia popular, satisfação das necessidades de base, desconexão desejada, endogenização), ou negativo (desconexão) sofrida, fracasso da modernidade, economia de rapina e extorsão, caos entrópico perante dos quais, a Comunidade queda passiva.
e.     Outrossim e, ainda: A manutenção das rendas exteriores, a prevenção dos conflitos e a exportação dos recursos minerais podem ser (em parte) asseguradas pela Comunidade Internacional.
f.     Enfim, enfim: Demais, vários países petrolíferos (até mineiros) terão de gerir os esgotamentos ou extinções das rendas (daqui à menos), de uma geração. E, perante à escalada do número, a população se informaliza, vive e sobrevive, num universo de pobreza e de precariedade.
(2)    Cenário de uma África integrada (positivamente), na mundialização: A Activação ou Recuperação:
a.     A inserção da África na Economia Mundial pode se realizar (através) dos circuitos comerciais, financeiros (até, por intermédio) de uma acumulação (privatizada), realizada à base de actividades (franca e abertamente), ilícitas. (Ela) pode (identicamente) resultar das reformas liberais (internalizadas) pelos actores. A África, graças a estas novas gerações (se torna) competitiva, produtiva, democrática. A cidadania e o jogo democrático se desenvolvem. A economia é impulsionada do exterior com aceleração das exportações e da atracção de capitais e um vínculo crescente, com uma rede PME/PMI (que constituem), um tecido económico de base.
b.    Deste modo, este Cenário supõe que a África tenha voz no capítulo da Arquitectura Internacional e disponha de acesso aos financiamentos externos afectados à Progressos de produtividade. (Ele) implica a assunção de um apoio externo (designadamente) da Europa (em termos comercial e financeiro).
c.     Enfim (de anotar), que uma Economia produtiva e competitiva implica (necessariamente) a mobilização das competências nacionais e estrangeiras e a emergência de empreendedores. Isto supõe (outrossim e, sobretudo), a existência de um quadro institucional (favorável), de um Estado facilitador, de um clima de confiança e um retorno à Segurança.
d.    Finalmente (vale a pena, sublinhar), que este Cenário corre o risco (contudo) de ser discriminatório e, conduzir (ipso facto) à uma manutenção da pobreza do maior número (pelo menos), a curto e médio prazo.
(3)    O Cenário de uma África (que muda) de parceiros: As novas estivagens:
a.     E, tendo em conta as tendências (actuais) acentuadas pela crise Mundial, a África pode diversificar os seus parceiros e se fixar a novas potências emergentes (designadamente) a China. Este Cenário pode ser declinado como a manutenção de um pacto (pós-colonial) ou (pelo contrário) como uma oportunidade para beneficiar de tecnologias adaptadas, de empreendedores (em sintonia) com o meio. Pode-se (deste facto) resultar, então, uma diversificação do sistema produtivo e (identicamente), uma escalada (em série) dos produtos exportados.
(4)    O Cenário de Africas integradas (em torno), de pólos regionais: A Ancoragem regional:
a.     A Integração regional pode resultar da combinação de regionalismo transportado pelas regras e pelas instituições e regionalização aplicada pelos actores e utilizada, no âmbito dos projectos de desenvolvimento. Deste modo (e, no âmbito desta dinâmica), grandes potências regionais (tais como), a África do Sul ou a Nigéria emergiriam.
b.    E (por outro, evidentemente), reconfigurações far-se-iam (em torno) destes Pólos. As inserções à Economia Mundial serão (fortemente) diferenciadas consoante os Países e conforme as regiões.
c.     Donde e daí, Africas dualistas são (então), possíveis, entre uma África “útil” e uma África “excluída”, que corresponde a diferenciações espaciais e sociais crescentes. Este Cenário suporia (evidentemente), mecanismos de compensação das assimetrias e das forças centrípetas (indo dos centros para as periferias).
(5)    O Cenário de Africas diferenciadas: Distâncias/Afastamentos:
a.     As Trajectórias diversificadas Africanas partem das potencialidades e aptidões inerentes às dissemelhantes culturas, sociedades ou ecossistemas.
b.    Outrossim e (por outro), o processo de descentralização, a implantação de projectos oriundos dos actores (du bas) e localizados, a prioridade reservada às questões ambientais podem incrementar o carácter heterogéneo da África. Haverá (então) diferenciação crescente das Sociedades Africanas.
c.     De anotar (avisadamente), que as prioridades agro pastoris não são as mesmas para as economias nómadas dos Tuaregues, para os colheiteiros da floresta equatorial ou para os camponeses das terras altas malgaxes.
d.    Identicamente, a escolha entre a economia aberta sobre o exterior ou orientada para o mercado interior difere entre os pequenos países costeiros e os grandes países.
e.     A gestão da auto-suficiência e da segurança alimentares se coloca, em termos (radicalmente) dissemelhantes nas pequenas ilhas sobrepovoadas e nos grandes países, onde a terra é abundante.
f.     Enfim, temos ainda que:
                                                  i.    Os países do Sahel encravados e os países em guerra correm o risco de se marginalizar;
                                                 ii.    Os países agro exportador (por seu turno) conhecerão uma especialização empobrecedora, caso não diversifiquem as suas exportações;
                                                iii.    E (obviamente), os países capitalistas (mineiros ou petrolíferos) suportarão os riscos de maldição e de instabilidades se (eles) não gerem os seus rendimentos.
                                               iv.    E (assertivamente):
1.     Na verdade e, na realidade, não existe sentido da História, há (sim), histórias às quais os Homens dão sentido.

Lisboa, 23 Fevereiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).